Câmara debate violência doméstica e lança programa para mulheres

Suelen, 23 anos, assassinada a golpes de cacetete. Simone, 28, estava grávida quando foi morta a tiros. Os casos fazem parte das estatísticas de mulheres assassinadas no Ceará nos últimos anos.

Audiência sobre violência contra mulher

Só este ano, já somam 119, segundo números da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Audiência pública realizada nesta sexta-feira (27/11), na Câmara Municipal, promoveu uma ampla reflexão sobre o tema. Cerca de 150 pessoas ocuparam o auditório da Câmara Municipal de Fortaleza (CMF).

O evento fez alusão ao dia 25 de novembro, Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher. Em destaque, não só os avanços alcançados para coibir a violência, mas os questionamentos e desafios que estão postos atualmente.

“Tenho me perguntado onde estão os agressores e temos que fazer essa pergunta a nossas autoridades. Esta é minha maior angústia como mulher e parlamentar. Enquanto houver impunidade, não vamos ter uma sociedade igualitária”, desabafou a vereadora Eliana Gomes (PCdoB), propositora da audiência.

A resposta veio da coordenadora de Políticas Públicas para as Mulheres, Raquel Viana: “estão soltos, mesmo com o vigor da lei Maria da Penha”. Para a coordenadora, embora haja equipamentos de atendimento a mulheres em situação de violência, elas é que acabam sendo as prisioneiras, uma vez que precisam deixar sua rotina em busca de se proteger do agressor. “O atendimento tem de ser feito no sentido de construir a autonomia das mulheres.”

Como encaminhamentos, Eliana anunciou audiências com o secretário da Segurança Pública, Roberto Monteiro, como o governador do Estado, Cid Gomes, e com a prefeita Luizianne Lins para discutir o assunto.

Mulher no Parlamento

A audiência também foi espaço para o lançamento do programa Mulher no Parlamento. De autoria da vereadora Eliana Gomes (PCdoB), o programa dispõe sobre medidas de incentivo à participação da mulher na atividade política e legislativa.

As ações do programa, segundo Eliana, vão começar a ser desenvolvidas a partir de 2010. “O próximo ano é ano de eleições e precisamos formar mulheres. É importante que elas estejam nos espaços de decisão política, levando nossas demandas para os parlamentos.”

Dentre as finalidades do programa, estão promover ações de conscientização de mulheres para a importância da participação na atividade político-legislativa, produzir e distribuir material informativo abordando os meios de participação e incentivar as mulheres já filiadas a partidos a concorrerem a cargos eletivos.

Lei Maria da Penha

A promotora de Justiça da Mulher, Fernanda Marinho, disse hoje que vai acionar diversos organismos internacionais, como a Organizações das Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA), por conta da tentativa de tornar sem efeito a Lei Maria da Penha. Segundo ela, esta é uma das estratégias de um grupo de mulheres formado para defender a lei.

De acordo com a promotora, o Brasil é signatário de convenções internacionais que dispõem sobre o combate à violência contra a mulher, como a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, conhecida como Convenção de Belém do Pará, ratificada pelo Brasil em 1995. “A violência contra a mulher não é tratada com respeito.”

A Lei 11.340, de 2006, que homenageia a farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, está ameaçada pelo projeto de lei que cria o novo Código de Processo Penal. Segundo Fernanda, se o projeto for aprovado no Congresso, os crimes de violência contra a mulher deixam de ser graves, voltando a ser crimes de menor potencial ofensivo. “Antes eu lutava contra a violência doméstica. Agora eu me vejo lutando a favor da lei.”
Na audiência ainda foram apresentadas ações que a Frente Parlamentar dos Direito da Mulher, da Criança e do Adolescente desenvolveu ao longo de nove meses.

Fonte: Site da CMF com edição da assessoria de imprensa da vereadora Eliana Gomes