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Comunicadores formam rede em defesa da reforma agrária

A Rede de Comunicadores pela Reforma Agrária, lançada na noite desta terça-feira (27), em Brasília, é uma resposta à campanha de criminalização dos movimentos sociais que lutam pela reforma agrária. Segundo os organizadores da Rede, “a ofensiva é liderada pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), reproduzida pela bancada ruralista no Congresso Nacional e pela mídia conservadora, e apoiada pelos setores reacionários instalados no Poder Judiciário.”

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A Rede de Comunicadores pela Reforma Agrária já foi lançada em São Paulo, no dia 11 de março e está em processo de criação no Rio de Janeiro, Ceará e Bahia. A proposta da Rede é denunciar as barbaridades cometidas pelos latifundiários no campo, pressionar o governo federal para atualizar os índices de produtividade rural, divulgar o protagonismo da agricultura familiar e exigir que o Estado brasileiro pague a dívida social secular com os trabalhadores e trabalhadoras rurais.

A proposta é que a rede de comunicadores em apoio à reforma agrária tenha caráter nacional. Com isso, a Rede quer “criar mecanismos para furar o bloqueio que a grande mídia impõe aos assuntos que envolvem as lutas dos movimentos sociais.”

Durante o ato de lançamento, houve um debate com a participação do cientista político e professor da Universdade de Brasília (UnB) Venício Lima, do jornalista da Carta Capital Leandro Fortes e do assessor do Instituto de Estudos Sócio-Econômicos (Inesc) Edélcio Vigna (Mensagem do jornalista Leandro Fortes, no blog Brasília, Eu Vi).

A Rede de Comunicadores denuncia que está em curso uma ofensiva conservadora no Brasil contra a reforma agrária e contra qualquer movimento que combata a desigualdade e a concentração de terra. E você não precisa concordar com tudo que o MST faz para compreender o que está em jogo.

E para exemplificar, eles lembra o caso da notícia, veiculada exaustivamente pelas grandes redes de TV, que mostrava a imagem de um trator derrubando laranjais no interior paulista, mas sem dizer que a fazenda era grilada – roubada da União – pela empresa Cutrale. Agricultores miseráveis foram presos. Seriam os responsáveis pelo "grave atentado". O recado é claro: quem defende reforma agrária é "bandido", é "marginal". Exemplo claro da campanha de “criminalização” dos movimentos sociais.

Quem comanda essa campanha tem dois objetivos: impedir que o governo federal estabeleça novos parâmetros para a reforma agrária (depois de três décadas, o governo planeja rever os “índices de produtividade” que ajudam a determinar quando uma fazenda pode ser desapropriada); e “provar” que os que derrubaram pés de laranja são responsáveis pela “violência no campo”.

Comparando, seria como se, na África do Sul do Apartheid, um manifestante negro atirasse uma pedra contra a vitrine de uma loja onde só brancos podiam entrar. A mídia sul-africana iniciaria então uma campanha para provar que a fonte de toda a violência não era o regime racista, mas o pobre manifestante que atirou a pedra.

No Brasil, a situação é semelhante: a violência no campo não é resultado de injustiças históricas que fortaleceram o latifúndio, mas é causada por quem luta para reduzir essas injustiças.

O que não aparece

A violência e a impunidade no campo podem ser traduzidas em números: mais de 1500 agricultores foram assassinados nos últimos 25 anos. Levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) mostra que dois terços dos homicídios no campo nem chegam a ser investigados. Mandantes (normalmente grandes fazendeiros) e seus pistoleiros permanecem impunes. Mas esses crimes dificilmente são noticiados.

Para os organizadores da Rede, “a reforma agrária interessa a todo o povo brasileiro, aos que se envergonham com os acampamentos de lona na beira das estradas brasileiras, onde vive gente expulsa da terra, sem um canto para plantar – nesse país imenso e rico, mas ainda dominado pelo latifúndio.”

E acrescentam: “A reforma agrária interessa, ainda, a quem percebe que a violência urbana se explica – em parte – pelo deslocamento desorganizado de populações que são expulsas da terra e obrigadas a viver em condições medievais, nas periferias das grandes cidades.”

Para conquistar novas adesões, o Manifesto da Rede convoca os brasileiros a refletir, junto com os demais membros da Rede, por que tanto ódio contra quem pede, simplesmente, que a terra seja dividida? como reagir a essa campanha infame no Congresso e na mídia? e como travar a batalha da comunicação, para defender a reforma agrária no Brasil?

“Independente de concordarmos ou não com determinadas ações daqueles que vivem anos e anos embaixo da lona preta na beira de estradas, estamos em um momento decisivo e precisamos defender a reforma agrária. Se você é um democrata, talvez já tenha percebido que os ataques coordenados contra o MST fazem parte de uma ofensiva maior contra qualquer entidade ou cidadão que lutem por democracia e por um Brasil mais justo”, conclui o texto.

De Brasília
Márcia Xavier