Ahmadinejad quer energia nuclear e futebolistas brasileiros

Uma semana antes de visitar ao Brasil, o presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, foi entrevistado pela Rede Globo, em Teerã, por meio de seu repórter William Waack, um dos pitbulls da mídia corporativa brasileira. Sem deixar interrogações, Ahmadinejad não tergiversa a nenhuma pergunta e faz Waack tentar explicar aos telespectadores suas próprias insinuações.

Waack dispara todos os torpedos midiáticos que já são bem conhecidos dos brasileiros contra o presidente iraniano, fazendo comentários sobre a suposta "má intenção" do programa nuclear do país e a suposta negação do holocausto por parte do presidente iraniano.

Tais torpedos são facilmente desativados por Ahmadinejad, que retruca as insinuações do pitbull global a ponto de este comentar, na pergunta sobre o holocausto, que Ahmadinejad "alterou um pouco" a resposta que costumava dar sobre o tema.

Em relação à energia nuclear, Ahmadinejad expõe que o programa nuclear do país está sob supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica, e que não há mais a negociar sobre o programa, justamente por a AIEA ter conhecimento completo do que o Irã faz no setor.

Waack omite do conhecimento público que a tal história de negar o holocausto foi uma interpretação maldosa do que o presidente Ahmadinejad teria dito há dois anos em um discurso no Irã. Recentemente, em entrevista à Newsweek, o iraniano também deu a mesma resposta sobre tal questão.

Afinal de contas, é muito mais fácil manipular respostas em persa que em inglês, já que nem todos os brasileiros são versados em persa. Cabe notar que a Globo exibiu apenas alguns trechos da entrevista.

Há alguns dias a Rede Record destroçou uma entrevista cuja versão foi manipulada pelo repórter —ou pelos seus editores — Cesar Tralli sobre investigação da suposta lavagem de dinheiro realizada nos EUA pela Igreja Universal do Reino de Deus. É necessário então um pouco de cautela com a tradução dada pela emissora às respostas de Ahmadinejad.

Resta agora que disponibilizem a versão integral, em persa, das respostas de Ahmadinejad, para que saibamos, realmente, o que Ahmadinejad respondeu a Waack, sem as interpretações e conclusões do sujeito que foi à ex-URSS, à mando da veja, para cavar a história do "Ouro de Moscou" e que voltou de lá com as mãos abanando.

No fim, Ahmadinejad ainda fala de uma das 'cooperações' mais desejadas pelos iranianos, que é a de contar em seus times de futebol com jogadores brasileiros que, diz ele, são muito adorados no país. "Esta é uma área na qual deveriamos fortalecer a cooperação", supostamente disse Ahmadinejad.

Humberto Alencar,
de São Paulo