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Greve dos professores de SP continua mesmo com fim da era Serra

Na mesma tarde em que o governador José Serra anunciou sua renúncia ao governo paulista para concorrer à Presidência da República, professores da rede estadual de ensino mantiveram, por tempo indeterminado, uma greve emblemática da gestão do PSDB. Enquanto Serra falava nesta quarta-feira (31) num legado de transparência, respeito ao outro e eficiência, a assembleia com 60 mil docentes denunciava o desmonte da educação pública em São Paulo e a ojeriza tucana ao diálogo.

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A Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) deixou claro a saída de Serra do governo não muda o espírito da mobilização. “Se a greve fosse eleitoreira e quisesse apenas prejudicar Serra, voltaríamos hoje às aulas. Mas não! Nada indica que a intransigência do governo vai acabar”, disse a presidente da entidade, Maria Izabel Noronha.

No horário do almoço, a Apeoesp se juntou a outras 41 entidades sindicais e promoveu um “bota-fora” para Serra no vão livre do Masp, na Avenida Paulista. O ato distribuiu coxinhas à população para denunciar o parco valor (R$ 4) do vale-refeição dos servidores estaduais — um verdadeiro “vale-coxinha”.

De lá, os docentes saíram em passeata até a Praça da República, no centro de São Paulo, onde fizeram a assembleia em frente à sede da Secretaria da Educação. Os professores reivindicam 34,3% de reajuste salarial, incorporação de todas as gratificações, plano de carreiras e concurso público.

Para pressionar o sucessor de Serra no governo, Alberto Goldman, a abrir negociações, a Apeoesp agendou nova assembleia para 8 de abril, na Praça da República. A rede estadual de ensino tem cerca de 200 mil professores 5 mil escolas. Segundo o sindicato, 60% da categoria está paralisada.

O professor de Geografia Caio Svorts, de apenas 22 anos, lamentou que, desde o início de sua carreira profissional, nunca teve um aumento salarial sequer. “Parece a época de congelamento geral — só que esqueceram de congelar a inflação”, ironizou. Em sua opinião, “a greve á tão política quanto o secretário de Educação”, Paulo Renato. “Ele não consegue fazer um comentário à imprensa sem pensar nas eleições.”

Solidariedade

Ao longo do dia, CUT e Força Sindical lançaram notas em solidariedade a líder dos professores, Maria Izabel — que vem sendo covardemente atacada pelo governo tucano e pela grande imprensa paulista desde o início da greve. “O regime totalitário de Serra, por não admitir oposição, opta pela criminalização dos movimentos sociais. Desde a aprovação da data-base dos servidores, em 2006, jamais o governador aceitou estabelecer uma mesa de negociação com os servidores públicos paulistas”, denunciou Artur Henrique, presidente da CUT.

Já João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força, afirmou que sua central defende “os filhos dos trabalhadores que estão nas escolas públicas. A intransigência do governo do estado, que desde 2005 concedeu apenas 5% de aumento salarial, enquanto a inflação nesse período foi de 22%, demonstra insensibilidade social. Este dado deixa claro o arrocho salarial dos professores, visto que a maioria das categorias profissionais do estado tiveram reajustes acima da inflação”.

De São Paulo,
André Cintra