Alexandre Lucas – A liberdade como ingrediente primário da arte

.

É preciso considerar a necessidade de socializar a diversidade de fazeres e pensares sobre a arte, compreendendo que o fazer artístico precisa inevitavelmente ser amparado pela liberdade como mecanismo de inviabilizar o engessamento e o dogmatismo na arte.

Por outro lado, não significa dizer que a liberdade da/na arte aponte para produções e reflexões libertárias. Nesta mesma lógica, o conceito de arte libertária pode ser resumido ao ponto de descredenciá-la como tal, ou seja, a partir do momento que rejeita outras visões sociais de mundo e impõe uma visão reducionista de arte, como ocorreu com o Realismo Socialista. De forma contrária pode ocorrer. A produção e concepção burguesa muitas vezes podem passar como neutras e engajadas. Entretanto, é somente no campo da liberdade que a arte pode ser emancipacionista.

Na arte, o velho e o novo, o reacionário e o revolucionário cruzam-se de forma dialética, com embates acirrados ou não, viabilizando novos olhares para a realidade e as práticas estéticas e artísticas.

Nesta compreensão, a arte só pode servir como instrumento de conhecimento histórico e social, de possibilidade criativa e de mecanismo de luta para as camadas populares a partir da convivência e da compreensão da diversidade cultural, artística e política no âmbito da realidade objetiva e antagônica da luta de classes.

Essa perspectiva assinala para uma tomada de posição política diante do fazer e pensar estético e artístico. A liberdade é colocada como ingrediente primário na arte e a parcialidade é um ato que pode ser consciente ou inconsciente, pois segundo o conceito aristotélico, os seres humanos são seres políticos, independente das suas vontades e a própria omissão já é uma ação política.

É nesse bojo conflituoso que devemos enxergar que a materialização/imaterialização da arte caracteriza uma atitude política que pende para uma classe ou outra. Partindo desta concepção, podemos concluir que todo ato artístico é carregado de uma dimensão política, mesmo quando os fazeres e pensares não tenham esse intento.

Nesta abordagem não existe uma compreensão ingênua de que a liberdade seja carregada de imparcialidades, se é que essa palavra existe no campo das possibilidades histórico-sociais. É essencial efetivar a ruptura com o proibido na arte para garantir a liberdade como instrumento de humanização.

Alexandre Lucas é Coordenador do Coletivo Camaradas, Pedagogo e Artista/Educador

Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do Portal Vermelho