"Narconovelas" fazem sucesso nas tevês da Colômbia
Com a escalada e a consolidação da violência na Colômbia, as novelas que retratam o cotidiano do crime e do tráfico no país têm ocupado espaço no horário nobre nas principais emissoras de TV. Para especialistas, o êxito dessas tramas está ligado à curiosidade do público e aos anseios por segurança e poder econômico.
Publicado 17/03/2010 16:21
Uma das histórias de maior sucesso é Rosário Tirejas, baseada em um romance do escritor Jorge Franco, também adaptado para o cinema. O autor explica que o sucesso das chamadas "narconovelas" se deve, em parte, ao fato de que elas conseguem abordar a criminalidade de uma perspectiva bastante próxima.
"Essas novelas permitiram mostrar um pouco a intimidade do narcotráfico, que é um mundo mitológico, um mundo absurdo, exagerado. E por isso despertou tanto interesse", colocou.
Na trama, Rosario sofre abusos sexuais na infância e, mais tarde, se torna prostituta e assassina em Medellín. Em um de seus crimes, ela usa uma tesoura para se vingar de um estuprador – o que explica a origem do sobrenome Tijeras (tesoura, na tradução).
Atualmente, Rosario Tijeras está na grade do canal RCN, um dos principais da Colômbia. Para Franco, a massificação das "narconovelas" dá à população a possibilidade de refletir sobre problemas que afligem o país.
"Acredito que cada país tem que contar a si mesmo, ver quais são seus erros, falhas e também coisas boas. Sempre digo que todo país usou a televisão, o cinema e a literatura para contar sua história. E, lamentavelmente, a história da Colômbia tem muito a ver com o narcotráfico", declarou.
Outras séries de sucesso são El Cartel (O Cartel), Sin Tetas no hay Paraíso (Sem Seios não há Paraíso) e Las Muñecas de la Mafia (As Bonecas da Máfia).
Realidade na televisão
Para o professor Thiago Rodrigues, coordenador do curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina, o interesse por esse tipo de atração se relaciona também com necessidades sociais negligenciadas por políticas públicas.
" O que está por trás da audiência é uma vontade popular de segurança, um apreço pela autoridade, pelo sucesso econômico", avaliou.
A jornalista colombiana Martha Ruiz, editora da Revista Semana, ressalta que, por o narcotráfico fazer parte do cotidiano dos telespectadores, fica mais próxima a relação com as histórias que são contadas nas novelas.
"A máfia vai se normalizando e os mafiosos vão se instalando na sociedade como algo normal. Acredito que a televisão está mostrando algo que vivemos", afirmou.
Com Ansa