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À custa de quem os banqueiros estão lucrando tanto?

Estudo divulgado terça-feira (30) pela empresa de consultoria Economática revela que os bancos brasileiros abocanham as mais altas taxas de lucros da América Latina e EUA. Superam até as instituições norte-americanas, embora essas detenham ativos maiores e, por esta razão, apresentem melhores resultados em termos absolutos. À primeira vista, isto pode parecer uma boa notícia para o Brasil, mas quando nos damos ao trabalho de investigar a origem desta rentabilidade a conclusão é bem diferente.

Por Umberto Martins

A Economática usa dois conceitos distintos em sua avaliação, que contempla as instituições com ativos superiores a 100 bilhões de dólares. No primeiro, o de lucratividade, que considera apenas o volume de lucros obtidos por empresa, os Estados Unidos levam vantagem, pois ainda possuem, apesar da crise, os maiores bancos da região, incluindo os quatro mais lucrativos: Goldman Sachs, Wells Fargo, JP Morgan Chase e Bank of America. Todos receberam generosa ajuda do governo dos EUA no auge da crise, em 2008. Foram resgatados da falência e, graças ao dinheiro público, registraram lucros entre US$ 6,2 bilhões a US$ 13,38 bilhões em 2009.

Taxa de lucro

No segundo conceito, o de rentabilidade, a consultoria leva em conta os lucros como proporção do patrimônio, um critério que se assemelha ao que define a taxa de lucro (lucro em relação ao capital). Neste caso, as instituições brasileiras levam a melhor, pois, embora donas de um patrimônio menor, extraem um excedente proporcionalmente maior.

Banco do Brasil, Itaú e Bradesco tiveram ganhos entre US$ 5,8 bilhões a US$ 4,6 bilhões no ano passado e rentabilidade sobre o patrimônio de 34,75%, 24,19% e 23,82%, respectivamente. Os bancos estadunidenses mais rentáveis ficaram bem atrás neste aspecto: Goldman Sachs teve rentabilidade de 19,82%, American Express, 16,23% e Wells Fargo, 11,64%.

Usura

A usura e a exploração desmedida de funcionários e clientes estão na origem deste desempenho. Não é muito difícil identificar as três principais fontes dos lucros apropriados pelos gananciosos banqueiros brasileiros: juros e spreads escorchantes; tarifas abusivas e exploração dos bancários. Os trabalhadores não participam do banquete.

Estudo do Instituto Brasileira de Defesa do Consumidor (Idec), divulgado nesta 3ª feira pelo jornal “O Estado de São Paulo” revela que as tarifas de serviços bancários subiram até 328% entre abril de 2008, ocasião em que o Banco Central definiu novas regras para o ramo, e fevereiro deste ano, percentual 33 vezes superior à inflação verificada no período (9,88%). Um despropósito que deveria ser coibido pelas autoridades econômicas, mas não é. As tarifas foram parar nas nuvens após a relativa estabilidade monetária e hoje respondem por boa parcela dos lucros totais.

Tarifas nas nuvens

Quanto aos juros e spreads, os bancos ganham na condição de grandes detentores de títulos públicos, em boa medida remunerados pela Selic (taxa básica de juros, que hoje é a maior do mundo) e também ao embolsar os spreads dos empréstimos contraídos por empresas e indivíduos. A taxa cobrada nesses casos chega a 153% ao ano (cheques especiais).

A usura sai caro para o país. No ano passado, o pagamento dos juros da dívida interna consumiu 5,4% do PIB, configurando uma brutal transferência de renda do conjunto da sociedade para a oligarquia financeira, que se faz subtraindo verbas que deveriam ser destinadas à saúde, educação, habitação, saneamento, infra-estrutura e melhoria dos serviços públicos. A DRU (Desvinculação das Receitas da União) foi criada para viabilizar esta perversa redistribuição da renda nacional.

Além de deprimir os investimentos do setor público, as altas taxas de juros restringem a demanda interna e a expansão das empresas. Enfim, os banqueiros brasileiros estão lucrando tanto à custa do povo e do desenvolvimento nacional. A oligarquia financeira pode ter razão para comemorar. O povo não.