Luis Carlos Bernardes: A fortaleza do vice
O vice-presidente José Alencar me disse que recuperou seis dos 12 quilos que perdera desde o início do tratamento contra o câncer, iniciado há mais de dez anos, o que lhe dá a certeza de que está vencendo a doença. A constatação surgiu quando ele fechava o paletó para uma entrevista. Teve dificuldades para se vestir e disse, sorrindo, que "precisou alargar as roupas".
Publicado 07/01/2010 12:32 | Editado 04/03/2020 16:51
Na conversa, a política foi o primeiro tema. Surpreendeu-se com minha pergunta sobre a possibilidade de ele disputar a Presidência da República, questão que parte das ruas e de formadores de opinião – além do fato de Itamar Franco, em 2005, ter se reunido duas vezes com Aécio Neves e Alencar na tentativa de convencer os dois a disputarem a Presidência, fazendo Minas voltar ao cargo.
Sobre o tema, Alencar sorri e se diz honrado com a lembrança de seu nome para disputar a Presidência. Ele não se fecha à questão, mas me disse que seu plano é disputar o Senado, caso se recupere. Na conversa, voltei a falar sobre Presidência. Ele, novamente, se disse honrado com a lembrança do seu nome, não nega a hipótese peremptoriamente, mas prefere o Senado, onde perdeu quatro anos de mandato – 2002 a 2006, para ser vice de Lula, com quem se dá "muito bem".
Além da força de Alencar para enfrentar o câncer, especialistas dizem-me que a política lhe faz muito bem. Vice do amigo Lula em duas gestões bem-sucedidas, nas quais já assumiu o mandato por 430 dias, ele se sente bem "servindo o Brasil", entrando em "guerras santas", como o combate aos juros. "Ter saído de casa, sozinho, em Muriaé, aos 14 anos, para trabalhar em Ubá, onde aos 16 anos abriu a primeira firma, começando uma vida bem-sucedida, torna Alencar uma fortaleza", me diz um especialista. O vice me disse que se preocupa com a possibilidade de os juros subirem neste ano, com o crescimento da economia. "O Brasil paga, desnecessariamente, R$ 150 bilhões por ano de juros da dívida interna. Vamos continuar assim?", questiona Alencar.
Feliz com a possibilidade de o Brasil se transformar em um país de Primeiro Mundo nos próximos anos, ele se regozija com o salário mínimo de mais de US$ 250 e acha que começa a haver "portas de saída às bolsas do governo, com cursos profissionalizantes". Aliado de Dilma Rousseff, ele acha que Aécio Neves ainda pode ser presidenciável, porque há fatos novos acontecendo no PSDB.
Artigo publicado no dia 04 de janeiro, na sua coluna no jornal O Tempo