Aliança com PSB deve fortalecer o PCdoB, diz jornal gaúcho

Em entrevista concedida a Guilherme Kolling e Paula Coutinho do Jornal do Comércio do dia 2 de maio, o presidente do PCdoB do Rio Grande do Sul, Adalberto Frasson, sintetizou os movimentos que o partido tem realizado visando o processo eleitoral deste ano. Confira a seguir a matéria.

fraasss

O presidente estadual do PCdoB, Adalberto Frasson, ressalta que a sigla está ao lado do presidente Lula (PT) desde 1989 – o partido já garantiu apoio à pré-candidata do PT à presidência da República, Dilma Rousseff. Também lembra que esteve ao lado do PT nas disputas estaduais de 1994, 1998, 2002 e 2006. Mas não confirma que exista uma lógica de que o partido deva se aliar aos petistas, com Tarso Genro, neste ano ao Palácio Piratini.

Pelo contrário. Frasson faz questão de ressaltar que os comunistas ainda estão avaliando qual a melhor alternativa, apoiar Tarso ou Beto Albuquerque. E ressalta que independentemente do cabeça de chapa, uma aliança com o PSB é a prioridade, ainda que as duas siglas possam apoiar Tarso. A coligação para a disputa proporcional com os socialistas está bem encaminhada. Resta a definição na majoritária.

Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Frasson fala do que influencia na escolha do partido, avalia o cenário e destaca um novo momento do PCdoB, em que a sigla vai buscar mais protagonismo, como em 2008, quando lançou a deputada federal Manuela D’ávila à prefeitura. “Gostamos do caminho e achamos que vamos segui-lo em Porto Alegre.”

Jornal do Comércio: Como está a negociação do PCdoB para alianças ao Piratini. Apoiará o PT, de Tarso, ou o PSB, de Beto?

 AF: Para o PCdoB, a aliança com o PSB joga um papel novo na política do Estado, com um significado importante a desempenhar nesta eleição e no futuro da política no Estado. Constituímos um bloco que deve permanecer unido. E unido nessa disputa eleitoral, ele sai muito fortalecido. O que estamos debatendo é se esse fortalecimento se dará melhor com a candidatura do Beto ou com esse bloco compondo um debate com uma outra candidatura.

Jornal do Comércio: A união com o PSB está decidida. Resta saber se o bloco vai ter candidatura própria ou se vai apoiar o Tarso?
 AF: Exatamente, partimos desse pressuposto.

Jornal do Comércio: Beto disse que, se tiver apoio do PCdoB, será candidato ao Piratini. Então está encaminhada essa posição.

AF: É isso que estamos discutindo com o PSB, procurando ver o cenário, os espaços para a candidatura.

Jornal do Comércio: Beto está convicto da candidatura dele, o PCdoB é que não está convicto de que esse bloco tem a envergadura necessária para candidatura própria?

AF: Estamos tentando criar as condições para que isso exista. A convicção precisa ficar mais explícita. Qual será o espaço, porque a eleição no Estado tem quatro candidaturas bem situadas, as três mais fortes, do Tarso, do (José) Fogaça (PMDB) e da Yeda (Crusius, PSDB); e acho que a do (Luís Augusto) Lara (PTB) se situa bem pelo espaço que ele vai ter na campanha com o DEM. Então uma outra candidatura tem que estar muito bem posicionada. Nossa preocupação é que esse bloco saia fortalecido do processo. Queremos e achamos que temos grandes condições.

Jornal do Comércio: Na proporcional dessa vez deve ser só PCdoB e PSB?

AF: Exatamente. Os dois partidos são parecidos em termos de tamanho e podemos sair fortalecidos. Também precisamos ver qual o melhor caminho na disputa majoritária.

Jornal do Comércio: Qual a autonomia do diretório estadual sobre alianças?
AF: Completa. O PCdoB se situa dentro do projeto nacional político de desenvolvimento para o País e que trabalha nos estados também em torno desse projeto nacional, então, é um diálogo permanente da direção nacional com a gente. É um debate perfeitamente sintonizado.

Jornal do Comércio: Para a direção nacional não faz diferença cabeça de chapa com PSB ou PT?
AF: Não é que não faz diferença, examinamos conjuntamente as conveniências. A direção nacional compartilha da relação que o PCdoB e o PSB construíram aqui no Estado e valoriza muito o fato de o PSB na eleição passada ter sido parceiro nosso (em Porto Alegre), sem exigência nenhuma.

