México: Calderón admite abusos do Exército
Doze dias após o assassinato de 15 jovens em uma festa em Ciudad Juárez, o presidente do México, Felipe Calderón, anunciou um investimento de 215 milhões de dólares para a localidade, situada na fronteira com os Estados Unidos, e admitiu abusos cometidos pelas forças de segurança instaladas na cidade.
Publicado 12/02/2010 13:59
O presidente também pediu desculpas aos pais das vítimas do massacre e enfrentou a ira de alguns deles, segundo o jornal Tribuna de Los Cabos. Logo após o crime, Calderón disse que os jovens foram mortos por terem envolvimento com o narcotráfico, fato descartado após investigações preliminares.
María de la Luz Dávila, mãe de dois dos 15 adolescentes mortos em 30 de janeiro, interrompeu o discurso de Calderón. "Me desculpe, presidente, mas não posso lhe dar as boas-vindas. Aqui foram cometidos assassinatos, quero que justiça seja feita, quero meus filhos de volta. Quero que o senhor se retrate por ter acusado meus filhos de serem membros de gangue, quero que peça perdão!”, gritou, em meio às lágrimas.
Sem tirar os olhos do presidente, continuou: "Tenho certeza que se tivessem matado um filho seu, o assassino já estaria preso. Ponha-se no meu lugar para imaginar o que sinto; eu quero meus filhos”. Calderón e a esposa só observaram a mulher e nada disseram. María precisou ser carregada por parentes, após sofrer um desmaio, de acordo com o jornal.
A violência em Juárez, alimentada pelo narcotráfico, matou pelo menos cinco mil pessoas nos últimos dois anos, segundo dados oficiais. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de Chihuahua (onde fica a cidade), o aumento no número de assassinatos é resultado de uma crescente guerra entre o cartel de drogas de Sinaloa, liderado pelo homem mais procurado do México, Joaquín "El Chapo" Guzmán, e o cartel de Juarez.
Forças armadas
"Calderón é recebido por uma cidade devastada", foi a manchete ontem (11) do jornal El Agora, um dos principais de Ciudad Juárez. O presidente disse que seria “irresponsável” prometer uma solução em 15 dias, afirmando que levará tempo, recursos e “mais vidas” até que a situação seja controlada. Um grupo de jovens protestou contra a presença do presidente e organizou uma manifestação.
Calderón defendeu a presença das forças armadas em Juárez e garantiu que não retirará o contingente do local, apesar de acusações de abusos cometidos por militares e policiais, como o desaparecimento de detidos e tortura.
“Há abusos, não duvido, mas não estamos dispostos a tolerá-los”, afirmou. Desde 2006, cerca de 45 mil soldados e policiais militares foram enviados para as áreas mais importantes da guerra dos cartéis no México, porém, muitos são acusados de envolvimento com o narcotráfico.
“Se a solução para Juárez fosse tirar o exército, tenham certeza de que eu o faria, mas nossa obrigação é enfrentar o crime organizado com toda a força do Estado”, reiterou durante pronunciamento, sob vaias e aplausos.
Plano de ajuda
Para receber Calderón, foi formada uma estrutura de segurança com cinco mil policiais e agentes federais. A expectativa dos políticos locais era grande. “Ele precisa nos tratar como se tivéssemos sido arrasados por um furacão”, pediu o prefeito, José Reyes Ferriz, na segunda-feira (8).
Ao anunciar o investimento de 215 milhões de dólares, Calderón apresentou também um plano amparado em quatro pontos: “recomposição da ordem institucional”; “fator operacional”, ou seja, enviar 2,6 mil policiais federais, dois helicópteros, patrulhas e carros blindados; “item social”, que compreende educação, com a construção de cinco escolas de ensino médio e três instituições universitárias e “saúde”, mais recursos para programas sociais e participação cidadã.
Calderón propôs a criação de um conselho para coordenar o plano, que segundo a ele, está sujeito a crítica, revisão e correção da comunidade porque “não se trata de impor receitas”, disse, citado pela reportagem do jornal mexicano El Universal.
“Em memória dos jovens massacrados”, prometeu a construção de uma quadra de futebol americano, esporte praticado por eles, na região de Villas de Salvárcar.
Fonte: Opera Mundi