Luis Favre: PSDB dá o pontapé inicial à campanha do estelionato
Vale a pena ler o discurso de José Serra, estruturado como instrumento de propaganda e que pode ser resumido assim: prometo fazer o que não fizemos, nem quando governamos o Brasil durante oito anos, nem no estado de São Paulo que governamos faz 16. Prometo que farei, e esqueçam o que fizemos e dizemos até agora.
Por Luis Favre, em seu blog
Publicado 10/04/2010 14:49
Lembram do senador tucano ameaçando dar uma surra no presidente Lula? Lembram os que cogitavam ilegalizar o PT em 2005? Lembram o famoso “vamos acabar com essa raça”, utilizado por Bronhausem contra o PT? Pois bem, sob os aplausos entusiastas do mesmo Bornhausem, Arthur Virgílio e demos vários, Serra proclama: “Não aceito o raciocínio do nós contra eles. Não cabe na vida de uma Nação. Somos todos irmãos na pátria. Lutamos pela união dos brasileiros e não pela sua divisão. Pode haver uma desavença aqui outra acolá, como em qualquer família. Mas vamos trabalhar somando, agregando. Nunca dividindo. Nunca excluindo.”.
O mesmo que recusa qualquer negociação com os servidores. O mesmo que sistematicamente procura destruir a reputação de seus adversários, de Roseana a Marta Suplicy, passando por alguns de seus “companheiros” como Alckmin, Tasso Jereissatti e o próprio Aécio (aquele que teria batido na mulher… só para lembrar). O caro do trololó, falando em “família e união” (sic).
Após essa proclamação, Serra procede a atacar o governo Lula na questão da educação e afirma: “Estou convencido de uma coisa: bons prédios, serviços adequados de merenda, transporte escolar, atividades esportivas e culturais, tudo é muito importante e deve ser aperfeiçoado. Mas a condição fundamental é a melhora do aprendizado na sala de aula, propósito bem declarado pelo governo, mas que praticamente não saiu do papel.”
É isso. São Paulo pode mais, mesmo! O “propósito bem declarado pelo governo” estadual e municipal dos demo-tucanos, “praticamente não saiu do papel”.
Serra podia ter citado o que escreveu o jornal O Estado de S. Paulo em 5/2/2010:
Na comparação com os resultados de 2008, a média dos alunos apresentou ligeira melhora em português, mas o desempenho em matemática chegou a piorar nas 4ª, 6ª, 7ª e 8ª séries.
Os estudantes dos anos mais avançados tiveram as piores notas. Na 8ª série, por exemplo, apenas 8,7% alcançaram níveis satisfatórios em matemática e 17% em português.” (OESP, 5/2/2010).
Ou ele poderia contestar o que seu jornal favorito constatou: “Maioria dos alunos que concluem ensino médio em SP têm avaliação ruim em matemática.” (Folha de S.Paulo, 26/2/2010).
Vamos repetir, esses resultados são do governo estadual de São Paulo, após 16 anos de governos tucanos, durante os quais governaram também o Brasil durante oito anos!
O mesmo procedimento e o mesmo método, quando Serra aborda a questão da criminalidade, as drogas e a violência. Passando em silêncio a cruzada de FHC em favor da liberalização da maconha, o candidato tucano afirma:
Os homicídios aumentam no estado de São Paulo, o latrocínio também e o roubo, o furto e outras modalidades da criminalidade. O estado de São Paulo é mínimo no seus resultados, sendo a segurança de sua inteira responsabilidade e tendo criticado em permanência o trabalho do governo federal para uma política nacional de segurança. Serra poderia ter informado ao menos seus próprios resultados a plateia selecionada para aclamá-lo:
Roubo
2006- 213.476
2007- 217.201
2008- 217.967
2009- 257.004
Latrocínio (roubo-morte)
2006- 26
2007- 218
2008- 267
2009- 304
Além da proposta de mudar o nome da PM e de ter trocado várias vezes de secretário estadual de Segurança, qual foi a contribuição de Serra, fora fazer que volte a subir uma taxa de homicídios que vinha declinando antes dele?
Teve também, no discurso de Serra, proclamações sobre meio ambiente, sobre verde e poluição (todos itens no qual o estado de São Paulo apresenta péssimos resultados).
Teve espaço no discurso, para posar de economista e criticar os juros ou a queda das exportações. Mas foi pouco, porque contrariamente ao que Serra vaticinou em 2008, a crise não provocou tsunami nenhum e o Brasil mostrou que tinha um comando com visão, o presidente Lula. O emprego tampouco ocupou muito espaço, porque daria muito trabalho ao tucano tentar atacar o PT nesse quesito, ou simplesmente porque não tem grande coisa a dizer. Ele mencionou os problemas de infraestrutura, mas en passant como diria Lula, porque de sua biografia tão falada, a sua passagem como ministro de Planejamento de FHC nunca aparece.
Logicamente falou de saúde e quase que insinua que criou o SUS e, de maneira alambicada para os ouvintes não perceberem o engodo, passa a ideia de ter criado os genéricos e se atribui a criação do seguro-desemprego, o que tampouco é verdadeiro.
Conclusão. Mesmo os articulistas afins — é são muitos — dificilmente poderão enxergar no discurso uma “visão estratégica” sobre o país e do caminho que devemos continuar a trilhar para consolidar o enorme trabalho realizado.
O discurso seguiu o roteiro “cantado” de apregoar o continuísmo, sem continuidade. Continuar o que dá certo e corrigir o que está errado e outras banalidades ditadas pelos marketeiros para fugir da falta de discurso da oposição. Falar do nada!