Kassab e o Minhocão: o factoide político de um prefeito em baixa

Factoide político, puro marketing esse anúncio do prefeito paulistano, Gilberto Kassab (DEM-PSDB), de demolir o Elevado Costa e Silva, popularmente chamado de Minhocão. O viaduto é uma das mais feias, longas e conhecidas vias urbanas de São Paulo, considerado um desastre em termos de intervenção urbana desde que foi construído pelo ex-prefeito Paulo Maluf (1969) e um dos principais responsáveis pela degradação do Centro de São Paulo.

Por José Dirceu, em seu blog

A demolição faz parte de um programa mais amplo de revitalização do centro, mas ninguém — nem a Prefeitura — sabe se ele é viável. Ao lançar o plano, a Prefeitura anunciou que ainda vai contratar as empresas que farão os projetos de restauração do entorno do elevado e estudarão sua viabilidade financeira e impacto ambiental, além das consequências para o sistema de trânsito de São Paulo.

Se tudo der certo, prevê a Prefeitura, os projetos estarão prontos daqui a um ano e meio (setembro de 2011). Arquitetos, urbanistas, especialistas em tráfego e planejamento urbano preveem que, se vier a ocorrer, a derrubada do elevado se dará por volta de 2025.

Assim, o anúncio político-promocional da proposta não passa de pura operação de marketing, inclusive porque pelas informações disponíveis e pela data prevista para a conclusão dos projetos (2011), o início de sua execução já é jogado para o próximo governo estadual, parceiro nas grandes obras que a Prefeitura da capital há anos não realiza sozinha. Particularmente, desde 2005, quando José Serra se elegeu prefeito, renunciou ao cargo um ano e quatro meses depois, mas continuou a governar a cidade em parceria com Kassab.

Prefeito em baixa

O prefeito está em baixa e o apoio e aprovação a seu governo despencam a cada pesquisa de opinião pública desde que ele foi reeleito em outubro de 2008. Está desaparecido da mídia, e pior, depois de longa exposição negativa em decorrência de quatro meses seguidos de inundações quase diárias na capital — 78 mortos — quando se descobriu que ele não havia aplicado no ano passado nem 10% das verbas destinadas à contenção de enchentes em São Paulo.

Além disso, foi derrotado em suas pretensões de ser o candidato a governador este ano pela coligação demotucana. Passou a apoiar o pré-candidato do governador Serra, deputado Aloysio Nunes Fereira Filho (PSDB-SP), mas também perdeu a aposta e foi obrigado a engolir o lançamento, hoje (8), da candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) ao posto.

A ideia da revitalização do centro e de seu entorno paulistanos existe desde 1985, lançada pelo prefeito Jânio Quadros. Nunca sai do papel e chega a resultados concretos, segundo analistas porque a maioria das propostas feitas por cada prefeito que se sucedeu prevê (ou depende) de parceria com a iniciativa privada — que receberia benefícios em troca, como isenção de IPTU — e o empresário brasileiro não é afeito a isso, ao contrário do europeu e do norte-americano que doam fortunas inteiras a cidades e instituições.