Sem categoria

África do Sul: Chefe racista é morto por não pagar salários

Um líder neonazista sul-africano foi espancado até a morte no último sábado, em sua propriedade, em Ventersdorp, no noroeste do país. Eugène Terreblanche foi atacado e morto depois de uma briga com dois empregados, um deles menor de idade, devido a salários não pagos.

Os dois suspeitos já foram detidos e acusados do crime de homicídio. “Ninguém tem o direito de exercer justiça pelas suas próprias mãos”, disse o presidente Jacob Zuma, líder do Congresso Nacional Africano, partido majoritário desde as primeiras eleições multipartidárias e multirraciais efetuadas na África do Sul, em 1994, após o fim do regime racista.

“É neste contexto que a morte de Terre'Blanche deve ser condenada, independentemente da forma como os seus assassinos pensem que teriam alguma justificação. Não tinham o direito de lhe tirar a vida”, diz um comunicado distribuído pelo gabinete de Zuma.

Ebrahim Fakir, analista do Electoral Institute of Southern Africa, disse hoje à rede de televisão catariana al-Jazira ser improvável que a causa dos fascistas brancos, personificada por Terre'Blanche, morra com ele. Os brancos continuam a deter grande parte do poder econômico e das terras, apesar de a maioria negra ter assumido há 16 anos o poder político do país.

Eugene Ney Terre'Blanche, nascido em 1941, era descendente de colonos franceses, neto de Etienne Terre'Blanche que lutou pelos Boers (agricultores brancos holandeses) contra os ingleses e filho de um tenente-coronel da SADF, o exército racista sul-africano.

Membro da força policial de elite, escolhido para proteger o primeiro-ministro, John Vorster, Eugene Terre'Blanche fundou o Movimento de Resistência Afrikaner (AWB, Afrikaner Weerstadsbeweging), em 1970, um movimento que defendia a criação de três estados de racistas. No seu auge, a AWB tinha 70.000 membros entre os 3,4 milhões de Boers.

No entanto, com o fim do apartheid na África do Sul o movimento de Terre'Blanche perdeu credibilidade e sentido. O racista foi preso em 1997 e condenado a seis anos pela tentativa de assassinato de um trabalhador na sua propriedade em Ventersdorp no norte do país.

Quando foi libertado, em 2004, caiu no ostracismo, apesar de sua tentativa de aparecer junto ao público no ano passado, quando estridentemente pediu à ONU que criasse uma "pátria branca" na África do Sul.

Ele e seu movimento neonazista foram implicados em atividades terroristas antes das primeiras eleições democráticas de 1994, no qual 21 pessoas foram mortas e centenas feridas, um fato que aceitou publicamente perante a Comissão de Verdade e Reconciliação.

A pequena credibilidade que o movimento tinha entre os brancos racistas desapareceu após o fracasso da invasão das terras da tribo Bophuthatswana, em 1994, quando a AWB foi derrotada pela polícia local.

Enquanto a África do Sul teve uma política governamental de inclusão sensata, baseando governança na competência e não na cor, Terre'Blanche tornou-se cada vez mais uma figura apartada da realidade e da coerência, parafusada no regime putrefato do apartheid.

O racista morreu pelas mãos de dois trabalhadores rurais, que afirmam que não foram pagos, por meio de um panga (faca de caça) e um knobkerrie (clube).

O ataque a Terre'Blanche ocorrem em seguida a um ataque a uma mulher branca — Anika Tikkie Smit, que teve as mãos decepadas — e a dez semanas antes da África do Sul sediar a Copa do Mundo.

Da redação, com agências