Pochmann diz que o mundo ainda não resolveu problemas da crise

Pochmann participou do Seminário sobre "Os Possíveis desdobramentos da Crise Financeira Internacional” promovido pelo Ipea e pelas comissões de Desenvolvimento Econômico e de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados.

Na avaliação do presidente do instituto e dos outros participantes do seminário, o Brasil presenciou uma ação positiva de governo "na construção de algo maior".

Para o economista, a crise destacou o enfraquecimento das entidades de governança multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird), que não foram capazes de sobressair frente às "grandes empresas e conglomerados financeiros" em uma nova regulação do sistema financeiro.

Ações

O assessor-chefe da presidência do Ipea e diretor do grupo de estudos sobre a crise financeira mundial, Milko Matijascic, listou algumas das ações do governo brasileiro que fortaleceu o mercado interno e os investimentos públicos – o Bolsa Família e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "A fatura (a crise) ainda não está ganha", definiu Matijascic.

"A reação fiscal de todo o mundo foi muito forte. A brasileira talvez tenha sido uma das mais comedidas, com um impacto de 2% do Produto Interno Bruto (PIB), mas isso não significou negligência", destacou. Ele citou outros países que fizeram esforços fiscais mais fortes para enfrentar a crise internacional, como China (14% do PIB), Argentina (9%) e Estados Unidos (cerca de 8,5%).

Segundo Milko Matijascic, a recuperação econômica mundial "ainda merece atenção" e pode ser "enganosa", especialmente por causa da retração do mercado de trabalho nos países mais desenvolvidos. "Alguns países estão saindo de forma assimétrica, com níveis de desemprego maiores. Isso não impede que eles saiam da crise, mas pode reduzir o mercado consumidor e restringir a retomada", detalhou.

Regulação

O vice-presidente do Banco Central norte-americano de Atlanta, John Robertson, que também participou do seminário, explicou que o país desencadeou a crise porque a regulação existente não ofereceu liquidez suficiente ao sistema financeiro. Além disto, várias instituições que atuavam como bancos não eram supervisionadas e não houve um controle efetivo sobre as operações com títulos derivados do mercado imobiliário.

No Brasil, todas as operações com derivativos são registradas e são restritas ao sistema financeiro. E os bancos têm de obedecer limites rígidos para o total de empréstimos em relação ao seu capital.

O presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico, deputado Edmilson Valentim (PCdoB-RJ), elogiou a situação do Brasil no enfrentamento da crise internacional, mas alertou que o quadro geral não é satisfatório. "O Brasil, de forma geral, é visto como experiência positiva, mas não nos basta contemplar essa realidade diante das diferenças sociais enormes que temos, que vai do trabalho escravo à tecnologia de ponta, como é o caso da Petrobras", comentou.

Com Agência Câmara