Chico Barbeiro, um operário no poder legislativo

Dando prosseguimento às entrevistas com personalidades políticas e populares, o Vermelho/CE ouviu na manhã desta segunda-feira (01/02) o sindicalista Francisco Antônio Ferreira da Silva. Atual Presidente da Câmara de Vereadores de Maracanaú, Chico Barbeiro falou sobre a infância, os estudos, a vida voltada ao movimento sindical e à política partidária.

Chico Barbeiro

Paramoti, cidade localizada a 104 km de Fortaleza, foi onde nasceu Francisco Antônio Ferreira da Silva. Filho do barbeiro Júlio da Silva, de quem herdou o apelido, e da dona de casa Maria Ferreira, Chico juntamente com a família mudou-se para Maracanaú em 1963, com apenas quatro anos de idade. A busca era por dias melhores. “Viemos procurar oportunidades. Naquela época, Maracanaú (então distrito da cidade de Maranguape e que passou a cidade em 1985) já despontava como cidade de destaque, além de ser próxima a Fortaleza”, justifica.

A luta pela sobrevivência começou desde muito cedo. “Quando nos mudamos, passamos por dificuldades. Tive que começar a trabalhar ainda criança. Por voltas dos nove anos de idade, fui procurar o que fazer. Abastecia as casas com a água que tirava do chafariz da cidade além de vender filhóis (espécie de pão doce) no mercado municipal de Maracanaú”, recorda.

Os estudos foram, em grande, parte em Maracanaú. “Só durante a antiga 5ª série (atual 6ª série do Ensino Fundamental) estudei numa escola em Fortaleza, no bairro Parangaba. Mas por conta das dificuldades financeiras, como o gastos com as passagens de ônibus, já no ano seguinte voltei meus estudos para Maracanaú”, recorda. Na escola Gustavo Barroso, no período da noite, fez o curso de Técnico em Contabilidade. “Na época era um curso que tinha certo valor. Estudava a noite e trabalhava durante o dia já nas fábricas”, relembra.

Trajetória nas indústrias e no movimento sindical

Com 17 anos, Chico Barbeiro alistou-se no Exército Brasileiro mas ficou no excesso de contingente. Com a carteira de reservista, foi a procura de emprego. “Com 19 anos, em 1978, entrei na Chenile do Nordeste S.A. (Chenosa). A fábrica era conhecida por ser a empresa do Chico Anísio. Na verdade ele era apenas um dos acionistas”, explica.

Segundo o vereador, o caminho de ascensão dentro da empresa foi rápido. “Comecei no setor de expedição. Pegava no pesado, era um trabalho braçal mesmo. Neste setor, só fiquei uma semana. Recordo que foi preciso "bater" um relatório sobre as atividades do setor e como tinha feito o curso de datilografia, fui encarregado de providenciá-lo. Daí segui para o setor de estamparia, no qual também só fiquei por cerca de 20 dias. Como tinha prática com a máquina de escrever, logo me encaminharam para o setor pessoal”, explica. Encarregado de fazer os cartões de ponto semanalmente dos 1080 funcionários da fábrica, Chico Barbeiro passou a conhecer de perto as necessidades dos trabalhadores.

No final de 1979, com pouco mais de um ano na empresa, foi convidado a participar de uma reunião da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem de Maranguape. “Fui mas sem saber muito bem o que era. Apesar de estar sindicalizado, não participava muito. Nas eleições, votei mas acabei me envolvendo aos poucos por me identificar e conhecer as necessidades dos trabalhadores”, recorda.

Em 1980, Barbeiro começou a implantar na empresa onde trabalhava algumas modificações. “Como atuava no Departamento Pessoal e tinha o conhecimento adquirido no curso de Técnico em Contabilidade, comecei a empregar as obrigações sociais da empresa. Cuidava da folha de pagamento dos operários, estava atento ao pagamento das horas extras que muitas vezes não era calculadas direito. Foi quando comecei a defender os trabalhadores”. Segundo o vereador, os patrões o repreendiam mas por ser um bom e honesto funcionário, conseguiu aos poucos implantar as modificações. “Sempre atuei com profissionalismo e, como tinha certa estabilidade, consegui manter um diálogo com os patrões”.