Jornal do Comércio: Mas eles não manifestam preferência por Tarso ou Beto?
AF: Não, estamos discutindo conjuntamente esse cenário, como o PCdoB discute isso nos demais estados. Não há uma definição do diretório nacional sem uma discussão com os estados. A gente constrói junto.

Jornal do Comércio: Com a retirada da candidatura de Ciro Gomes à presidência da República, foi facilitado o apoio ao PSB aqui no Estado?
AF: Ajuda. A candidatura de Ciro criaria uma dificuldade na relação com o PSB.

Jornal do Comércio: Isso porque seriam dois palanques, de Ciro e de Dilma, apoiada pelo PCdoB nacional?
AF: Exatamente. Aí a relação com o PSB iria ficar complicada, e dificilmente entraríamos no mesmo palanque.

Jornal do Comércio: A desistência do Ciro favorece uma aliança com o Beto?

AF: Favorece uma aliança com o Beto, porque também vai estar sintonizada com nossa orientação nacional. Vai ser um outro palanque para Dilma aqui no Estado. O cenário nacional agora com o PSB apoiando Dilma tranquiliza a situação, elimina essa pauta dos palanques nacionais.

Jornal do Comércio: Que outros fatores definem essa posição?

 AF:  A gente tem que levar em conta o espaço político da candidatura e a estrutura também.

Jornal do Comércio: As pesquisas indicam que há espaço político?

AF: Nas pesquisas, Beto está muito bem. Agora a preocupação do debate político é se nesse cenário de três candidaturas disputando fortemente haverá espaço para mais a nossa. É preciso avaliar que discurso a gente teria e se esse discurso não casa com uma outra candidatura, pois aí poderíamos ser engolidos por uma alternativa com mais força. O PSB está convencido de que existe possibilidade até de atrair outros aliados, então é essa discussão que precisamos amadurecer mais.

Jornal do Comércio: O Beto tem falado bastante no PP.
AF: Começamos a discutir, mas fomos vendo que o PP já estava muito amarrado com Yeda.

Jornal do Comércio: O senhor não vê problema em o PCdoB coligar com o PP, um sucedâneo da Arena?
AF: Se estivesse dentro de um projeto político, não haveria problema. E é sucedâneo em termos. Eles não defendem hoje o que defendiam, têm outra proposta. Diria que o PP, no cenário político nacional hoje, é um partido que está ajudando a construir um projeto em que nós do PCdoB fomos os primeiros parceiros, lá em 1989. O PCdoB sempre apoiou Lula, nas quatro eleições.

Jornal do Comércio: Não há uma barreira com o PP pela questão ideológica?
AF: Acho que é o projeto que interessa.

Jornal do Comércio: Essa questão histórica está superada então?

AF: Sim. Vamos ficar presos se pensarmos só no passado. O PCdoB também teve posições políticas equivocadas. Desde que nos organizamos, foi sempre na perspectiva da construção do socialismo. É a sociedade mais avançada, o futuro, e trabalhamos para isso.

Jornal do Comércio: Qual será o cronograma do PCdoB até a definição?

AF:  Vamos continuar conversando com PSB, com outras forças políticas, com o PT, e discutindo internamente. Temos a convenção em 13 de junho, mas pretendemos definir isso mais cedo. E estamos tratando de preparar a nominata dos nossos candidatos na proporcional. No Estado, neste ano, a prioridade é o Legislativo. Temos condições de eleger dois deputados federais e de dois a três estaduais.

Jornal do Comércio: Chegou a haver a discussão com o PT sobre apoio a Tarso neste ano em troca da cabeça de chapa em 2012, para o PCdoB, na prefeitura de Porto Alegre?

AF: O PT sinalizou essa possibilidade de construir o leque de forças agora que tivesse uma dimensão maior, que não fosse só para essa eleição, que passasse por 2012, 2014 e assim por diante. Acho que é positivo o PT apresentar isso. O PT tratava sempre como a candidatura do PT e quem quisesse que apoiasse. Agora isso ainda é um processo que não está concluído. Nós temos uma relação com o PSB que já vem construída e, portanto, não vamos deixar essa relação apenas por sinalizações.

Jornal do Comércio: O partido está com 88 anos. Nos últimos golpes ditatoriais se usou sempre a questão da “ameaça comunista”. Isso hoje está superado?
AF: O mundo mudou. A grande ameaça dos povos hoje é o imperialismo americano com a sua política de guerras preventivas. Agora a bola da vez é o Irã. Além da ameaça da guerra, qual a ameaça que hoje o imperialismo e o neoliberalismo colocam? É a ameaça do desenvolvimento. Para o imperialismo norte-americano, que está em crise, não interessa que um país se desenvolva.

