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Lúcia Stumpf: A nova face dos comunistas nos movimentos sociais

Depois de consolidar sua trajetória na frente estudantil, Lúcia Stumpf chega à Secretaria de Movimentos Sociais num momento crucial para os rumos da sociedade brasileira. A sete meses da disputa eleitoral, ela terá a responsabilidade de coordenar o trabalho dos comunistas nessa frente e contribuir para levar ao cotidiano da população o debate sobre a sucessão presidencial e, em especial, sobre a importância do Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, defendido no Programa Socialista do PCdoB.

Lucia Stumpf

 A chegada de Lúcia à secretaria – bem como a de outros jovens ao Comitê Central do partido – faz parte de um processo consciente de renovação iniciado há alguns anos e tornado mais nítido a partir do 12º Congresso (2009). A gaúcha de Porto Alegre tem a seu favor a larga experiência adquirida na área social. Apesar de ter apenas 28 anos, atua no movimento estudantil há mais de uma década e chegou à presidência da UNE em 2007, cargo que ocupou até o ano passado.

O foco de seu trabalho para os próximos meses é reforçar a atuação das lideranças comunistas na frente social e pautar nos debates da Assembleia Nacional dos Movimentos Sociais as reformas estruturantes defendidas pelo PCdoB. “O projeto nacional de desenvolvimento, popular e democrático que os movimentos sociais estão formulando exige a aplicação de reformas estruturais no Brasil. A Assembleia Nacional dos Movimentos Sociais convocada para o dia 31 de maio pretende unificar a ação dos movimentos e entidades para garantir que as eleições que se aproximam tragam conquistas e avanços para o povo”, diz Lúcia.

O sucesso nos debates na Assembleia é essencial também para buscar a unificação de bandeiras com o movimento sindical – que, um dia depois, em 1º de junho, realizará a Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras (Conclat) – e, dessa forma, aumentar a pressão por mudanças sociais mais profundas.

Nesta entrevista ao Partido Vivo, Lúcia conta ainda que nos próximos meses devem ser consolidados os comitês sociais e populares de campanha, cuja missão é levar ao povo o debate eleitoral com enfoque no cotidiano. “Assim podemos ajudar a aglutinar mais força para que os brasileiros façam avançar o melhor projeto para o país”.

Partido Vivo: Você acaba de assumir a Secretaria de Movimentos Sociais do PCdoB. Quais devem ser suas prioridades na pasta?
Lúcia Stumpf: As ações da Secretaria de Movimentos Sociais na nova gestão foram pensadas com o objetivo de avançarmos no trabalho do PCdoB nesta frente em todo país. O balanço feito pela gestão cessante demonstrou que, como é muito diversificada a gama de movimentos acompanhada pelo partido, a coordenação de cada frente era difícil. Por isso, teremos coordenadores – membros do Comitê Central – que vão dirigir com mais centralidade essas diversas áreas e que estarão ligados ao Fórum Nacional de Movimentos Sociais do PCdoB.

Esse Fórum Nacional de Movimentos Sociais (FNMS) do PCdoB é o novo desafio colocado para a secretaria; ele nasce com a preocupação de aumentar as condições de o partido se articular nacionalmente e será um espaço onde pretendemos congregar todas essas lutas através de uma articulação unitária do trabalho partidário nas entidades que coordena ou onde tem influência. Em resumo, o desafio é constituir e consolidar esse fórum de movimentos sociais e garantir esse novo formato de direção mais coletivo e ampliado que possibilite uma atuação mais constante e uma formulação mais atualizada. A primeira reunião do FNMS será dia 22 e sua oficialização se dará durante o 3º Encontro Nacional de Movimentos Sociais do PCdoB, de 9 a 11 de abril em Brasília.

Partido Vivo: Você está assumindo a Secretaria num ano crucial para o país e para o projeto político do PCdoB. Como pretende casar as ações específicas da frente de movimentos sociais com a necessidade de colocar o povo nas ruas lutando pela manutenção do ciclo democrático aberto por Lula?
LS: A constituição do Fórum é uma aposta no sentido de que consigamos impulsionar os movimentos sociais na articulação dessas grandes mobilizações nacionais. Com o Fórum, poderemos manter uma atuação unitária, por exemplo, na Coordenação dos Movimentos Sociais e outros grandes espaços de atuação e fazer com que cada vez mais a gente consiga casar as agendas e os projetos construídos no Fórum das Centrais Sindicais com a CMS. Ou seja, acredito que este fórum vai nos ajudar a ter uma condução positiva nos movimentos sociais durante o processo eleitoral, de maneira que avancemos no projeto a ser encabeçado pela candidatura de Dilma Rousseff.

Ao mesmo tempo, os movimentos sociais precisam aparecer com a autonomia e a independência de quem exige mais direitos para o povo e de quem precisa fazer com que os avanços sejam ainda maiores no próximo período. Um ponto importante nesse aspecto é que os movimentos sociais aprovaram durante o último Fórum Social Mundial uma agenda de lutas que vai culminar no dia 31 de maio com a realização da Assembleia Nacional dos Movimentos Sociais, seguida da Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras, dia 1º de junho.

