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Grupos corporativos exercem pressão em Copenhague

Um acordo climático mundial – bem feito ou não – se traduzirá em regras e impostos sobre os setores produtivos. Preocupados com as consequências para seu desempenho, associações corporativas fazem seu lobby em Copenhague.

Por Neuza Árbocz, para a Envolverde

O Observatório Corporativo Europeu (Corporate Europe Observatory – CEO) listou alguns dos maiores grupos corporativos que pressionam os governos na COP15. Segundo o CEO, muitos deles recusam metas mais apertadas de redução, buscam mais facilidades para compensar suas emissões e querem créditos para tecnologias controversas como a nuclear e o armazenamento de CO2 no sub-solo.

Em sua lista, há 19 entidades mundiais, 4 dos EUA, 4 da UE e 4 das demais regiões, incluindo uma brasileira: a "Aliança Brasileira pelo Clima". Esta reúne 14 organizações do Brasil, representantes do agrobusiness e dos setores de bioenergia e de papel. Entre elas a Unica – União da Indústria de Cana-de-açúcar, acusada pelo Observatório, em sua lista, de espalhar informações distorcidas para convencer a União Européia a compensar emissões investindo na monocultura brasileira.

Esta é uma questão antiga, onde se debate as consequências deste tipo de plantio no País. No caso da cana, os produtores, para ganhar mercado externo, se defendem argumentando que o cultivo é feito em área já há muito desmatada e comprometendo-se com o fim das queimadas e com melhorias trabalhistas para a mão de obra utilizada. Ja a monocultura de eucalipto e pinus para celulose compensa suas atividades com a proteção e recuperação de áreas nativas, melhorias na taxa de crescimento das espécies plantadas para conter a expansão da área cultivada e execução de projetos sociais.

Entre as mundiais, consta a IATA – Associação Internacional do Transporte Aéreo, que luta para o setor ser poupado de metas rigorosas de redução de emissões e propõe uma diminuição voluntária, muito inferior, contudo, à exigida para outras indústrias. Além dela, também estão na lista a Associação Mundial do Aço que defende metas mundiais por setores produtivos e não para países, especificamente, e a Associação Mundial Nuclear que espera construir de 400 a 700 novos reatores nos próximos 20 anos.

A realidade é que a demanda por energia e produtos como açúcar, etanol e papel é crescente no mundo todo. Assim como para eletrônicos, vôos, viagens, lazer e conforto em geral. Se há mais demanda, haverá mais produção e um mercado pautado pela competição ainda dificulta a visão sistêmica, capaz de enxergar de fato todas as consequências dos modos de produção atuais.

Enquanto uma parte do mundo já está consciente da necessidade de reduzirmos o consumo e simplificarmos nosso dia-a-dia (e busca caminhos para isto), outra parte ainda vive como se não houvesse crise alguma à vista. Neste quadro, cabe aos governantes a difícil tarefa de encontrar soluções viáveis, evitando conflitos extremos.

O tempo é o elemento mais desafiador neste quadro, pois até mesmo a busca pelas mudanças necessárias cobra seu preço ao planeta. O deslocamento de milhares de pessoas para Copenhague – onde o termômetro varia entre 3C a 4C nesta época do ano e o aquecimento central fica ligado o dia inteiro, em todos os ambientes – que o diga.

Fonte: Envolverde