Lideranças põem Kassab contra a parede

Depois de mais de 60 dias de enchentes e muitas manifestações, o prefeito Gilberto Kassab ficou mais de seis horas dialogando com lideranças do movimento de represados. Na programação do primeiro dia de carnaval, dia 12 de fevereiro, Kassab aceitou o bloco de propostas das lideranças que apontaram ao prefeito que o discurso oficial não condiz com a dura realidade nas regiões alagadas.

Por parte do secretariado de Kassab estavam presentes: o secretário de saúde Januário Montone; de educação, Alexandre Schneider; o diretor presidente da Cohab Ricardo Pereira Leite; o secretário especial de relações governamentais Antônio Carlos Malufe; o subprefeito de São Miguel Milton Persoli, entre outros assessores.

Entre as lideranças institucionais estavam o vereador Jamil Murad (PCdoB), parlamentares do Partido dos Trabalhadores e do PSOL, defendendo a reivindicação das 25 lideranças populares eleitas em plenária para representar o movimento de moradores represados da zona leste durante a reunião.

Organizadamente, o movimento de represados fez um balanço histórico sobre os problemas e apresentou ao prefeito o manifesto, lançado no ato do dia 25 de janeiro, em frente à Prefeitura de São Paulo, no aniversário da cidade.

Para o vereador Jamil Murad, a audiência entre o prefeito e os movimentos populares é também um grande exercício democrático, fruto da luta dos movimentos sociais. “Os moradores não se acomodaram e vieram até a porta do prefeito pedir soluções concretas. Nesses momentos é consenso adotar relevantes encaminhamentos para resolver os problemas que a população paulistana está enfrentando”, disse o vereador.

Cadê o governo do Estado de São Paulo?
Os moradores defenderam um plano de habitação concreto para a cidade e também para a região metropolitana de São Paulo, inclusive a ausência do governador José Serra também foi tema da audiência.

“Para resolver problemas como esse das enchentes é preciso ter outro projeto de gestão pública com características sociais. É preciso ter um plano concreto de moradia para que a população mais pobre não seja jogada às encostas” disse o vereador Jamil Murad do PCdoB.

Muitos questionaram o “consórcio” Serra/ Kassab na capital do estado. “O senhor está sendo testa de ferro do governador José Serra, pois avise o que não somos bichos, somos humanos”, deflagrou D. Alda da Associação de Moradores da Vila Aymoré.

Contradições na saúde
Preocupados com o aumento de doenças como a cólera, dengue e a leptospirose, os moradores solicitaram a abertura da AMA São Miguel durante os finais de semana e em sistema de 24 horas.

A secretaria de saúde afirmou que não há registro de morte por leptospirose, argumento que é contestado pelos represados. “Não há caso de mortes de leptospirose nas áreas alagadas. Essa doença é recorrente durante o ano todo em São Paulo”, argumentou Januário Montone, responsável pela pasta.

Remoção, demolição e humilhação.
Para o movimento, a Prefeitura está agindo com má fé, desde quando terceirizou o processo de remoção das famílias. “Estamos morando embaixo d,água e ainda somos humilhados pelas empresas contratadas para efetuar a remoção que estão nos obrigando a assinar o auxílio-moradia para depois derrubar as nossas casas”, denunciou Ronaldo Delfino, do movimento de urbanização do Jardim Pantanal.

“A secretaria de habitação está demolindo as casas devido à construção do Parque Linear, Não somos contra o parque (linear), mas queremos um plano de moradia real” reivindicou Abel Toledo, um dos coordenadores do movimento e presidente do PCdoB de São Miguel.

A Facesp entregou ao prefeito documento pedindo soluções mais rápidas no atendimento dos moradores das áreas alagadas, inclusive da região sul, que não foi tratada na audiência. O prefeito se reunirá com as lideranças da Facesp e outros movimentos para debater especificamente a região.

Reivindicações atendidas:
Os encaminhamentos concretos da audiência foram:
1. A publicação no Diário Oficial de uma comissão de trabalho, presidida pelo subprefeito de São Miguel Milton Persoli, e que contará com o movimento popular para fiscalizar e acompanhar as ações.
2. A prefeitura realizará a operação “cata-bagulho” para limpar os córregos e as avenidas o mais rápido possível.
3. O prefeito marcará uma audiência com o governador José Serra e seus secretários de Saneamento e Habitação, Meio Ambiente e de Governo para dividir as responsabilidades.
4. A prefeitura contratará novas empresas para realizar o cadastro do auxilio – moradia e o trabalho será acompanhado por um dirigente do movimento popular. O prefeito também se comprometeu a e estudar o método da Prefeitura de Guarulhos no caso de remoção.
5. Um grupo de vereadores estudará os possíveis locais e apresentará para a secretaria de habitação para agilizar a construção de moradias na região.