Aquecimento não deve ser pretexto para intromissão, diz Lula
“Confesso a vocês que estou um pouco frustrado”. Foi nesse tom, de fracasso, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou no último dia da Conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas (CoP-15) em Copenhague. O presidente, que foi aplaudido diversas vezes, disse que a fragilidade de alguns países não pode servir de pretexto para “recuos ou vacilações de outros” e lamentou a falta de um acordo ambicioso.
Publicado 18/12/2009 15:56
“Não é politicamente racional, nem moralmente justificável colocar interesses corporativos e setoriais acima do bem comum da Humanidade”, disse o presidente, lembrando de quando o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial socorreram a América Latina em tempo de crise, uma experiência prejudicial, segundo ele. "Quem tem mais recursos e mais possibilidade deve proteger os mais necessitados", afirmou Lula.
O presidente norte-americano, Barack Obama, discursou logo em seguida e disse que os Estados Unidos não irão se intrometer nas questões dos outros, mas lembrou que tem “um compromisso mútuo” com as demais nações.
Obama, cuja presença era a mais esperada da conferência, dividiu a culpa pela emissão de gases entre todos os países presentes, procurou tirar o peso das críticas recebidas pelos países desenvolvidos pelo alto volume de gases poluentes emitidos.
"Os países em desenvolvimento não querem se comprometer tanto no acordo, o que não compreendo. Há países que acham que acham que os países ricos devem assumir a maior parte da responsabilidade. Eu acho que todos devem se comprometer e agir de uma forma unida para enfrentar esta ameaça real", declarou o presidente norte-americano.
Pouco antes, em seu discurso, o presidente Lula lamentou que presenças como a de Obama não tenham contribuído para a aquisição de um resultado mais amplo na conferência. “Não estamos de acordo com as figuras mais importantes do planeta Terra assinando qualquer documento para dizer apenas que assinamos. Adoraria sair daqui com o documento mais perfeito do mundo, mas se não tivemos condições de fazer até agora, eu não sei se algum anjo ou algum sábio descerá nesse plenário e conseguirá colocar na nossa cabeça a inteligência que nos faltou até agora”.
Lula já tinha avisado que “com meias palavras e com barganhas”, não encontrariam uma solução nessa conferência. “Tem muita gente querendo barganhar as metas”, disse o presidente que revelou estar “decepcionado” com a reunião.
O mandatário brasileiro ainda anunciou que deve financiar suas metas de redução de gás sozinho, sem ajuda externa, se preciso. “Se for necessário fazer um sacrifício a mais, o Brasil está disposto a colocar dinheiro.”
Lula ainda disse que esse capital não é esmola , mas sim “o pagamento pelas emissões de efeito estufa emitidos pelos países desenvolvidos por dois séculos", disse.