Teresinha Braga: mulher, militante, médica e mãe

Eleita vice-presidente do PCdoB no Ceará, a médica Teresinha Braga Monte tem uma trajetória de atuação nos movimentos sociais em defesa de uma saúde de qualidade para todos e por uma sociedade mais justa. Em entrevista exclusiva para o Vermelho/CE na tarde desta segunda-feira (7), Teresinha falou sobre Medicina, família, mulheres e militância.

Teresinha Braga

Mulher, militante, médica e mãe. Estas palavras definem Teresinha Braga Monte. Sua trajetória de atuação junto aos movimentos sociais iniciou-se ainda nos tempos de faculdade. “Naquele tempo, no início da década de 70, aglutinar jovens na faculdade só se fosse em torno dos Jogos Universitários. Eu praticava Vôlei desde antes de entrar no curso. Os encontros científicos também eram formas de a gente se articular naquele tempo”, relembra.

Foi ainda cursando Medicina na Universidade Federal do Ceará (UFC), que Teresinha despertou para a mobilização em torno dos problemas do curso. “Como a representação estudantil também mexe com a questão social, acho que foi naquele tempo que me envolvi com essas questões maiores. Em princípio, lutava por melhores condições de ensino, depois por um atendimento de qualidade para todos”, recorda. Teresinha se engajou como estudante de Medicina e depois, já como médica, continuou atuando junto ao movimento de saúde popular. “A gente atendia as pessoas nos bairros que tinham movimento organizado de moradores. Pirambu, Bela Vista e Papicu foram locais onde atuamos”.

Ao concluir o curso de Medicina em 1978, Teresinha passou a fazer parte do Movimento dos Médicos Residentes. Em 1980, foi eleita presidente da Associação Cearense de Médicos Residentes (ACEMER). “Além dos assuntos relativos à saúde, a Associação também participava de outros movimentos importantes na época como a luta em defesa da Anistia e contra a seca”, enumera. Da associação dos residentes, entrar no Sindicato dos Médicos aconteceu naturalmente. “Faço parte do Sindicato dos Médicos desde 1981. Apenas durante uma gestão, fiquei fora das atuações na diretoria e por duas vezes, exerci o cargo de presidente da entidade”.

A filiação no PCdoB

Teresinha conheceu as propostas do PCdoB através da convivência com colegas do curso de Medicina. “Conversava muito com pessoas envolvidas com as atividades do Partido. Foi nesta época que começamos a participar de passeatas, greves e atos públicos”, relembra. “O PCdoB me mostrou que sempre teve atuação concreta na luta em defesa de justiça social e por melhores condições de vida. Então, em fevereiro de 1980, me filiei ao Partido”.

No começo, Teresinha atuou na base dos médicos mas, aos poucos, foi se envolvendo com o movimento popular. “O Partido me encaminhou para outras bases, mas sempre no caminho da saúde. No Sindicato dos Metalúrgicos, por exemplo, atuei como médica”.

Atuação na Medicina

 Mesmo comprometida com atividades nos sindicatos, nos movimentos sociais e no PCdoB, Teresinha sempre conciliou sua rotina com o exercício da profissão. “Era uma forma de manter o vínculo com a Medicina e com os colegas”, avalia. Atuando sempre no setor público, Teresinha trabalhou em postos de saúde de Fortaleza, em Pacajus e voltou à capital cearense. “Aqui trabalhei na atenção primária na Febemce (a extinta Fundação do Bem Estar do Menor), no Abrigo de Idosos e, desde 1989, no Hospital São José, onde trabalho com pacientes com doenças infecciosas”.

Em defesa das mulheres e da paz mundial

Mesmo seguindo o ramo da Medicina, Teresinha Braga teve seu caminho voltado também para a defesa dos direitos das mulheres. “O PCdoB sempre foi um partido de visão ampla e sensível à questão do direito das mulheres. Durante um tempo, dirigi o movimento de mulheres da legenda, pois consideramos muito importante que o segmento também faça parte ativamente e esteja representado em todos os níveis da sociedade, inclusive na política”, enfatiza.

