Luciano Moura homenageia Gregório Bezerra

Através de iniciativa do deputado estadual Luciano Moura, os 110 anos de nascimento do ex-deputado e líder comunista Gregório Bezerra foram lembrados nesta terça-feira (30), em sessão solene, na Assembléia Legislativa de Pernambuco.

eputado luciano moura

Em seu pronunciamento, o parlamentar destacou a trajetória política do revolucionário pernambucano, descrito por Ferreira Gullar como um "homem de ferro e flor" e exemplo de luta em defesa do povo brasileiro. A família foi representada na solenidade pelo filho do homenageado, Jurandir Bezerra, que recebeu das mãos do deputado Luciano Moura uma placa comemorativa. “Estou muito emocionado. Guardarei este momento tão especial pelo resto da minha vida”, declarou Jurandir Bezerra.

Compareceram à sessão os deputados Nelson Pereira (PCdoB) e Sebastião Rufino (PSB); os vereadores de Olinda, Ula e Marcelo Santa Cruz; o presidente da Associação Pernambucana de Anistiados Políticos, Antônio Campos; o secretário de Meio Ambiente da Prefeitura do Recife, Roberto Arrais, entre outras autoridades.

Leia na integra o pronunciamento do deputado Luciano Moura em homenagem à Gregório Bezerra:


“Um homem feito de ferro e flor”. As palavras de Ferreira Gullar retratam com exatidão a figura humana e grande líder revolucionário: Gregório Bezerra.

O filho de Lourenço Bezerra e Belarmina Conceição nasceu no dia 13 de março de 1900, no município de Panelas, situado no Agreste pernambucano. Já na infância, enfrentou, com seus pais e oito irmãos, a realidade da seca e da fome.

Aos oito anos de idade, devido ao falecimento dos pais, veio morar na capital pernambucana, onde trabalhou como doméstico de uma família latifundiária, mas logo depois fugiu por ser vítima de maus tratos.

Entre as várias atividades que exerceu, uma delas foi a de jornaleiro. Como não sabia ler, pedia que seus colegas relatassem as notícias e, a partir daí, começou a despertar o interesse pela política.

Logo depois, em 1917, já trabalhando como operário na construção civil participou de uma importante greve, que tinha como umas das reivindicações a jornada de 8 horas diárias de serviço e em favor da Revolução Bolchevique. Na ocasião, foi acusado de perturbar ordem pública e cumpriu cinco anos de prisão.

Após ser libertado, alistou-se no Exército, alfabetizou-se e , em 29, conseguiu entrar na Escola de Sargentos. Neste período, através da leitura, conheceu o marxismo; ideologia que abraçou durante toda sua vida, pois acreditava que só assim poderia haver uma sociedade mais justa e melhor.

Filiou-se ao Partido Comunista do Brasil e, em 1935, era um dos líderes do movimento da Aliança Nacional Libertadora (ANL), que combatia o fascismo e a guerra. Com o movimento derrotado, foi preso, espancado e barbaramente torturado, sendo condenado a 28 anos de prisão.

Foi transferido para a Ilha de Fernando de Noronha e posteriormente para o presídio da Ilha Grande, no Rio de Janeiro. O restante da pena foi cumprida no presídio Frei Caneca, onde ficou na mesma cela que Luiz Carlos Prestes.

Após o término do Estado Novo, em 1945, é anistiado e eleito deputado federal constituinte pelo PCB de Pernambuco, onde atuou em prol dos direitos dos trabalhadores. Dois anos mais tarde, o PCB volta à ilegalidade e Gregório teve seu mandato cassado.

Pouco depois, um incêndio no 15º RI do Exército em João Pessoa é atribuído aos comunistas e Gregório é preso novamente, sendo absolvido após dois anos.

Liberto, trabalhou na clandestinidade em diversos estados, organizando sindicatos rurais, associações, concentrações camponesas, entre outros.

Senhor presidente, senhoras e senhores,

Ao retornar ao estado, Gregório foi integrante da Frente do Recife, que elegeu Pelópidas da Silveira, prefeito do Recife; Cid Sampaio, governador; e Miguel Arraes, prefeito do Recife e, posteriormente, Governador de Pernambuco.

Em 1964, na tentativa de enfrentar o Golpe Militar, é detido na Usina Pedrosa, em Ribeirão e conduzido para o Recife, onde é torturado em praça pública e arrastado pelas ruas do bairro de Casa Forte, com uma corda amarrada no pescoço.

Foi libertado, somente, no ano de 69, trocado, junto com outros 13 presos políticos, pela vida do embaixador americano sequestrado no Brasil. Mesmo saindo da prisão, Gregório não pôde fica no país e foi enviado ao México e União Soviética.

Após dez anos, e beneficiado pela anistia e retorna ao Brasil. Em 1982, candidata-se a deputado federal pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro, o PMDB, onde fica como suplente.

Já doente, é levado para a cidade de São Paulo. Na enfermidade, declarou que “Gostaria de ser lembrado como o homem que foi amigo das crianças, dos pobres e excluídos; amado e respeitado pelo povo, pelas massas exploradas e sofridas; odiado e temido pelos capitalistas, sendo considerado o inimigo número um das Ditaduras Fascistas”.

E assim foi. Após seu falecimento, no dia 23 de outubro de 1983, teve o corpo velado aqui nesta Casa, onde várias pessoas prestaram homenagem à grande figura humana e política que era Gregório. Cidadão que passou grande parte de sua vida detido e na clandestinidade, longe da esposa Maria da Silva Bezerra, e dois filhos Jurandir e Jandira, que tiveram que viver com muitas dificuldades financeiras e longe do pai.

Portanto, nada mais justo, que a Assembleia Legislativa de Pernambuco preste esta singela homenagem aos 110 anos de nascimento de um homem cuja trajetória de 83 anos de vida foi permeada de sonhos e lutas em defesa do povo brasileiro.

Aproveito para externar minha admiração pelas pessoas que, como Gregório, batalham em defesa de uma nação mais justa e soberana, em especial ao seu filho, Jurandir Bezerra, que também foi perseguido e sofreu as barbaridades da ditadura militar.

Encerro meu pronunciamento, fazendo minhas as palavras do poeta Ferreira Gullar no poema A história de um Valente.

“Valentes, conheci muitos,
e valentões, muito mais.
Uns só Valente no nome
uns outros só de cartaz,
uns valentes pela fome,
outros por comer demais,
sem falar dos que são homem
só com capangas atrás.

Mas existe nessa terra
muito homem de valor
que é bravo sem matar gente
mas não teme matador,
que gosta da sua gente
e que luta a seu favor,
como Gregório Bezerra,
feito de ferro e de flor”.

Fonte: Site do Vereador Luciano Siqueira