FGV: reajuste tem grande impacto nas contas públicas
O novo salário mínimo, de R$ 510, que começou a vigor nesta sexta-feira (1º/1), tem implicações no mercado de trabalho e, mais ainda, nas contas públicas. “Talvez seja o preço mais importante em termos sociais no Brasil, mais do que a taxa de câmbio e a taxa de juros”, disse o economista Marcelo Néri, chefe do Centro de Políticas Sociais (CPS) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), em entrevista à Agência Brasil.
Publicado 02/01/2010 00:37
Nos últimos 14 anos, o aumento do salário mínimo atingiu 120%. “É uma taxa bastante grande de aumento e ele impacta no seguro desemprego, nas aposentadorias. Eu diria que o aspecto das transferências públicas é mais importante até no Brasil do que o impacto sobre o mercado de trabalho”, afirmou.
Para Néri, no entanto, os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, têm mais efeito no combate à pobreza do que o salário mínimo. De acordo com o economista da FGV atua principalmente na melhorai da renda da classe D, enquanto a classe E é a grande beneficiária do Bolsa Família.
Já as classes A e B, segundo ele, são favorecidas pelos benefícios da Previdência acima do salário mínimo. O chefe do CPS/FGV revelou que, atualmente, 24% da população vivem numa faixa de renda familiar de R$ 800 a R$ 1,1 mil. “Essas pessoas são muito impactadas pelo salário mínimo”, disse.
Marcelo Néri acha que o reajuste do mínimo tem efeito direto no mercado de trabalho, podendo causar desemprego e informalidade, ao mesmo tempo em que gera aumento de renda para o trabalhador, e que,. em relação às contas públicas, ele produz transferências para a população da classe D, mas tem um custo fiscal considerável. “Esses são os dilemas envolvidos”.
Néri informou que o Brasil conta, hoje, com um salário mínimo próximo do seu valor inicial, quando foi promulgado pelo presidente Getulio Vargas, no começo dos anos 1940. O economista afirmou que, pessoalmente, é mais entusiasta do Bolsa Família como instrumento para combate à pobreza do que o reajuste do salário mínimo.
“Eu acho que ele [Bolsa Família] tem mais custo/efetividade. Cada real que você gasta com a expansão do Bolsa Família chega mais na mão do pobre. Mas, o salário mínimo é a grande figura no inconsciente coletivo brasileiro como a política de combate à pobreza, e tem forte apelo popular”, afirmou Marcelo Néri.
Fonte: Agência Brasil