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O papel do capitalismo do cassino na reciclagem da idiotice

Na Bolsa de Valores Verde, que já foi criada, já atuam todos os gigantes de Wall Street: Morgan Stanley, Citigroup, Goldman Sachs, Bank of America, J.P Morgan e outros. Todos já embolsaram os trilhões que lhes deram os governos de Bush e Obama e, ao invés de resgatar as dívidas dos empréstimos habitacionais, jogaram hot money no novo "jogo verde do carvão", provando assim quão eficaz poderá se tornar o "capitalismo do cassino" na reciclagem da idiotice.

Por Laura Britt, no Monitor Mercantil

Em meio a uma inflação de esperanças por uma "guinada verde" de Barack Obama em comparação com a secreta política antiecológica de Bush Jr., e, por decisões salvadoras desta cúpula de Copenhague, a fim de serem contidas as mudanças climáticas, os pontos de vista do professor Hames Hansen, da Universidade de Columbia, recomendam fortemente postura de incredulidade.

"Gostaria que não fosse realizada (a cúpula) se se trata de o mundo acreditar que estamos evoluindo em itinerário correto, enquanto na realidade marchamos rumo a catástrofe", declarou o cientista norte-americano ao jornal britânico The Guardian.

Igualmente crítico surgiu contra Obama, assim como do teoricamente "verde" ex-vice-presidente dos EUA Al Gore. Em artigo, publicado pelo The New York Times, Hansen sustenta que, "na realidade, a lógica deles eterniza a poluição atmosférica e, simplesmente, permite aos responsáveis pela poluição e aos financistas de Wall Street torturarem o mundo, abocanhando bilhões de dólares".

Se estes pontos de vista não tivessem sido formulados por um homem como Hansen seriam rapidamente rejeitadas como um "anticapitalismo superblindado". Mas, quando o autor é, coincidentemente, diretor de pesquisas do Instituto da Nasa dos EUA, talvez o mais conhecido e reconhecido ambientólogo do mundo e o cientista que tem "instruído" como nenhum outro os políticos norte-americanos com seus rotineiros depoimentos no Congresso norte-americano, algum motivo muito sério deve existir.

O ponto forte da intervenção de Hansesn é que mergulha mais fundo do que a espuma superficial da cobertura jornalística de Copenhague – "se, finalmente, tivermos decisões legalmente comprometidas ou se nos limitarmos com um acordo político, se for encontrado algum acordo entre países ricos e países em desenvolvimento – para se chegar à verdadeira raiz do problema".

Venda de indulgências

Isto é, na estratégia básica do "comércio poluidor" internacional, que estigmatizou todas as conferências internacionais, desde a do Rio de Janeiro e de Kioto, até a de Copenhague, a qual busca soluções ecologicamente eficazes no âmbito do anarquicamente livre mercado. Uma lógica análoga com a benevolência da Igreja Católica, a qual vendia "atestados de perdão" durante a Idade Média: Os bispos recolhiam dinheiro, enquanto os fiéis, aliviados, poderiam se atirar a novos pecados.

Teoricamente, o sistema de "cap and trade" funciona assim: uma autoridade política (o governo, no interior do país, ou um acordo de compromisso, em nível internacional) define os limites máximos de emissão de poluentes para as empresas ou as nações.
Com base nestes limites, emitem-se licenças de emissão, as quais, em seguida, são vendidas e compradas como se fossem um produto qualquer, e seus preços são definidos pela lei da oferta e da procura.

Assim, um país ou uma empresa que polui menos do que o limite que lhe tem sido creditado poderá vender os direitos de emissão de poluentes que não utilizou para um outro país ou empresa. As arrecadações deste comércio de dióxido de carbono sustentam programas de "crescimento verde", enquanto, o incentivo de redução de custo leva todos à limitação de emissões, com resultado de os limites permitidos serem reduzidos continuamente.