Jornal do Comércio:  Como está o PCdoB hoje?

AF: No retorno (do partido à legalidade, em 1985), passamos um período até os anos 2000 com uma concentração de candidaturas. Lançávamos poucos nomes. Foi uma política acertada, porque saímos muito frágeis da ditadura, perdemos quadros pela repressão. Mas demoramos muito para mudar e ampliar a presença, ser mais protagonistas, com chapas majoritárias e chapas grandes ao Legislativo. Na eleição de 2008 já fizemos isso em alguns municípios. E nessa temos que fazer nas chapas para deputado federal e estadual.

Jornal do Comércio: Aumentou o número de candidaturas?
AF: Estamos hoje com mais de 40 nomes para estadual e 20 para federal. O objetivo é aproveitar a liderança da Manuela para ampliar a presença na Câmara e aqui na Assembleia também, a partir das lideranças do deputado estadual Raul Carrion e de Jussara Cony, além de outras lideranças que temos no Estado. Então, nosso objetivo é ampliar nossa presença a partir de chapas próprias ou numa coligação que seria com o PSB. A gente vê o seguinte: coligação com grandes partidos é desvantajosa para a gente.

Jornal do Comércio: Em nível estadual, o partido apoiou o PT por 16 anos. Isso influencia na decisão?
AF: A conjuntura política do Estado e do Brasil avançou e um partido como o nosso ganha muito com isso, porque eleva o nível de participação e de consciência do povo. O caminho que percorremos até aqui nos permitiu ir acumulando forças. Já na última eleição, em 2006, houve a votação da Manuela daquele tamanho. Coligamos com o PT, mas se tivéssemos chapa própria para estadual, poderíamos eleger dois estaduais ou no mínimo o suplente. O partido vai se firmando. Para avançar, é preciso construir um campo político maior do que apenas um partido. Então, isso tem permitido, por exemplo, que o Lula chegue no final do mandato com 86% de aprovação.

Jornal do Comércio: O PCdoB está na base do governo Lula e tem esse histórico de apoiar o PT no Estado. Não seria natural coligar com Tarso?
AF: Não é o natural. Seria o mesmo que perguntar se não era natural em 2008 ter apoiado a candidata do PT (Maria do Rosário). As questões dependem muito do processo eleitoral. Claro que não descartamos a possibilidade de compor uma aliança em torno do Tarso. Agora também avaliamos que o PT até aqui, na política recente do Estado, não soube construir alianças mais representativas, como fez em Canoas, na última eleição municipal. Um projeto mais avançado precisa aglutinar setores. O Tarso tem feito esforço para superar essa prática política no Estado, mas existe ainda o processo eleitoral que determinará se o PT vai conseguir dar essa volta por cima ou não. Eu me pergunto por que o PMDB, que é um partido da base de sustentação do Lula e certamente indicará o vice, não pode, aqui no Estado, dialogar com o PT em torno de um projeto para o Rio Grande do Sul. Por que nós temos que ser tipo Grenal?

Jornal do Comércio: A polarização PT-PMDB?

AF: Não só, porque existem outros partidos assim. O PP é outro que nacionalmente tem um ministério importantíssimo, o das Cidades, e no Estado tem muita dificuldade para tratar disso. Criamos um ambiente em que as questões menores passaram a prevalecer sobre as grandes. O Estado foi diminuindo sua economia e perdendo espaço político nacional. Por isso, a candidatura do Beto é importante. Representa esse movimento. É um desafio que estamos tentando construir.


Perfil

Adalberto Luiz Frasson, 50 anos, é natural de Nova Araçá (RS). Mudou-se na adolescência para Caxias do Sul, onde estudou no seminário e cursou Filosofia na UCS, formando-se em licenciatura em 1981. Ingressou no movimento estudantil na universidade, participando depois do movimento comunitário.

Simpatizante do PCdoB, trabalhou na comissão pela legalização do partido. Foi filiado ao MDB do final da década de 1970 até 1985, quando o PCdoB foi autorizado a retomar as atividades oficialmente. Veio a Porto Alegre, a pedido da direção estadual, para organizar o partido no Estado.

Na década de 1990, assumiu a presidência do partido em Porto Alegre e até 1998 passou ao comando estadual. Está na sexta gestão como presidente no Rio Grande do Sul – o atual mandato se encerra em 2011. Nesse período, optou por cumprir tarefas partidárias, sem jamais ter concorrido em eleições. Além de dirigente do PCdoB, Frasson cursa Administração Pública na Ufrgs.