Sávio Hackradt: "Carlos Eduardo pode surpreender na eleição"

Profissional do Marketing Político e da Propaganda Eleitoral, professor convidado da Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP), na disciplina “Planejamento Estratégico em Campanhas Eleitorais” e pré-candidato ao Senado pelo PCdoB. O espaço de entrevistas “No Alpendre do Potiguar Notícias” recebeu Sávio Hackradtn. Os jornalistas Cefas Carvalho, José Pinto Júnior e Roberto Lucena conversaram sobre política, internet e eleições 2010. Confira:

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Cefas Carvalho: Vamos começar falando sobre o apoio que o PCdoB está dando a Carlos Eduardo Alves (PDT). Como o senhor vê a candidatura do ex-prefeito? É uma terceira via possível?

A candidatura de Carlos não se trata de uma terceira via. Quem é primeira ou segunda via no RN? Ela (a candidatura) se trata de uma opção efetiva de um ex-prefeito de Natal muito bem avaliado. Mesmo pelos adversários ele foi considerado um excelente prefeito. Carlos Eduardo é um cara provado e testado na administração pública, como deputado estadual, secretário de governo, com larga experiência, novo ainda, com muito a oferecer. O PCdoB enxerga em Carlos Eduardo a opção de se olhar o futuro do RN. Mais do que tratar de nomes, o RN precisa tratar do seu futuro. Coisa que nunca foi tratada. É só ver, por exemplo, a questão da segurança pública. Em fevereiro, tivemos vários grupos de extermínio matando. O que significa isso? Falta de política pública de segurança. Agora, é um problema desse governo? Não. É um problema histórico. Dou só esse exemplo para dizer que é preciso mais que nomes, olhar o futuro. E Carlos se propõe a fazer isso com o PCdoB.

Pinto Júnior: Para o Senado, são duas vagas e estão colocados três nomes. O que faz o senhor acreditar que irá derrotar os chamados “caciques políticos”?

Em primeiro lugar, eles não são donos dos votos dos norte-rio-grandenses. Segundo lugar, o RN quer renovação, quer o novo. Agora, quero dizer que tenho absoluta clareza que não é necessário somente ser novo ou se propor como renovação. O RN quer mais do que isso: quer o novo, renovação, mas quer pessoas que tenham propostas para a sociedade potiguar. E isso nós temos. Nós temos uma visão sobre as grandes questões do RN, sobre, por exemplo, o planejamento estratégico para o RN para os próximos 20, 30 anos, coisa que nenhum deles nunca tratou. Não vemos problema nenhum em enfrentar os chamados três caciques ou poderosos. Mais do que os nomes, é importante olhar o futuro do RN. Nós temos uma proposta. O RN não pode ficar entregue ao passado. Todos eles (os caciques) representam o passado. O que eles podem oferecer ao RN? Se não fizeram até agora, vão fazer o que mais? Vão se aposentar no Senado? O Senado não é local de aposentadoria. Aliás, o Senado precisa ser renovado totalmente. Não só no RN, no Brasil inteiro. Porque o Senado é uma vergonha. Ou não é? Alguém tem dúvida que o Senado possa nos orgulhar? De maneira nenhuma. Em função disso tudo é que a gente está nessa caminhada junto com Carlos Eduardo.

PJ: O senhor acha que essa colocação de que os postulantes ao Senado não têm mais o que oferecer, chega a população? A população avalia essa condição ou vota por simpatia pessoal?

Avalia e muito. Claro que a simpatia pessoal também vale. Em torno de 15% do eleitorado vota pela imagem do candidato, aí entra a simpatia. 45% votam devido ao que o candidato propõe. E em torno de 30% vota pelo o que o candidato já fez. Os números me dizem que a população está cansada. A última eleição com duas vagas foi em 2002. Os eleitos foram Garibaldi com 714 mil votos e Agripino com 594 mil votos. Zé Agripino representou 24,4% dos votos e Garibaldi, 30%. Agora, sabem quantos norte-rio-grandenses não votaram nos senadores? Quase 1 milhão e 100 mil. Mais de 500 mil votos nulos. Somando brancos, nulos e abstenções dá quase 1 milhão e 100 mil. O que os eleitores estão dizendo? Que não querem esses nomes. Vejo pesquisas que o eleitor diz que é preciso mudar. Nós somos uma candidatura nova com propostas reais, concretas para o RN. Nós seremos uma candidatura da cidadania. O mundo mudou. O Brasil mudou. O RN precisa mudar. Não é possível que o RN não mude. Sergipe, Paraíba, Ceará, Pernambuco mudaram. Por que o RN não muda?

Roberto Lucena: Qual sua experiência com a administração pública e política?

