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Mídia apela à ficção para mascarar truculência do governo Serra

Estive no ato organizado pelo Sindicato dos Professores do
Estado de São Paulo nos arredores da sede do Governo Paulista. A versão da
imprensa oficial me assustou assim que liguei a televisão: uma assustadora
cena de ficção avançava e retrocedia no tempo, montando uma narrativa
grotesca.

Por Augusto Chagas, presidente da UNE

Trechos literais: “…enquanto uma comissão de professores era
recebida no Palácio para discutir as reivindicações da categoria, um pequeno
grupo não identificado saiu em direção aos policiais…”, “O grupo tentou
furar o bloqueio e começou a provocar os policiais…”. Com toque
cinematográfico, a matéria congela a imagem sobre uma pedra que atinge um
policial e conclui: “A policia reage com bombas de efeito moral e balas de
borracha!”. Seria cômico se não fosse trágico.

10 mil professores

Pois vamos aos fatos. Enquanto a comissão do Sindicato era recebida, os
professores saíram em passeata rumo ao Palácio e foram impedidos de
prosseguir pela barreira da tropa de choque. O “pequeno grupo não
identificado” que a matéria se referia eram os 10 mil professores e
professoras participantes da manifestação.

Eu estava na barreira policial quando tudo começou. O clima era tenso, mas
controlado. Aproveitando-se de um empurra-empurra a polícia não titubeou:
bombas, gás pimenta, balas de borracha e cassetetes. Caí no chão com vários
professores no meio do tumulto, perdi os sapatos e fui atingido no rosto de
raspão – comigo só um arranhão e um tornozelo torcido, mas muita gente ficou
foi bastante ferida.

Responsabilidade da PM

E, diferente da versão “oficial”, a verdade é que
absolutamente tudo começou por responsabilidade da Polícia Militar. Ela
iniciou um confronto desnecessário. Em determinadas situações podemos
atribuir desfechos como este ao despreparo e truculência policial.
Presenciei tudo e afirmo: a PM atacou os professores de São Paulo e o fez de
maneira deliberada.

Todos temos acompanhado nas últimas semanas o debate público que tem
ocorrido sobre a greve dos professores. O Governo de São Paulo através de
vários representantes tem afirmado que trata-se de uma greve política, uma
afirmação de caráter bem duvidoso. Afinal, bendita é a sociedade que tem nos
seus professores uma parcela consciente e politizada.

No caso da APEOESP, podemos afirmar com toda a certeza que trata-se de uma
categoria organizada, que mesmo com suas divergências sabe unificar-se para
lutar pelos seus direitos. Por isso, os professores da rede pública paulista
têm tradição nas suas passeatas dando demonstrações de força e
combatividade.

Os estudantes apoiam a greve. Estávamos presentes hoje novamente para
concordar que as condições de trabalho do professorado paulista deixam muito
a desejar: o salário base de um professor no Estado mais rico do Brasil
varia de R$ 785,50 a R$ 909,32. Concordamos também que as atuais políticas
de bônus e gratificações não são a solução.

Coitado do Governante que não sebe ouvir. O Governo de São Paulo prefere
desconsiderar as reivindicações dos professores paulistas. Suas afirmações
recentes e a reação da Polícia no ato de hoje revelam uma face autoritária.
No caso do Governador de São Paulo, além da inexplicável inabilidade para
alguém que iniciou sua trajetória no movimento social, presidindo a UNE
inclusive, trata-se de um defeito grave para alguém que pleiteia assumir a
Presidência da República. A consolidação da democracia brasileira exige que
a relação Governo-Sociedade se dê em outro tom. Disposição e coragem aos
professores de São Paulo que devem perseverar na sua luta. Os estudantes e
todos os que acreditam numa educação de qualidade continuarão a apoiá-los.