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Diretor diz que filme sobre Lula é "um melodrama épico"

Questionado amplamente sobre a eventual influência do filme “Lula, o filho do Brasil” no resultado das próximo eleições, o cineasta Fábio Barreto saiu em defesa própria nesta quarta-feira (19), em entrevista coletiva à imprensa no Festival de Brasília, onde aconteceu a primeira exibição pública do longa-metragem.

“Queria fazer um melodrama épico. Essa foi a minha opção. Porque essa história não pode ser contada de outra forma. O filme tenta humanizar esse personagem [Lula]. Não procurei mostrar uma pessoa infalível ou perfeita. Tentei mostrar um ser humano com coração, sua força e fraquezas. Para mim, essas são as questões essenciais.”

O diretor, que chamou o presidente da República de “mito vivo”, disse ainda que “qualquer manifestação artítica vem acompanhada de caráter político”. E destacou que o filme relaciona a vida de Lula com os episódios históricos da época. “Mas faço questão de reforçar que a opção não é política, mas sim pelo melodrama. Queríamos mostrar as suas perdas, conquistas, fraquezas. É a história de um filho com uma mãe”, afirma, referindo-se a Dona Lindu, interpretada por Glória Pires, mãe do presidente.

Muito criticado por seus últimos filmes, Barreto revelou que se preparou muito para fazer “Lula, o filho do Brasil”. “Me preparei até ter esse filme nas minhas entranhas. Queria fazer um baita filme! Estava na hora. Me concentrei muito, fiz um trabalho de pesquisa enorme, entrevistei mais de 200 pessoas que não estavam no livro. Eu entendo hoje de movimento sindical mais do que qualquer outra pessoa no Brasil.”

Sobre a transformação do livro homônimo em roteiro, a produtora Paula Barreto afirma que os direitos do livro foram comprados em 2003, e que desde essa época vem tentando captar recursos para realizar o longa-metragem. A autora Denise Paraná falou sobre a dificuldade em fazer o roteiro. “Eram 530 páginas e eu tinha mais anotações ainda. O filme e o livro são coisa distintas. O que tentamos é ser o mais fiel possível, colocar a alma do Lula na tela.”

O episódio envolvendo Miriam Cordeiro e sua filha Lurian, resultado de uma relação extra-conjugal do presidente, não aparece no longa. De acordo com Paula, era necessária autorização de todos os envolvidos na história, e Miriam não concordou. “Então, nosso departamento jurídico vetou.”

Dona Marisa

O presidente Lula não foi à exibição do filme e disse que só vai assisti-lo no próximo dia 28, em São Bernardo do Campo, acompanhado de seus familiares e companheiros. Mas a primeira-dama Marisa Letícia esteve na sessão. “Ela me deu um abraço apertado, muito emocionada e me parabenizou. Eu tinha essa expectativa. É difícil retratar uma pessoa viva, podia ser que ela não gostasse de algo. Mas por ela eu já fui aprovado”, comemora Fábio Barreto.

A primeira-dama se sentou ao lado de Glória Pires, com quem trocou comentários durante o filme. “Ela me perguntou se o Rui [Ricardo Diaz, ator que interpreta Lula] também não tinha o dedinho. E me perguntou como fizemos para filmar. Eu expliquei que ele usava uma espécie de esparadrapo prendendo o dedo e que depois foi finalizado com efeitos especiais”, conta Glória.

Mas o encontro mais marcante talvez tenha sido o de dona Marisa com Juliana Barone, que a interpreta no filme. “Para mim foi muito emocionante, porque estudei a vida dela a fundo. Foi um dos grandes encontros da minha vida”, contou a atriz.

Depois da sessão, dona Marisa convidou a equipe do filme para um drinque com o presidente.

Repercussões

O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, confessou ter chorado em alguns momentos do filme, especialmente nos trechos que retratam Lula à frente do movimento sindical.

“Acho que [o filme] vai apaixonar a população. Ele conta a história do povo brasileiro. Chorei muito quando vi pela primeira vez e chorei muito também na segunda”, confessou Padilha, que contou já ter assistido uma versão do filme quando ainda estava em fase de pós-produção.
Eleições

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, comentou declarações de que o filme seria eleitoreiro. “A oposição não precisa ficar brava. Pode fazer um filme. De repente fazem um sobre o César Maia (ex-prefeito do Rio de Janeiro pelo DEM) e Rodrigo Maia (presidente do DEM). Podia se chamar ‘Os Maias’”, brincou o ministro, fazendo referência a uma obra literária do escritor português Eça de Queiroz.

Paulo Bernardo disse ainda que o filme pode ter algum efeito sobre a popularidade do presidente Lula, mas que não afetaria as eleições presidenciais de 2010. “De repente Lula ganha uns 10% de popularidade”, especulou.

Segundo ele, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, não vai se beneficiar diretamente pelo apelo emocional proporcionado pelo filme. “Dilma vai ganhar é por causa do governo. Pessoas vão se perguntar se querem mudar ou continuar. Vão querer continuar”, afirmou.

Nem todos os presentes, contudo, mostraram entusiasmo pelo filme, O presidente do PT, Ricardo Berzoini, disse não ter se encantado. “Emociona, mas não chega a tocar mesmo. Achei a narrativa linear”. Ele disse que se emocionou por conhecer Lula de perto e ter vivenciado a relação que ele tinha com a mãe, que é retratada com ênfase no filme. “Dá emoção porque vivi com o Lula e o PT na CUT e no governo, e também conheci a relação dele com a mãe”.

O ministro da Educação, Fernando Haddad, se limitou a dizer que achou “bom” e apenas sorriu quando questionado se teria se emocionado.

Já o deputado Flávio Dino (PCdoB-MA) defendeu que o final do filme, que não chega a falar da trajetória política de Lula nem da criação do Partido dos Trabalhadores (PT), afasta “qualquer conotação eleitoreira”. Ele admitiu ter chorado “um pouquinho” no filme, especialmente na cena em que Lula aparece com a família no nordeste.

Lançamento

“Lula, o filho do Brasil” terá o maior lançamento de uma produção brasileira desde a chamada "retomada" do cinema nacional. Segundo Paula Barreto, deve chegar a no mínimo 500 salas de cinema. “Estamos começando a trabalhar também a distribuição internacional. Na Argentina, já está praticamente fechado, deve estrear em março. E, na sequência, vamos tentar lançar nos outros países da América do Sul.”

A produtora conta que o filme também foi enviado para o Festival de Berlim e que está aguardando convite para uma exibição lá, mas fora de competição.

A cinebiografia do presidente da República pode ainda virar minissérie na TV. “O primeiro corte do filme tinha três horas, ou seja, temos muito material inédito. Estamos conversando ainda sobre isso, mas sempre quisemos fazer essa minissérie.”

Fonte: G1