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Análise: País suporta expansão de 6% em 2010

A pesar da forte aceleração do nível de atividade – a expectativa é de que o Produto Interno Bruto (PIB) na virada do ano esteja com uma taxa anualizada de crescimento da ordem de 10% – não está claro, para a área econômica do governo, que o aumento da taxa básica de juros em 2010 seja inexorável.

Por Claudia Safatle, no jornal Valor Econômico

Não há, no momento, qualquer indício de aumento da inflação no próximo ano que justifique a retomada do aperto monetário, principalmente depois que os dados começaram a indicar uma importante reação dos investimentos privados. Um eventual aumento dos juros será para controlar as expectativas de inflação de 2011.

O “hiato” do produto, dado pela diferença entre o PIB efetivo e o PIB potencial, ainda é relevante e só se vislumbra a ocupação da capacidade ociosa no fim do primeiro trimestre de 2010. Isso posterga o debate sobre a necessidade de se elevar ou não os juros para meados do primeiro semestre do ano que vem.

Tanto no Ministério da Fazenda quanto no Banco Central, os olhos já se voltam para 2011, pois qualquer decisão sobre taxa de juros (Selic) só deve ser considerada a partir de abril. Dada a defasagem, estimada em uns nove meses, para que o aumento dos juros básicos produza efeitos sobre a demanda agregada, o Comitê de Política Monetária, se elevar a taxa Selic no próximo ano, estará mirando a inflação de 2011.

O crescimento do PIB no terceiro trimestre deste ano – que será divulgado na próxima semana – deve superar 2%, acima, portanto, do 1,9% registrado no segundo trimestre. Vigor semelhante se repetirá no último trimestre do ano, transferindo para 2010 um crescimento entre 2% e 2,5% (”carry-over”).

Há um certo consenso entre os técnicos do governo, porém, de que o PIB naturalmente se acomodará em uma taxa de crescimento mais moderada, algo entre 5% e 6% no próximo ano, mesmo sem a elevação dos juros básicos. Acredita-se que assim como houve um exagero (nas palavras de uma fonte, um “undershooting”) nas previsões de queda do PIB logo após a crise global de setembro de 2008 – a retração de 3,6% no quarto trimestre, anualizada, apontava para uma queda de 13,6% no PIB deste ano – está ocorrendo, agora, um excesso (ou, como disse a fonte, um “overshooting”) na retomada do crescimento, que não se sustentará.

O receio de uma recessão cavalar em 2009, lembram esses técnicos, se transformou em crescimento (entre 0,5% e 1%). O PIB, sustentam autoridades do governo, passará por uma desaceleração natural depois do “boom” de Natal e levará a um crescimento mais moderado em 2010, até porque a base de comparação será favorável a isso. Encerrado 2009, o produto trimestral deverá voltar para a faixa de 1% a 1,5%, estimam os técnicos.

Avalia-se, assim, que o desempenho da atividade econômica do próximo ano – que pode ser o melhor dos oito anos de governo Lula – não comprometerá o cumprimento da meta de inflação de 4,5%. O país, segundo essas fontes, suporta um ano de taxa de crescimento acima do PIB “potencial” (que ronda a casa dos 4,5%). Não conseguiria, contudo, repetir esse desempenho por dois anos ou mais sem provocar inflação.

Razão pela qual as preocupações são com 2011, o primeiro ano de um novo governo que se elegerá embalado pelos ventos da prosperidade patrocinados por Lula. Aliás, a campanha sucessória é outro elemento fundamental para determinar as expectativas de inflação de 2011 e, portanto, se e de quanto será o aumento da Selic.

Autoridades da área econômica argumentam que conforme o candidato que estiver liderando as pesquisas eleitorais em meados do ano que vem, e conforme o discurso desse candidato a respeito de questões cruciais como juros e câmbio, as expectativas de variação do IPCA para o ano seguinte serão maiores ou menores.

Com o PIB efetivo crescendo acima do potencial há vários meses, a expectativa que se forma junto aos analistas econômicos é de que já estaria na hora de começar a retornar a uma taxa de juros neutra, entendida como a taxa capaz de equilibrar a demanda e a oferta. É quase impossível alguém estabelecer com segurança qual é essa taxa. Há economistas que a calculam em 7,5% ou 8%, o que indicaria juros nominais da ordem de 12% ao ano para conter a inflação na meta, diante de uma Selic, atualmente, de 8,75% .

Fontes do Banco Central apontam para um percentual ligeiramente mais baixo, algo mais próximo a 7%, como taxa neutra. A única coisa que parece clara tanto para os analistas privados quanto para a autoridade monetária, dessa forma, é que os juros reais de equilíbrio não são os 4% que vigoram hoje. A Selic de 8,75% ao ano, portanto, representa uma política monetária expansionista que, combinada com a política fiscal também expansionista, está produzindo crescimento acelerado.

Inútil será esperar uma ação fiscal mais rigorosa do governo em 2010, para atenuar as eventuais pressões sobre a política monetária. Não é da natureza dos governos cortar gastos em anos eleitorais.

Claudia Safatle é diretora de redação adjunta e escreve às sextas-feiras

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