Entre 1982 e 1984, a empresa decretou falência e abriu processo de demissão. Segundo Chico Barbeiro, foi um período difícil. “Cabia a mim oficializar a demissão dos funcionários. Foi uma experiência que nunca mais esqueço. Via todos na fila chorando, depoimento desesperados de mães que trabalhavam na fábrica afirmando que iam trazer os filhos para a porta da empresa. Foi uma época muito triste”, recorda. Dos 1080 funcionários, a fábrica manteve apenas 180 empregados pois continuou só com a fiação. Depois o número reduziu ainda mais e 115 pessoas continuaram trabalhando.

Até 1991, Chico Barbeiro só atuava na empresa. Em 1992, foi convidado a encabeçar a chapa da presidência do sindicato. “Os patrões me chamaram para negociar. Disseram que aumentariam meu salário em cerca de 60% se eu desistisse de concorrer. Pensei, pensei… Se durante todos estes anos eles não reconheceram o meu trabalho, por que só agora? Foi quando optei sair da empresa e me dedicar ao movimento sindical”, revela.

Foi em 1992 que Chico Barbeiro começou o que chama de “namoro” com o PCdoB. Na época o sindicalista participou do movimento puxado pelo então Deputado Estadual Inácio Arruda. Era a Frente Parlamentar Têxtil. “Foi nesta época que começou a entrar produtos chineses bem mais em conta no Brasil. Queríamos frear a entrada deste material pois, por conta dos baixos preços, quebraria as empresas e ocasionaria demissões”, relembra. Chico Barbeiro juntamente com Inácio Arruda realizaram articulações e organizaram uma comitiva que foi de ônibus até Brasília para protestar.

Eleito em 1994 para presidir o Sindicato dos Têxteis, passou a se dedicar ainda com mais firmeza à defesa dos trabalhadores, lutando por salários mais justos e melhores condições de trabalho nas fábricas do Distrito Industrial de Maracanaú e de Maranguape.

O ingresso na vida política

Ainda em 1980, surge o convite para participar da criação do Partido dos Trabalhadores (PT) em Maranguape. “Ainda estava engatinhando na política sindical e já me vi atuando também na política partidária. Ainda não tinha nenhuma noção de como as coisas funcionavam”, avalia. Com Francisco Nunes Moura, conhecido como Chico Caboclo, e já com orientação do então líder sindicalista Lula, Barbeiro ajudou na fundação do partido no distrito. “Nesta época me filiei ao PT, mas não era militante. Me colocaram lá”, afirma entre risos.

Chico ainda participou de algumas reuniões mas tinha a intenção de sair. Foi numa dessas reuniões que sentiu-se tocado pela atuação política. “Recordo que era uma manhã de domingo. Enquanto aguardava as pessoas para a reunião, o Chico Caboclo colocou na radiola a música do Geraldo Vandré e distribuiu em papel a letra de ‘Pra não dizer que não falei das flores’. Fiquei meditando sobre aquilo tudo, sobre o que via no trabalho, a submissão dos funcionários, o medo das pessoas de perder os empregos e resolvi me dedicar”, relembra.

Em 1983, Barbeiro participou do movimento de emancipação de Maracanaú. “Acompanhei e votei no plebiscito. Maracanaú já se mostrava um distrito forte e não devia mais ficar atrelado a Maranguape”, considera. Já com o município independente, Barbeiro passa a atuar no PT em Maracanaú. “Na época, tinha simpatia pelo partido porque via que estava do lado do trabalhador. Participava das reuniões e atividades”, afirma.

Após um ano participando da política em Maracanaú, começaram as desavenças. “Via as diversas correntes e decidi me afastar. Não dava para mim. Foi quando me ausentei total da vida política partidária e assim fiquei durante 10 anos”, contabiliza.

Após participar de diversas ações no movimento sindical, como a greve na Vicunha em 1991, com a demissão de cerca de 600 funcionários por justa causa, Chico Barbeiro volta a ampliar seu quadro de atuação e procura o PT para se filiar novamente. “Eles não aceitaram o meu retorno. Colocaram dificuldades. Só depois entendi o motivo: despontava como liderança e fazia parte da Força Sindical, central que ia contra a CUT, ligada ao PT”, considera.

