Geraldo Galindo: o Ibope, Diogo Mainardi e a vitória de Serra

No final de agosto de 2009, o presidente do Ibope concedeu uma curiosa entrevista à revista Veja. Nas famosas "Páginas Amarelas", ele decretou a vitória de José Serra, com base numa pesquisa que apontava o candidato neoliberal com 42% contra 13% da ministra Dilma Rousseff. Essa entrevista serviu de base para que o colunista venal Diogo Mainardi chegasse à feliz conclusão da derrota de Lula.

Por Geraldo Galindo*

Na época, escrevi que aquilo não era análise, mas mera propaganda, na medida em que o desconhecimento da figura da ministra era intenso – e ainda é –, e que a mídia e seus partidos seriam derrotados ainda no primeiro turno – apenas um palpite otimista, absolutamente distinto da análise "cientifica" do presidente de um renomado instituto. É bom que guardemos eventualmente o que nossos inimigos de classe escrevem e falam para podermos questioná-los no futuro, quando possível. Vejamos então trechos da entrevista de Carlos Montenegro e caso queira, Veja na íntegra (http://veja.abril.com.br/260809/lula-nao-fara-sucessor-p-072.shtml).

“O PT deu um passo a mais na direção de seu fim. O PT passou vinte anos dizendo que era sério, que era ético. O mensalão minou todo o apelo que o PT havia acumulado em sua história. Ali acabou o charme. Todas as suas lideranças foram destruídas."

“Dilma, em qualquer situação, teria 1% dos votos. Com o apoio de Lula, seu índice sobe para esse patamar já demonstrado pelas pesquisas. Entre 15% e 20%. Esse talvez seja o teto dela. A transferência de votos ocorre apenas no eleitorado mais humilde. Mas isso não vai decidir a eleição. Foi-se o tempo em que um líder muito popular elegia um poste."

"Faltando um ano para as eleições, o governador de São Paulo, José Serra, lidera as pesquisas. Ele tem cerca de 40% das intenções de voto. Um candidato que foi deputado constituinte, senador, ministro duas vezes, prefeito da maior cidade do país e governador do maior colégio eleitoral é naturalmente favorito. Ele pode cair? Pode. Mas pode subir também.”
 

Reparem que tudo que o “especialista” em pesquisas diz, na verdade não é uma análise, mas a vontade dele, a posição política dele e da elite brasileira. É a mesma situação dos “cientistas políticos” que desfilam nos noticiários, quando na esmagadora maioria das vezes, estão lá para defender as posições políticas deles, geralmente conservadoras. A ideia de que o mensalão minou o PT é de uma falsidade grotesca, pois este ainda é, com suas limitações e acertos, o partido mais popular do país. Dizer que todas as suas lideranças foram destruídas só pode ser delírio e/ou desonestidade.

O presidente do maior fraudador de pesquisas eleitorais no Brasil decretou que o teto da ministra Dilma seria entre 15% e 20%. Diz também que Serra, “naturalmente favorito”, pode cair, mas subir também. Bem, passados cinco meses, as previsões (desejos) de Montenegro é que foram minadas, e não o PT, como ele previu. Dilma subiu de 13% naquele período para 28% (muito mais que o teto estabelecido por ele) e o candidato dele e da revista que o entrevistou caiu de 42% para 32%. Um cresceu 15% e outro encolheu 10%

Vejamos agora a comemoração mirabolante do engomadinho Diogo Mainardi, na época: “José Serra: 57 pontos. Dilma Rousseff: 23 pontos. Esse foi o resultado da última pesquisa eleitoral do Ibope. Os dados correspondem ao que os principais candidatos a presidente da República obteriam num segundo turno. Serra derrotaria Dilma Rousseff com uma folga espantosa de 42 pontos. Na ponta do lápis: 71 a 29, excluindo os nulos e brancos.”

Diz ele ainda que nunca houve no Brasil uma derrota tão acachapante. O maquiavélico jornalista prevê ainda que haverá uma debandada do PT para outras candidaturas e que o Palocci procuraria Serra para que houvesse imunidade aos petistas. Conclui dizendo que a derrota é certa, mas que cabe apenas medir o tamanho dela. Em outro artigo ele vai dizer que a vitória de Serra fica mais facilitada ainda porque o PT teria na campanha o mote do pobre contra o rico, do branco contra o preto, e que bastaria Serra ser a favor do Brasil.
(http://porelsonaraujo.blogspot.com/2009/09/diogo-mainardi-revela-os-ultimos.html)

O jornalista Reinaldo Azevedo, outro integrante da extrema direita serrista, reproduziu em seu blog o artigo do companheiro de ideias. As pesquisas indicam que no Brasil há somente 7% do eleitorado contra o governo Lula, em geral, ricos e abastados da classe média que fazem a cabeça vendo a Globo News e lendo as publicações dos Civita, Marinho e Frias, as famílias que controlam o grosso da mídia nacional, autênticos partidos políticos do pensamento único. Só faço esse comentário para que você leitor, se tiver paciência e não se enojar facilmente, dê uma olhada nas cartas que o articulista recebeu. Ali vai encontrar o que existe de pior no eleitorado brasileiro: os racistas, preconceituosos, elitistas, enfim, a escória de nossas classes dominantes, que nada perderam no governo Lula, ao contrário, mas não o aceitam pela origem de classe. (http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/veja-2-diogo-mainardi-serra-71-x-dilma-29/)

Aquela alegria dos da direita em agosto de 2009 foi se esvaindo, se transformando em preocupação e agora é desespero puro. Há especulações constantes sobre a desistência do governador de São Paulo, estado devastado por enchentes onde as pessoas morrem desamparadas; Aécio Neves resiste em ser o vice de uma chapa condenada à derrota; o principal aliado encontra-se enlameado num mar de corrupção em Brasília, onde o governador corrupto era cotado para ser o vice do PSDB; o discurso cínico da defesa da moralidade de outras campanhas ficará comprometido, enfim, só há dificuldades para a representação orgânica do imperialismo americano no Brasil.

Qualquer analista político sério sabe que, na medida em que o eleitorado for tomando conhecimento de que Dilma é a candidata de Lula, ela continuará a crescer, pois este segmento não quer o retorno do entreguismo, da incompetência, do desemprego e da corrupção dos demotucanos. Resta saber se Carlos Montenegro vai aparecer para se explicar depois das eleições. É aguardar pra ver. Sugeriria aos institutos de pesquisa para que numa próxima rodada de coleta de dados, onde se coloca os nomes dos candidatos, no de Dilma acrescentar "a candidata de Lula". Eles poderiam ter uma grata supresa para deixar em depressão o almofadinha escriba do Grupo Abril.

* Geraldo Galindo é diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia, da Associação dos Funcionários do BNB e da Executiva Estadual do PCdoB-BA