Segundo a médica, esta deve ser uma visão coletiva e não restrita às mulheres. “Sempre buscamos inserir a defesa dos direitos da mulher numa ação conjunta, e não uma ação isolada. Considero que, neste viés, o PCdoB deu grandes saltos”.

Além de defender as mulheres, Teresinha Braga também atua no Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz). “Conheci o trabalho do Cebrapaz em 2004, quando participei do Fórum Social Mundial. Devido à abrangência da luta pela paz, me interessei pelas ideias. O PCdoB, por ter atuação diversificada, motivou a organização da entidade no Ceará”.

Segundo Teresinha, hoje o Cebrapaz-CE tornou-se uma importante frente de luta na defesa da paz mundial. “Não foi fácil implantar o Cebrapaz aqui porque ele faz parte da luta de ideias. É preciso ter paciência para conquistar pessoas que acreditem e façam parte do movimento”. Apesar das dificuldades, diz Teresinha, muitas ações importantes já foram realizadas pelo núcleo. “Conseguimos aglutinar pessoas mas ainda precisamos avançar mais nas nossas ações”, avalia.

Vice-Presidente do PCdoB/CE

Apesar de fazer parte da direção do Partido há anos, Teresinha considera um novo desafio cumprir o papel de vice-presidente do PCdoB no Ceará. “É uma grande responsabilidade representar as mulheres neste cargo. Esta será mais uma grande tarefa que irei desempenhar. Só topei porque sei que não estou sozinha nesta luta. Tenho o apoio de muita gente”.

Segundo Teresinha, o cargo demanda atividades que ainda não haviam sido cumpridas por mulheres. “Além de representar as mulheres e o Partido em muitas ações, nós temos o papel também de aglutinar forças para o crescimento da legenda no estado. Vou procurar cumprir bem esta tarefa que me confiaram”, espera.

Teresinha informa que desde o 11º Congresso do PCdoB, todas as estâncias do Partido deveriam contar com a cota 30% específica para mulheres. “Desde então, temos cumprido bem esta determinação tanto nas direções quanto nos cargos eletivos. A eleição de Luciana Santos (ex-prefeita de Olinda/PE e atual Secretária Estadual de Ciência e Tecnologia de Pernambuco), vice-presidente do nacional do Partido, mostra que temos esta preocupação com as mulheres”, ratifica.

Conjuntura política no Ceará

Para Teresinha, a análise da participação do PCdoB na conjuntura política local é positiva. “Apoiamos o Governo de Cid Gomes e, pela primeira vez, o Partido ocupa uma secretaria de estado. João Ananias tem desempenhado bem suas ações na condução da Secretaria de Saúde. Desta forma, o PCdoB mostra abertura e independência nas nossas posições e ideias”, considera.

Mulher e mãe

Casada com o Senador Inácio Arruda (PCdoB/CE), Teresinha afirma que a vida corrida dele também não interfere na relação. “Somos parceiros e compreendemos a importância das nossas atividades”. O casal se conheceu em 1981, quando ela participava de um congresso sobre medicina comunitária e ele já atuava no movimento popular. “Estamos juntos deste então”, revela.

Sobre como conciliar diversas tarefas, Teresinha sorri e responde. “Esta é uma concepção de vida. Acredito que minha atividade profissional se soma ao que faço como pessoa, não está dissociado. Em cada canto que estou, levo um pouco de mim”. Mãe de três filhos, Nara (18); Vitor (16) e Clara (14), Teresinha ratifica a importância da maternidade. “Meus filhos foram criados dentro deste contexto. Além disso, eu tive que aprender a combinar tantas atuações de médica e militante com a função de ser mãe. Acho que tem dado certo”, avalia.

O sonho de dias melhores está na definição que fez de si própria. “Sou uma mulher normal, comunista que trabalha e tem família. Amo meus filhos e a relação com meu marido não atrapalha nossos ideais. Sonho com conquistas para todos e com uma sociedade mais justa. Espero realizar esses sonhos”, finaliza.

De Fortaleza,
Carolina Campos