Partido Vivo: Essa será a prioridade até lá…

LS: Sim. Daqui até lá, todo o nosso processo de organização se dará em torno da construção de uma grande assembleia, onde pretendemos aprovar o projeto que esperamos ser adotado pela próxima candidatura. Nesse programa, esperamos que figurem as grandes reformas estruturais que ainda não aconteceram.

Partido Vivo: Acha que houve avanços nesse último governo em relação aos movimentos sociais?
LS: Sem dúvida, houve grandes avanços sociais durante o governo Lula. Os movimentos sociais passaram a ser reconhecidos como um sujeito de diálogo com força política no país. Mas, a gente ainda não viu acontecer essas grandes reformas estruturantes, que vão garantir a democratização do Estado brasileiro e que vão empoderar o povo para que a gente possa se desenvolver como nação plena e soberana. Vamos exigir a aprovação dessas reformas nas discussões do dia 31 de maio e apresentar o projeto final à candidata de nosso campo à presidência da República. Até essa data, deve também se consolidar o processo de construção dos comitês sociais e populares de campanha para que os movimentos sociais possam participar de forma protagonista do processo eleitoral. Tais comitês serão geridos pelas entidades das mais diversas frentes sociais e levarão essas candidaturas majoritárias e proporcionais às ruas e para dentro das casas do povo brasileiro, mesmo que por fora das estruturas formais de campanha. O objetivo é que esses comitês estejam presentes no cotidiano do povo, levando o debate eleitoral para perto dele. Assim podemos ajudar a aglutinar mais força para que os brasileiros façam avançar o melhor projeto para o país.

Partido Vivo: Que reformas estruturantes são essas?
LS: Precisamos de uma reforma trabalhista que garanta mais direito aos trabalhadores; de uma reforma nos meios de comunicação para que sejam democratizados. Hoje, os movimentos sociais são frequentemente discriminados e criminalizados pela mídia. A reforma educacional é outro ponto fundamental porque ainda hoje a maioria do povo é excluída do processo de educação do Brasil. A reforma urbana, porque hoje as cidades grandes e médias sofrem um grande processo de deterioração por conta da forma de gestão que tem sido aplicada e que leva ao caos, ao crescimento desordenado; precisamos de moradia digna e de saneamento para o conjunto da população. Além de uma reforma política que garanta mais espaços de participação direta do povo nas decisões, através da instituição de plebiscitos e consultas públicas, e que democratize o acesso aos espaços institucionais com a aprovação do financiamento 100% público de campanha, a fidelidade partidária e votação em lista fechada.

Partido Vivo: Estas reformas fazem parte do Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento proposto pelo PCdoB. Como as ações da secretaria se ligam a esse projeto?
LS: O Programa Socialista aprovado no 12º Congresso nos colocou um grande desafio: conseguir, no próximo período, uma inter-relação entre as três esferas de atuação política – institucional, social e de luta de ideias – que deve ser elevada ao status de fundamento, pois com ela faremos avançar o processo que nos levará ao socialismo. É necessário unificar e politizar a atuação do movimento social para que a gente garanta o avanço do Novo Projeto. Portanto, um dos desafios da Secretaria nos próximos quatro anos é conseguir traduzir e disseminar o NPND entre o movimento social brasileiro. Precisamos fazer com que ele esteja no dia a dia de lutas, que as conquistas que buscamos sejam entendidas como parte desse projeto de desenvolvimento. O Fórum do PCdoB será imprescindível no sentido de fazer com que os movimentos compreendam suas conquistas específicas – muitas vezes entendidas como corporativas – como parte dessa construção maior que é o NPND. Avançar na conexão entre essas bandeiras peculiares e o NPND será um marco deste período. Dessa forma, faremos nossa proposta chegar à população.

Partido Vivo: Essa ligação entre partido e movimentos sociais muitas vezes é criticada…
LS: O PCdoB tem histórico de atuação e de respeito à autonomia dos movimentos sociais. O partido sempre fez com que seus quadros atuantes nessa área fossem dirigidos pelo partido e seguissem seus preceitos, mas entendendo que cada entidade tem sua dinâmica e sua independência, que devem ser asseguradas. As entidades que são dirigidas por pessoas do PCdoB ou que têm participação expressiva de comunistas contam com seus próprios fóruns de deliberação fora da estrutura do partido. O PCdoB entende que a independência é uma das grandes riquezas dos movimentos sociais; é o que possibilita força e amplo diálogo.

Partido Vivo: O que você destaca como pontos fortes e fracos do PCdoB nos movimentos sociais?
LS: O aspecto negativo foi justamente a falta de especialização de nossos quadros na direção de cada frente específica, dificuldade esta que tivemos devido à grande gama de temas que o PCdoB abarca. Como aspecto positivo, destaco justamente o entendimento que o PCdoB tem no que diz respeito à autonomia e à necessidade de unidade dos movimentos sociais. Precisamos que, cada vez mais, a Coordenação dos Movimentos Sociais seja o grande espaço de atuação unitária, de aglutinação de forças do povo na busca por mais avanços, por direitos sociais e pelo Brasil. Precisamos aumentar a nossa atuação e contribuir para que as ações da CMS estejam cada vez mais casadas com as do Fórum das Centrais Sindicais. Além disso, é necessário garantir um acompanhamento mais coletivo do nosso trabalho através das nossas coordenações recém-criadas que será dado pelo Fórum Nacional de Movimentos Sociais do partido.

Da redação,
Priscila Lobregatte