Marcos Dionísio aponta crescimento dos homicídios em Natal

Na última sexta-feira, 26, o coordenador de Direitos Humanos da Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc), Marcos Dionísio, um quadro importante do Partido Comunista, concedeu entrevista ao jornal Diário de Natal e falou sobre o crescimento dos homicídios em Natal no ano de 2009, e chamou a atenção para o número de mortes entre jovens natalenses.

Marcos Dionísio
Números fornecidos pelo coordenador de Direitos Humanos da Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc), Marcos Dionísio, sobre o crescimento dos homicídios em Natal em 2009, refletem bem a sua opinião de que "a nossa periferia concentra a guerra civil vivida nesta cidade". Segundo ele, no ano passado foram registrados 391 assassinatos pelo Instituto Técnico Científico de Polícia (Itep), contra 319 ocorridos em 2008 na capital potiguar. O aumento é de 22,57%. Desse total, 66% dos crimes contra a vida ocorreram em 10 dos 36 bairros da cidade, todos periféricos. Outro dado alarmante é a juventude das vítimas: 85% dos mortos tinha até 35 anos (27,9% têm de 21 a 25). Chama a atenção ainda a informação de que 92% das vítimas são homens.

Marcos informa que os bairros onde se concentra a maioria das ocorrências são Nossa Senhora da Apresentação, Lagoa Azul, Pajuçara, Igapó e Potengi, na Zona Norte; Felipe Camarão, Quintas, e Planalto, na Zona Oeste; e Mãe Luiza e Alecrim, na Zona Leste. Nesses bairros, juntos, foram registrados 258 homicídios, representando 66% do total. O bairro onde o crescimento da é mais notável é Nossa Senhora da Apresentação, que registrou 40 assassinatos em 2008 e 53 no ano passado.

O coordenador de Direitos Humanos considera esses dados importantes e acha que eles deveriam facilitar o trabalho de prevenção e investigação da polícia, no sentido de combater a violência em Natal. "Há uma ideia equivocada de que a violência está espalhada pela cidade. O que as autoridades deveriam fazer é criar políticas voltadas para essas áreas mais problemáticas e poderíamos ter uma redução considerável".

Para o coordenador, os fatores que contribuem para esse aumento vão além da criminalidade. "A dificuldade de transportes, a falta de boas escolas, áreas de lazer, postos de saúde e a iluminação precária se transformam numa violência silenciosa". Porém, ele não descarta a influência do tráfico de armas e entorpecentes. "O estouro da comercialização do crack tem contribuído para isso, no sentido de que essa é uma droga de grande poder corrosivo aos seres humanos, às famílias, à sociedade".

Ele faz, no entanto, um alerta quanto à generalização da sociedade. "O que é amplamente divulgado pela mídia é a atribuição da causa desses assassinatos ao acerto de contas por causa do tráfico. Hoje em dia, praticamente não se mata mais por vingança, por ciúmes, disputas familiares. Essa generalização, além de não ajudar a esclarecer, encobre outras causas igualmente fortes". Nesse aspecto, ele ressalta a opinião de que "como deve ser difícil para o pai de família sair de casa para ir a uma delegacia, ou mesmo para o trabalho, tendo ouvido falar que seu filho foi morto por ter se envolvido com entorpecentes. Com que cara ele vai ao delegado exigir que o crime seja investigado?".

Armas

O coordenador chama atenção para o fato de que 348 do total de homicídios em Natal foram praticados com arma de fogo. "O armamento que seria para proteger o cidadão, acaba servindo para esse genocídio". Para ele, "o tráfico de armas de fogo é uma chaga mundial. No Brasil, por exemplo, segundo dados da organização não governamental (ONG) Viva Rio, dos 10 containeres que deixam o país com armas, nove retornam ilegalmente e abastecem a criminalidade". O que é ainda mais alarmante para Marcos Dionísio é o fato de que a aquisição dessas armas continua fácil na capital potiguar. "Elas permanecem sendo vendidas em locais que todo mundo sabe onde ficam e acabam nas mãos dos nossos jovens, turbinado pelo consumo do crack".

Uma geração perdida para a violência

Outro dado encarado como uma tragédia por Marcos Dionísio é que 85% das pessoas assassinadas no ano passado em Natal tinham até 35 anos de idade. "Essa é a faixa de idade onde as pessoas estão na plenitude de suas vidas. Esses jovens poderiam estar estudando, se qualificando, ou praticando esportes e se consagrando atletas olímpicos, mas, ao invés disso, perdem a vida de forma inesperada". Ele comenta ainda o fato de que muitos jovens também começam cedo na criminalidade. "Vemos que, não somente eles aparecem como vítimas, mas, se investigarmos mais a fundo, descobrimos que eles também são os algozes dessa guerra".
Marcos Dionísio destaca ainda que, do total de vítimas mortas na capital potiguar, 362 eram homens. Ele ressalta também que, da mulheres assassinadas, 45% estavam na Zona Norte de Natal. "Além de ser a região mais violenta, é onde mais se mata mulheres". Para ele, tal situação reflete até mesmo na economia do município. "Essa tragédia deixa inclusive um prejuízo economico para a nossa cidade, não somente por perder um plantel de força de trabalho e os gastos prematuros com pronto-socorro e previdência, mas também causa a desvalorização dos imóveis nas áreas de fronteiras, frustrando a expectativa de que o ser humano possa ser feliz, mesmo em meio à pobreza".

Trabalho da polícia

O delegado geral de Polícia Civil, Elias Nobre, afirma que ainda não teve acesso a esses dados, mas garante que essa é uma preocupação do sistema de segurança pública. "A preocupação com o número de homicídios é de todos os chefes de polícia do país, e a situação do nosso estado, em comparação com outros do Nordeste, é melhor. Estamos trabalhando duro para identificar os autores desses crimes. O setor de inteligência tem investigado esses casos e esperamos dar uma resposta breve à sociedade", diz.

Ele reconhece que parte desses crimes vem sendo praticado por grupos de extermínios, alguns identificados pela polícia, compostos até por policiais. "E eles sabem como funciona o policiamento e seus horários e agem exatamente se aproveitando disso".

Elias Nobre assegura que o trabalho da polícia tem sido feito, "mas isso não é algo que se faz do dia para a noite. Logo que conseguirmos prender os primeiros, será mais fácil encontrar os demais. Aí, então, será possível uma redução nessas execuções".
 

Diário de Natal