Stédile: MST amplia foco e propõe aliança com a cidade
Há cerca de 30 anos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) começou a se organizar nacionalmente com um propósito: promover a reforma agrária no Brasil. Os anos passaram, o movimento se consolidou, milhares de militantes foram assentados, e o foco de atenção do MST se ampliou. Confira os principais trechos da entrevista concedida por João Pedro Stédile, um dos principais líderes do MST, à Agência Brasil.
Publicado 29/04/2010 11:42
Agência Brasil: O MST espera conseguir o apoio de outros setores da sociedade
com essa nova política de atuação contra os agrotóxicos e multinacionais?
João Pedro Stédile: Nós temos certeza de que a imensa maioria da sociedade
brasileira também defende este programa. Já, agora, em movimentos pontuais, nós
atuamos com o Greenpeace, com o movimento ambientalista e com os setores de
defesa do consumidor. O próprio Idec [Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor] tem nos apoiado na questão dos agrotóxicos.
Agência Brasil: Essa nova política pode ajudar a mudar a imagem negativa do MST com alguns
segmentos?
Stédile: A ampla maioria da sociedade brasileira nos apoia. Se o MST não tivesse
apoio já teria sido destruído. Agora, queremos dar um passo a mais. Temos que
nos aliar ao povo da cidade. Veja a situação dos agrotóxicos: quem come os
produtos cheios de venenos? O povo pobre da cidade. Então, quando nós vamos
resolver isso? Quando as massas da cidade tomarem consciência desse problema e
resolverem se mobilizar.
Agência Brasil: A mudança de foco de atenção significa a redução das ocupações de terra?
Stédile: A ocupação faz parte da história da humanidade. Sempre que um
território é apropriado apenas por uns poucos e nesse mesmo território convivem
milhares de pessoas sem acesso à terra, é evidente que haverá ocupação. A
política do MST é de organizar os pobres para que lutem por seus direitos. Em
alguns lugares, serão passeatas. Em outros, ocupações.
Agência Brasil: Essa nova política é consenso no MST? Não seria uma proposta de parte do
movimento que já foi assentada e, por isso, não milita mais pela terra?
Stédile: Consenso é a pior palavra. O consenso é burro. Em qualquer movimento
social, há opiniões diferentes. Mas essa política que eu expressei aqui é da
ampla maioria. Evidentemente, por causa da natureza da nossa luta, em cada
região há um grupo que prioriza um aspecto. Se um sujeito está acampado, ele tem
que lutar para conquistar terra o quanto antes. Se ele já está assentado há
vinte anos e está enfrentando o problema do agrotóxico, é claro que o agrotóxico
é o centro da luta dele.
Agência Brasil: O MST pretende apresentar essas propostas aos candidatos à Presidência?
Stédile: Nós estamos pensando em apresentar essas propostas para todos os
candidatos, não só a presidente como a governos estaduais. Daqui até maio, eu
acredito que esse processo de discussão das sugestões já vai estar concluído e,
quando começar a campanha, vamos contribuir.
Agência Brasil: Já existem sugestões?
Stédile: Sim. Nós achamos que temos de transformar a Conab [Companhia Nacional
de Abastecimento] numa grande empresa estatal. Ela deve garantir a compra de
produtos dos camponeses e abastecer mercados populares com produtos de
qualidade. Nós também temos que controlar o ingresso de multinacionais no
Brasil. Estes dias eu li no jornal que uma empresa chinesa quer comprar 100
hectares de terra aqui. Isso é um absurdo. Não pode acontecer.
Fonte: Agência Brasil