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Meirelles: problema em Dubai é alerta contra otimismo exagerado

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse que os bancos brasileiros não estão expostos aos problemas de dívida de Dubai, mas usou o episódio para fazer um novo alerta sobre o excesso de euforia.

Segundo ele, a questão de Dubai mostra que a economia mundial está se recuperando, mas que ainda existem incertezas e novos contratempos podem ocorrer. O Brasil, no entanto, pode superá-los e o BC continuará acumulando reservas para garantir a força do país. "Os bancos brasileiros não estão expostos a este fundo ou a este tipo de problema, inclusive pelas próprias restrições da regulação brasileira", disse Meirelles a jornalistas após palestra em São Paulo, referindo-se aos estatais Dubai World e Nakheel.

Dubai informou na quarta-feira que quer que credores desses conglomerados esperem o pagamento de dívida, em um primeiro passo para uma reestruturação. Do lado macroeconômico, o crescimento brasileiro está ancorado no aumento da renda, do emprego e do crédito doméstico, o que o torna menos vulnerável à instabilidade externa, acrescentou Meirelles.

Ele ressaltou, no entanto, que a crise financeira mundial ainda não foi totalmente superada e que novas situações como essa podem ocorrer, mas não na mesma escala da turbulência gerada pelo setor imobiliário americano. "A recuperação global está ocorrendo, mas é lenta, dolorosa e sujeita a incertezas e é isto que está acontecendo. Essa é uma das razões pelas quais temos alertado contra o excesso de euforia", acrescentou.

O presidente do BC destacou, por outro lado, que as autoridades americanas e europeias, que têm mais exposição a investimentos em Dubai, estão mostrando tranquilidade. Além disso, os bancos internacionais possuem as ferramentas para enfrentar a situação, conforme mostraram os testes de estresse feitos pelo BC dos Estados Unidos neste ano para determinar as necessidades de capitalização das instituições.

No Brasil, Meirelles disse que o Banco Central manterá sua política de acúmulo de reservas internacionais devido à continuidade das incertezas pós-crise. Meirelles também foi questionado sobre o comentário feito nesta semana pelo diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, de que a autoridade deveria participar da supervisão dos fundos de investimento.

O presidente do BC respondeu que "isso é algo que será objeto de grande discussão entre o BC e a CVM no mundo inteiro, porque é importante avançarmos na integração de informações… como a crise nos mostrou."

Meirelles também advertiu que, apesar do momento de sucesso pelo qual o país passa, é preciso que os empresários brasileiros se prepararem para os desafios que vêm pela frente.Segundo ele, os empresários estrangeiros mostram euforia em investir no Brasil, mas para atender essa demanda o empresariado brasileiro tem que dispor de mão-de-obra qualificada.

"A próxima década será de investimentos no Brasil e o empresariado tem que se preparar para a competitividade internacional e para o negócio do futuro que será a exportação de commodities. Mesmo com alguns problemas, o empresariado está otimista porque o mundo todo quer vir para o Brasil e esses empresários já estão aqui", afirmou.

Em palestra para empresários no 32º Prêmio dos Líderes Empresariais, do Fórum de Líderes Empresariais, Meirelles disse que preocupa o Brasil ter crescido rapidamente e também ter se recuperado rápido da crise econômica.

"O governo tem que se preocupar em oferecer recursos e insumos aos empresários para manter o crescimento sustentável. De todos os países do mundo, o Brasil, assim como a China, é o que está sendo visto como o mais promissor", disse.

Sobre a moratória anunciada pelo governo de Dubai para pagamento de dívidas do fundo de investimentos Dubai World, o presidente do Banco Central evitou fazer análises e disse que prefere esperar até a próxima semana para emitir opinião.

FMI

O Fundo Monetário Internacional (FMI) saudou a intervenção do Banco Central dos Emirados Árabes para aumentar a liquidez numa reação à crise da dívida de Dubai. "Os Emirados Árabes Unidos (EAU) são uma economia fundada em fortes recursos e saudamos o anúncio pelo Banco Central dos EAU colocando à disposição dos bancos uma liquidez especial suplementar", diz o comunicado.

O BC dos Emirados, com sede em Abu Dhabi, anunciou que coloca liquidez adicional à disposição dos bancos locais e estrangeiros e afirmou que o sistema bancário do país é sólido. Em um comunicado divulgado após um silêncio de três dias por parte das autoridades, o BC disse que "respalda os bancos árabes e as filiais dos bancos estrangeiros que operam no país".

O Banco Central afirmou ainda que "o sistema bancário árabe é mais sólido que há um ano e dispõe de maior liquidez", em uma referência à crise financeira internacional que teve início no fim de 2008.

Com agências