Desde a universidade tive afinidade política. Na época da ditadura, participei de movimentos sociais, fundei a Sociedade de Direitos Humanos no RN. Fui presidente do Sindicato dos Jornalistas, sou fundador da Cooperativa dos Jornalistas. Sou profissional na área do marketing político da propaganda eleitoral. Tenho 30 anos convivendo com isso. Em Brasília, com a Nova República, fui assessor de Aluízio Alves quando ele era ministro. Morei 15 anos em Brasília convivendo com a elite política brasileira do Congresso Nacional e Executivo. Depois que saí do Ministério, fui repórter na TV Record de SP. Cobri a Assembléia Nacional Constituinte, que é o grande momento da história recente política do Brasil. Convivi com as maiores lideranças políticas do Brasil: Ulysses Guimarães, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, Nelson Jobim, José Genuíno, Lula. Convivi diariamente com esse povo na Assembléia Constituinte e muitos deles freqüentavam minha casa para discutir política. Coordenei a campanha de Mário Covas em 1989. Portanto, tenho uma vivência estreita, diária, com a política.

PJ: Com essa vivência, como o senhor acha que Carlos Eduardo pode ganhar da senadora Rosalba Ciarlini (DEM), que se coloca à frente de todas as pesquisas?

Falo como estudioso dessa área. Sou professor da Universidade de São Paulo, na Escola de Comunicações e Artes, na pós-graduação de marketing político de propaganda eleitoral. Trabalho com planejamento estratégico e conheço pesquisas há mais de 30 anos. Pesquisa, nesse momento, no Brasil, sob intenção de voto, o significado é pequeno. O cenário que vai ocorrer em outubro não é esse cenário que as pesquisas estão retratando. A grande maioria dos cidadãos está se lixando para essa discussão política, essa fofoca política que tem no RN e no Brasil. Ele (o cidadão) está preocupado com outras questões do seu dia-a-dia. Ele só vai se ligar com isso depois da Copa. Eu digo que a partir do dia 15 de agosto, em geral, é que o eleitor começa a se tocar. Então, não tenho preocupação. Aliás, quem está na frente é que corre o risco de cair. Vejam vocês que, nas últimas eleições, Garibaldi, em julho, tinha 62% das intenções de voto e perdeu a eleição. Rosalba não chegou nem aos 50% e estão querendo dizer que ela é governadora em férias? Isso não existe.

CC: Carlos Eduardo tem uma grande aceitação na Região Metropolitana de Natal, mas no interior, especialmente no Oeste, deve ter uma votação baixa. Como trabalhar essa questão?

Carlos vai surpreender no Oeste. A Região Metropolitana de Natal tem quase 43% do eleitorado do RN. Se você criar uma região metropolitana em Mossoró, terá 15,39% do eleitorado. Natal e Parnamirim, sozinhos, têm quase 30% do eleitorado. Qualquer prefeito de Natal bem avaliado está no jogo da sucessão estadual. Da redemocratização para cá, só tem um governador que não foi prefeito de Natal: Geraldo Melo, em 1986. Depois, todos – Garibaldi, Zé Agripino, Wilma – foram governadores e bem avaliados em Natal. Carlos tem uma base excelente em Apodi com o chamado grupo “Nova Geração”, que quase ganham as eleições. Tem gente em Severiano Melo apoiando. Em Caraúbas, também. Está chegando apoio do interior. E agora, com a entrada do deputado Álvaro Dias na chapa, entramos numa região que estava esquecida no estado: o Seridó. Roberto Germano, principal liderança popular de Caicó, que estava com Rosalba, já está com Carlos Eduardo. Isso é um baque para Rosalba. E nós vamos entrar em Mossoró.

PJ: Isso é o que dizem as pesquisas? Porque Rosalba teve quase 80% dos votos para senadora.

Nesse caso eram só dois candidatos ao Senado: ela e Fernando Bezerra. Na última eleição para prefeito, os Rosados estavam divididos e teve uma parte do eleitorado que não votou em nenhum lado. Ou seja, há um campo para crescer.

RL: Como marqueteiro, como o senhor vê o uso da internet, especialmente o twitter, nas eleições deste ano? Será fundamental?

O twitter é mais uma ferramenta disponível. Só isso. Eu conheci pessoalmente o Ben Self (estrategista da campanha do presidente norte-americano Barack Obama) , quando ele fez uma palestra para cem pessoas em São Paulo. Fui um dos convidados e conheci toda a estratégia de Obama na internet. A internet terá um papel fundamental, importante, nessas eleições. Os jovens estão ligados na internet. O twitter é uma das coisas. Eu tenho twitter www.twitter.com/savioh. Vejo os outros políticos usando de forma errada. Acho que eu uso de forma correta.
 

Entrevista extraída do jornal Potiguar Notícias – 01/03/2010