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Crise sem fim: As bolhas que ameaçam o mundo

O câmbio valorizado por vários anos e os juros reais elevados, num contexto de grande liquidez internacional, tornaram o crescimento do Brasil instável e levaram a economia nacional a se expandir como uma bolha. Economia mundial segue na corda bamba e ameaça despencar.

A advertência é de Jan Kregel, professor do Levy Institute do Bard College, e um dos principais acadêmicos keynesianos dos Estados Unidos. "Os investidores verificam que há um país com instituições seguras e governo sério, chamado Brasil, que paga quase 5,5% de juros reais ao ano. O que eles fazem? Investem muito dinheiro aqui, pois é a melhor oportunidade de rentabilidade com risco muito baixo", disse.

Para ele, somente o aumento do controle de capitais poderia reduzir o excesso de apreciação do real ante o dólar. A redução dos juros, ainda em 8,75% ao ano, também é essencial, mas o pesquisador diz não acreditar que isso ocorrerá no curto prazo."Se os juros não vão cair este ano, seria oportuno ao menos que não subissem. Uma elevação só deveria ocorrer quando ficar caracterizado um risco grave de alta da inflação, o que não é o caso atual", argumentou. "Então, resta o aumento do controle de capitais, o que deveria ter sido feito há bom tempo a fim de diminuir o ingresso maciço de capitais interessados em lucrar com operações de carry trade (comprar moeda numa economia de juros baixos para aplicar numa taxas elevadas)", salientou.

Bolha e estatística

A Economist Intelligence Unit (EIU), unidade de análise e pesquisa da revista britânica The Economist, diz que a economia global começa 2010 melhor do que há um ano, mas os fatores temporários que apoiaram, até agora, essa tímida recuperação irão se dissipar ao longo deste ano, alerta Em artigo que aponta seis questões que estarão em evidência este ano, a EIU alerta que as políticas fiscais, os efeitos estatísticos favorecidos pelas reduzidas bases de comparação de indicadores e o ciclo de estoques perderão força nos próximos meses.

E manifesta preocupação com os riscos de formação de novas bolhas de ativos, aumento do desemprego e dos temores fiscais mundo afora. "O impulso fiscal não pode se manter indefinidamente e, em 2010, a necessidade de as economias começarem a "desmamar" do setor público e cultivarem fontes autônomas de crescimento irá se tornar cada vez mais visível", alerta.

Segundo a EIU, os pacotes de estímulo fiscal começarão a desaparecer, sem haver previsão de aumento nos gastos com estímulo em níveis semelhantes ao do último ano na maioria dos países. Na prática, o impacto líquido da política fiscal na maioria dos países será de aperto, prevê o relatório, o que torna mais difícil para as economias sustentarem a recuperação.

Além disso, a recuperação dos estoques que tem impulsionado a indústria vai terminar, prevê a EIU, que adverte para um quadro enganosamente positivo nos números mais favoráveis de crescimento gerados pela recomposição dos estoques. "Os ajustes de estoques podem dar um impulso muito expressivo, mas temporário, ao crescimento do PIB. Uma vez que os níveis de estoques alcancem o aumento na demanda, as empresas irão parar de recompor estoques e o crescimento do PIB deverá vir de outras fontes", adverte.

Momento adequado

O comissário de Assuntos Econômicos e Monetários da União Europeia (UE), Joaquín Almunia, afirmou que o momento adequado para a retirada dos estímulos públicos à economia, incluindo o setor financeiro, deve ser o final de 2010.

"Com base na análise da situação econômica, a Comissão (Europeia, órgão executivo da UE) tem que decidir qual é o momento adequado para restabelecer a situação anterior à crise. Em princípio, caso não mudem as expectativas sobre a evolução da economia, esse momento adequado será o final deste ano", afirmou Almunia diante dos eurodeputados. Almunia comparece hoje à comissão de Economia do Parlamento Europeu, que deve avaliar sua idoneidade antes de confirmá-lo como comissário de Concorrência no novo Executivo da UE.

Em seu discurso inicial, o comissário lembrou que os governos europeus "assumiram obrigações financeiras enormes em apoio ao setor bancário". "A Comissão Europeia adotou um marco temporário que permitiu facilitar o acesso ao financiamento durante a crise, ao mesmo tempo em que protegia o mercado interno de distorções indevidas da concorrência", disse Almunia.

Agora, segundo o comissário, "a tarefa principal consiste em assegurar a reestruturação dos bancos de modo que estes recuperem a viabilidade necessária no médio e longo prazo para desempenhar seu papel, financiando a economia real sem necessidade de fundos públicos". "Devemos preparar desde agora uma estratégia de retirada das ajudas recebidas, embora a aplicação dessa estratégia deva ser realizada gradualmente, levando em conta as condições da economia e os riscos ainda vigentes para a estabilidade financeira", afirmou ele.

Com agências