Renato Rabelo é reintegrado à UFBA em ato marcado pela emoção

“Reintegração de Renato Rabelo à UFBA: uma vitória da democracia”, dizia a faixa fixada no alto do salão nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia(UFBA) nesta segunda-feira (12/4), em Salvador. O presidente nacional do PCdoB foi oficialmente reintegrado ao curso de Medicina, 44 anos após ter sido impedido de continuar os estudos e se formar médico, forçado à clandestinidade durante a ditadura militar brasileiral, iniciada em 1964.

Vinte anos após a promulgação da Lei de Anistia e com 15 anos de processo na justiça, o Estado brasileiro, por decisão da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, no final de 2009, restitui o direito legítimo de Rabelo de retornar à Faculdade de Medicina de onde saiu perseguido pelos militares. Renato era presidente da União Estadual dos Estudantes quando foi obrigado à clandestinidade em 1966. “A nossa Universidade tinha esse débito, essa dívida, e esse é um momento muito interessante, que nos permite recompor algumas das cicatrizes desse passado histórico recente”, declarou o reitor da UFBA, Naomar Almeida.

Para o PCdoB, partido de Rabelo, que ficou 15 anos na ilegalidade e enfrentou um regime que cerceou toda e qualquer forma de liberdade, pagando inclusive com a vida de 25 militantes comunistas reconhecidos como mortos pela ditadura e outros 57 desaparecidos somente na Guerrilha do Araguaia, que coincidentemente completa aniversário nesta data, a decisão da Comissão da Anistia é um resgate histórico e uma conquista democrática. “Sem nenhum revanchismo, mas é a afirmação de que valeu a pena lutar, resistir e confiar na sociedade brasileira; de que ela seria capaz de corrigir, no processo democrático, os erros que cometeu no passado”, afirmou o presidente do PCdoB na Bahia, Daniel Almeida.

E o partido se fez presente na cerimônia de reintegração com sua militância. Lá estavam estudantes, dirigentes partidários, gestores públicos, parlamentares – os deputados estaduais Álvaro Gomes e Javier Alfaya; as vereadoras de Salvador, Olívia Santana e Aladilce Souza; os prefeitos de Juazeiro, Isaac Carvalho, e Capela do Alto Alegre, Dr. Nei; o diretor-presidente da Bahiagás, Davidson Magalhães; o diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo e Gás Natural, Haroldo Lima -, que fizeram questão de prestigiar, cumprimentar e aplaudir Renato Rabelo. “Nós estamos liquidandos com as nossas contas passadas. O que está se fazendo agora é uma restauração simbólica; evidentemente que ele não vai voltar a estudar, mas ele passa a ser um estudante honorário de Medicina”, comemorou Haroldo Lima, do alto da experiência de quem tem 38 anos de PCdoB e mais ainda de militância política.

Os ideais e a ousadia dos jovens que ousaram enfrentar a Ditadura Militar, iniciada em 1964, foram lembrados em muitos pronunciamentos “Esse ato representa, simbolicamente, um coroamento de uma luta histórica dos estudantes. A geração de Renato Rabelo ainda é espelho para a juventude de hoje, que faz a luta, que faz o movimento estudantil, que se inspira naqueles anos de enfrentamento da ditadura e de luta pelo fortalecimento da democracia”, destacou o atual presidente da União dos Estudantes da Bahia – UEB, Vladimir Meira. A entidade, inclusive, prestou uma homenagem a Rabelo, que a presidia quando foi expulso da Faculdade de Medicina, com a entrega da sua bandeira sob os gritos de “UEB pra frente, Renato presidente”.

O ato também foi prestigiado pelo diretor da Faculdade de Medicina da UFBA, José Tavares Neto; o secretário estadual de Saúde, Jorge Solla; o presidente do Sindicato dos Médicos da Bahia, José Caires Meira; a conselheira da Comissão de Anistia, Ana Guedes; entre outros. Ao término da cerimônia, um coquetel marcou o lançamento na Bahia do livro “Idéias e Rumos”, de autoria de Renato Rabelo, visivelmente emocionado durante toda a noite.

“Valeu à pena 15 anos de vida clandestina, de exílio e de prisão? De longo período de perseguição, tensão, separação e reencontros? Da luta dos quais muitos pagaram com a vida? Chegar aqui, hoje, é resultado de uma luta libertária de muitas gerações em defesa do Brasil, da democracia e da justiça social. Tudo isso é resultado de um novo tempo, duramente conquistado. Sim, valeu a pena e eu tenho muito orgulho da minha geração e da contribuição para a construção de um Brasil moderno, justo e solidário que, na nossa concepção, se consagra pelo socialismo”, declarou Renato, aplaudido de pé.

De Salvador,
Camila Jasmin