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PC Grego: "Os terroristas da Colômbia são os imperialistas"

Venho de um país onde o movimento popular tem sofrido perseguições, prisões, assassinatos, execuções. Enfrentou a intervenção armada do imperialismo inglês e norte-americano, guerra civil, refugiados políticos e clandestinidade por anos. Não é de estranhar, então, que, apesar da distância que separa nossos países, na Grécia exista muita sensibilidade com o movimento de solidariedade à Colômbia.

Por Babis Angourakis*, no Encontro Internacional pelo Acordo Humanitário e a Paz na Colômbia

Gostaria, de início, de expressar nossa solidariedade com todas as forças populares da Colômbia que lutam em condições muito difíceis contra o regime uribista, que tem o apoio do imperialismo, tanto dos Estados Unidos como da União Europeia.

O papel da Colômbia na estratégia imperialista

O Partido Comunista Grego se interessa ativamente pelos acontecimentos no país de vocês e na região. Compreendemos a região. A condição para que a Colômbia jogue exitosamente este papel no âmbito da estratégia imperialista é reprimir o movimento popular.

Por isso o Estado colombiano é protagonista, no plano mundial, de assassinatos de políticos, sindicalistas, quadros do movimento popular, em declaração de estado de emergência, como aconteceu ano passado, com perseguições e ameaças contra os combatentes, incluindo o próprio secretário-geral do PC Colombiano, o camarada Jaime Caycedo.

O imperialismo e o regime utilizam os grupos paramilitares, espalhando o terror e a violência entre as pessoas, para proteger o domínio da oligarquia.

A posição da União Europeia

O caráter imperialista da União Europeia se expressa também nas suas relações com a América Latina e no documento da estratégia regional 2007-2013. Os assuntos políticos estão em una posição muito elevada na sua agenda: a campanha pela suposta "luta contra o terrorismo" e chamada luta contra as drogas, as questões da "democracia e dos direitos humanos ", a promoção do Plano Puebla-Panamá, a infiltração através da chamada "sociedade civil", etc.

Nesta oportunidade, gostaria de sublinhar a importância que o nosso partido dá para a iniciativa que foi expressa por 22 partidos comunistas de países-membros da União Européia, em maio 2008, na ocasião da 5ª Cúpula União Europeia-América Latina e Caribe.

No comunicado que saiu deste evento, se menciona que "a UE tem como objetivo 'abrir' as economias destes países para explorá-los. Demanda a privatização de unidades de produção estatais e de seus recursos naturais, até da água, a favor do capital monopolista. É uma ilusão considerar que a UE é o contrapeso dos Estados Unidos em benefício dos povos. Pelo contrário, a UE tem os mesmos objetivos imperialistas e neo-coloniais".

Um aspecto essencial da política da UE para a América Latina é o suporte às oligarquias internas contra os movimentos populares. Igual é a atitude da União Europeia em relação à Colômbia. Exemplares foram as posições, em janeiro de 2008, do Alto Comissariado da UE para Política Externa Comum.

A inclusão das Farc e do ELN da lista de organizações terroristas da UE coincidiu com o endurecimento da repressão no interior da Colômbia, e tem servido à aspiração de bloquear o processo de negociação e troca de prisioneiros.

EUA e União Européia são cúmplices

Os Estados Unidos e a UE apóiam conjuntamente a campanha de difamação, tentando transmitir que, na Colômbia, de um lado, estão os terroristas e, do outro, o governo se esforçando para enfrentá-los. Depois de incluir as Farc e a ELN na lista de organizações terroristas, tentam golpear o movimento de solidariedade, para isolar as forças populares da Colômbia, utilizando as leis antiterroristas da UE.

As informações que supostamente foram encontradas nos famosos computadores de Raúl Reyes, assassinado durante a invasão aventureira do exército colombiano em território do Equador, são o argumento para estender a caças às bruxas também à Europa, para além das fronteiras da Colômbia, em um ataque geral pela criminalização dos movimentos.

