Opinião sobre cenário político-eleitoral em Goiás

Luiz Carlos Orro, membro nacional e estadual do PCdoB, secretário municipal de esporte e lazer de Goiânia publica opinião sobre o cenário político-eleitoral em Goiás.

Neste mês de março o assunto político mais comentado se refere ao prefeito Iris Rezende, se ele será ou não candidato ao governo estadual. Tem os que juram de pés juntos que Iris não deixará a Prefeitura; há também os que não alimentam a mínima dúvida de que ele é candidatíssimo. Guardadas as diferenças, o cenário político goiano e a atitude de prudência em que se encontra o prefeito podem ser comparados ao popular jogo de truco.

Tanto a política como o truco são jogados em parceria, não são competições individualistas. No jogo de cartas, para se ganhar o ponto, a dupla de parceiros precisa vencer pelo menos duas das três mãos da rodada. Na política, igualmente, temos três etapas pela frente. A primeira vai até fim de março. Só aí ficará claro se Iris Rezende (PMDB) e Vanderlan Cardoso (PR) renunciarão aos mandatos de prefeitos de Goiânia e Senador Canedo, se Henrique Meirelles (PMDB) se afastará da presidência do Banco Central. A segunda etapa vai de abril a junho, quando se encerra o período legal para a realização das convenções partidárias, quando se aprovam as coligações e as candidaturas. A terceira e última jornada compreende o período de campanha, de julho a 3 de outubro.

Avalio que o movimento que o político Iris Rezende faz no momento corresponde a um freio de arrumação, ele quer e precisa coesionar as forças necessárias e suficientes para entrar no jogo. E ganhar. Lá em Uruaçu, minha terra, ouvi quando menino os mais velhos ensinarem: “Nos solavancos da estrada é que as abóboras se ajeitam na carroça”. Muitos, como eu, jogam truco por pura diversão, sem apostar um centavo. Mas na política o jogo é pra valer, ninguém disputa apenas pra passar o tempo. Não sei se o prefeito de Goiânia sabe jogar truco, mas entendo que ele está enviando aos parceiros o sinal de que tem o zape, a carta mais forte do jogo. Afinal, dedicando-se dia e noite às lides de bem administrar Goiânia, há mais de cinco anos sem percorrer o interior do estado, as pesquisas o colocam na confortável posição de empate técnico com aquele que poderá ser o seu principal oponente, o senador Marconi Perillo PSDB), que tem nas mãos o sete de copas, a segunda carta na hierarquia do jogo.

Os parceiros de Iris, e o principal deles é o presidente Lula, tem até este fim de mês para responder, sinalizando se entrarão na rodada com uma espadilha, um sete de ouro, ou pelo menos um 3, o que seria suficiente para ganhar o jogo de outubro. A coesão interna do PMDB e do PT goianos em torno da candidatura Iris, uma candidatura de Meirelles ao Senado, tudo isso pode representar mais uma boa carta pra fazer a mão final, já que as pesquisas sinalizam que aquela que Iris tem garante uma, talvez a primeira, o que é uma grande vantagem. É como se diz em roda de truco: “Primeira feita, Augustinha na garupa”. Nesses dias de enchente de São José, das águas de março fechando o verão, com bem cantou Tom Jobim, o momento é de apurar se o parceiro é pé pra valer ou se é de sapé, ou seja, se entrará no jogo apenas com figuras, com participações fracas que não sustentarão a força do zape.

Na disputa real, estão dois projetos distintos. As forças que integram o campo do presidente Lula e da futura candidata Dilma Roussef querem ver o Brasil e Goiás avançando no campos do desenvolvimento econômico e social, do Brasil altivo e soberano, com o crescimento da produção, da geração de empregos, da moradia para os trabalhadores, da ampliação das vagas nas universidades e centros tecnológicos públicos, do apoio alimentar aos pobres. O outro lado se opõe a isso, quer reeditar os tristes tempos de FHC. Há milhares de anos, o sábio chinês Sun Tzu (A arte da Guerra) já ensinava que a batalha deve ser ganha antes de ser iniciada, com o conhecimento da própria força e a do adversário, com preparação e planejamento adequados, com a composição de alianças e acordos que permitam suplantar o oponente.

Iris pode até não jogar truco, mas de política ele entende muito.

* Luiz Carlos Orro é membro dos Comitês Central e Estadual do PCdoB, secretário municipal de esporte e lazer de Goiânia e membro do Conselho Nacional do Esporte.