No começo de 1996, o Partido Verde (PV) procurou o cunhado de Chico Barbeiro para fazer parte dos seus quadros. “Ele era deficiente físico. Quando lá chegaram, voltaram-se para mim e afirmaram que eu também deveria fazer parte do partido. Durante a convenção, colocaram meu nome mesmo contra a minha vontade”, recorda. Com 460 votos Chico Barbeiro não foi eleito por um voto. “A Dorinha tirou 461 votos e entrou”, relembra. A apertada diferença serviu como combustível para Chico Barbeiro. “Um dia após o resultado, comecei a trabalhar para a minha próxima campanha. Tinha reuniões no PV e exigia ações concretas do partido. A direção começou a botar dificuldades pois pensava que eu, mesmo com pouco tempo de filiado, poderia tomar a vaga de alguém que já estivesse lá há mais tempo. Então saí do PV”.

Sempre ligado às causas trabalhistas, Chico Barbeiro ingressa em 1999 no Partido Social Trabalhista (PST). Eleito vereador em 2000 com 857 votos (quase o dobro de votos do pleito anterior), Chico Barbeiro aprovou leis importantes, como a que obriga as empresas instaladas na cidade a formarem no mínimo 80% de sua mão-de-obra com trabalhadores do município.

Em 2001, a Justiça Eleitoral extingue o PST e incorpora os filiados ao então Partido Liberal, legenda da qual faz parte até 2003. Neste ano, Chico Barbeiro volta a procurar o PT e também o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Em ambos os partidos não foi aceito pela destacada liderança. Em reuniões com o então candidato a prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa, surge o convite de fazer parte do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), legenda que fazia parte da coligação. “Entrei para o PTB e, apesar dos 1.552 votos, não fui eleito em 2004 por conta da redução de vagas de 21 para 12 cadeiras legislativas. Fui o oitavo mais bem votado. Fazendo os cálculos, com mais 25 votos, teria entrado”, contabiliza. Segundo Barbeiro, a campanha de 2004 o credenciaria para a próxima eleição e o destacava como importante liderança na cidade.

A filiação no PCdoB

Ainda no PTB mas sem mandato, Chico Barbeiro começa a analisar outros partidos. O antigo namoro com o PCdoB, a concordância de ideologia na defesa dos direitos do trabalhador e a atuação dos parlamentares Chico Lopes e Inácio Arruda foram fundamentais. “Eles eram figuras que sempre tinha em mente. Participavam conosco das atividades grevistas. Via neles a luta e o compromisso com o povo. No começo de 2007 oficializei minha filiação”, relembra.

Chico Barbeiro faz questão de enfatizar as greves de 2006 em Pacajus (4 dias) e em 2007 em Maracanaú (15 dias) época em que o então deputado estadual Chico Lopes participava do movimento. “Ficava impressionado como um deputado estava na porta da fábrica em plena 1h da manhã apoiando o trabalhador. Lembro também do empenho dele em outros movimentos, sempre apoiando a nossa luta”, ratifica.

Para Chico Barbeiro, o PCdoB se apresenta como um partido de ideologia. “Não é como outros partidos que a gente conhece de ter a pasta debaixo do braço. O PCdoB tem uma atuação o ano inteiro e não só em época de eleição”, considera.

Desafios como Vereador

Em 2008, Chico Barbeiro é eleito vereador de Maracanaú com 2.214 votos. Reconhecido pela humildade, participação e luta pelos mais necessitados, além da experiência e liderança reconhecida no movimento sindical, Chico Barbeiro foi aclamado Presidente da Câmara de Vereadores de Maracanaú. “Com um ano de mandato nosso maior desafio foi implantar a transparência na casa. Criamos o site da Câmara e estabelecemos um convênio com a Rádio Pitaguary AM 1340 que transmite as sessões em tempo real. Com estas simples iniciativas, demos mais visibilidade e credibilidade às ações da Câmara”, avalia.

Apesar de ter ingressado definitivamente na vida político-partidária, Chico Barbeiro se define: “Minha essência é sindicalista. Todas as minhas ações estão sempre voltadas para os direitos do trabalhador. Mesmo atuando na política, todas as tardes estou no sindicato mantendo contato com o povo”, finaliza.

De Fortaleza,
Carolina Campos