Mais poluição

Entretanto, conforme já escreveu Hansen, "a estratégia que é baseada no livre mercado, por mais que tenha sido elogiada internacionalmente, provou-se ineficaz para com a desaceleração do super-aquecimento do planeta". O motivo básico é simples: se as emissões de poluentes forem reduzidas consideravelmente, então, com base na lei de oferta e de procura, o preço do carbono despencará.

Consequentemente, por um lado, os vendedores de direitos de emissão terão menos dinheiro para apoiarem suas "políticas verdes", enquanto os compradores terão incentivos mais fortes para continuam pouluindo. Desta forma, o "mercado auto-regulável" terá como consequência a volta dos poluentes ao anterior nível alto.

Teoria barata? Nada disso. Em 31 de outubro deste ano, o jornal francês Le Monde, sob o título "O mercados dos loucos", publicou uma reveladora reportagem, de acordo com a qual José Manuel Barroso Durão, presidente da Comissão Européia, órgão executivo da União Européia, vetou na Comissão Européia um analítico plano para economia de energia pelos países-membros da União Européia.

O motivo? A economia de energia derrubaria o preço do dióxido de carbono muito abaixo de 18 euros a tonelada em que oscila hoje, com resultado de a Europa perder muito dinheiro das vendas de direitos de emissão de poluentes em terceiros países. Em outras palavras, é bem melhor respirar dióxido de carbono do que perder o dinheiro que pagam os chineses e os indianos para continuar emitindo mais carbono!

Títulos tóxicos

Está esquizofrênica situação agrava-se mais ainda por dois fatores. O primeiro é aquele que dá o direito aos EUA ou ao Brasil de poluírem mais com argumento de que não destróem tão rapidamente – quanto desejariam – seus grandes bosques ou as selvas tropicais da Amazônia, respectivamente.

Já o segundo e mais importante fator é a criação de novos fatores monetários, literalmente, de "produtos tóxicos" da Wall Street sobre as licenças de emissão de poluentes a exemplo, exatamente, como foram criados os famigerados CDS sobre os empréstimos habitacionais de alto risco no EUA.

Conforme revelou, recentemente, o Wall Street Journal, os produtos monetários sobre o comércio de carbono somam hoje algo em torno de US$ 100 bilhões e se prevê que atingirão US$ 3 trilhões em 2020.

Na Bolsa de Valores Verde, que já foi criada, já atuam todos os gigantes de Wall Street: Morgan Stanley, Citigroup, Goldman Sachs, Bank of America, J.P Morgan e outros. Todos estes bancos de investimentos já embolsaram os trilhões que lhes deram os governos de Bush Jr. e Barack Obama e, ao invés de resgatar as dívidas dos empréstimos habitacionais, jogaram hot money no novo "jogo verde do carvão", provando assim quão eficaz poderá se tornar o "capitalismo do cassino" na reciclagem da idiotice.

Rapinagem à custa do Terceiro Mundo

Uma das idéias alternativas que foi proposta no lugar de "cap and trade" apoia-se no denominado "imposto do carbono", isto é, na oneração do preço de todos os produtos, de acordo com a contribuição de cada um na poluição atmosférica.

Além de outros problemas que esta idéia acumula, coloca-se a questão de protecionismo indireto contra os produtos do Terceiro Mundo: o Ocidente aplicará severas taxações sobre os produtos chineses e indianos sustentando que assim faz não porque são produtos mais competitivos de que os seus, mas porque são mais "poluidores".

Além disso, a pressão do Ocidente sobre as novas forças industriais periféricas que são acusadas da maior parte da poluição mundial silencia determinadas verdades incômodas. De repente, alguma redução análoga da emissão de poluentes pelo Ocidente se deve – muito – à transferência de indústrias de transformação à Ásia e à América Latina.

Em outras palavras, o Ocidente realizou exportações de poluentes a estas regiões – e países – as quais convoca em seguida para pagarem, até em dobro, primeiro com a exigência de enfrentarem dentro de duas décadas aquilo que o Ocidente não conseguiu enfrentar em dois séculos de Revolução Industrial; e, depois, por intermédio da venda dos "direitos de emissão de poluentes".