Recordemos a captura, na Espanha, em julho de 2008, da lutadora Remedios García à Human Rights Watch. Assim estão claros quais são os reais objetivos da campanha antiterrorista dos EUA e da UE. Inclusive, a UE, cada vez mais, inclui no terrorismo o radicalismo, ou seja, todos aqueles que questionam a situação existente e tentar mudá-la.

Nesse sentido, há a grande mídia e alguns jornalistas e ONGs que fazem um esforço para inverter a realidade. Apresentam o conflito armado como a causa da limitação das liberdades democráticas e da repressão ao movimento popular na Colômbia e não o inverso. Em nossa opinião, esta ideia torna a situação mais fácil para o regime.

Na União Europeia há forças do establishment que pressionam para condenar e rechaçar a luta armada em geral. Isso não tem qa ver só com a Colômbia, mas com o direito dos povos à resistência armada contra a ocupação, à resistência a regimes ditatoriais e autoritários. Na verdade, pedem a aceitação da legalidade e do domínio imperialistas e a renúncia por parte do movimento popular à luta pela sua derrubada.

Nós respondemos que os terroristas são os imperialistas, não os povos e seus movimentos.

A natureza do conflito e da solução justa

Assim vemos o conteúdo da luta: de um lado, está o regime colombiano e o imperialismo e, do outro, o movimento popular que trava uma luta justa por todos os meios e formas. O conflito é político, econômico e social. Por isso o esforço do regime para fornecer uma solução militar conduz a uma rua sem saída.

Somos contra o Plano Colômbia, a política de Segurança Democrática e a presença militar norte-americana no país. Condenamos as perseguições, as ameaças contra o movimento popular, a existência de milhares de presos políticos, a criminalização do PC e de seus aliados.

Exigimos que parem qualquer perseguição, que ofereçam todas as garantias para a vida dos combatentes do movimento popular, que dissolvam as organizações paramilitares, que libertem os presos políticos e reabilitem os refugiados.

Somos solidários com a luta do povo colombiano pela justiça social. Apoiamos a luta por uma nova Colômbia, onde a soberania e a vontade populares serão respeitadas, sem fome, com trabalho, habitação, saúde e educação para todos. Por uma Colômbia em que o povo irá gerir e desfrutar da riqueza do seu país.

Apoiamos os esforços para uma solução negociada ao conflito armado. Sublinhamos que a solução política não pode de forma alguma levar a uma rendição ao regime, como alguns interpretam a negociação.

A solução política tem como condição reconhecer como forças beligerante as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo e o Exército de Libertação Nacional. Tirá-los da lista da UE de organizações terroristas. Que se encerre qualquer interferência dos EUA nos assuntos internos da Colômbia.

A solução política tem como condição a negociação, a não-extradição de prisioneiros para os Estados Unidos, que regressem à Colômbia todos os que estão presos lá. Que se descriminalize a vida e a ação social, que penalizem os que cometeram crimes políticos no exército e na policía, que acabe a ajuda e o apoio às organizações paramilitares.

O intercâmbio humanitário, que não avança por culpa do regime, poderia ser um passo importante para o início do processo.

É longa a lista de intervenções feitas pro eurodeputados do Partido Comunista da Grécia no Parlamento Europeu todos esses anos: contra os assassinatos de sindicalistas, pelos refugiados, contra a extradição de Simón Trinidad e as condições sub-humanas de sua prisão, contra a perseguição política de deputados, senadores, líderes sindicais, jornalistas e outros lutadores. Temos apoiado e continuamos a apoiar as atividades do movimento de solidariedade no plano nacional e europeu.

Seguiremos apoiando e intensificando nossa solidariedade com as forças populares da Colômbia e do movimento de solidariedade com todas as nossas possibilidades, através de perguntas, visitas de delegações das forças populares de seu país ao Parlamento Europeu e a nossos países, do apoio político a iniciativas de solidariedade e informação a nível bilateral e multilateral.

Muito obrigado.

*Babis Angourakis é eurodeputado do Partido Comunista Grego.