Gregos respondem às imposições da União Europeia e FMI
A heroica luta do povo grego contra as imposições do capital monopolista nacional e internacional, dirigida pela Frente Sindical de Luta (PAME), e apoiada pelo Partido Comunista da Grécia (KKE) – 7 greves gerais em 5 meses –, tem sido desvalorizada e desvirtuada pela mídia dominante. Esta semana o KKE acusou os provocadores pela morte de 3 pessoas, a fim de caluniar a luta popular contra as medidas impostas pelo capital.
Publicado 11/05/2010 19:28
No dia 5 de maio, a greve nacional de todos os trabalhadores, organizada pela PAME fez parar todas as atividades produtivas na Grécia. O trabalho paralisou fábricas e empresas, obras e lojas, portos e aeroportos, universidades e escolas. Logo de manhã cedo, milhares de trabalhadores e de jovens apresentaram-se diante dos seus locais de trabalho, defendendo o direito à greve, contra o terrorismo patronal. Centenas de milhares de populares manifestaram-se em reuniões e manifestações organizadas pela PAME em 68 cidades da Grécia.
Simultaneamente, grupos de provocadores tentaram caluniar a mobilização grevista. Aleka Papariga, secretária-geral do KKE, demonstrou a importância da luta política organizada e condenou na tribuna do parlamento as tentativas dos provocadores, que levaram à morte três jovens, morte por asfixia provocada pelo arremesso de coqueteis Molotov para dentro de um banco.
Em Atenas, a reunião central da PAME realizou-se na praça Omonia.
O orador principal, Yorgos Perros, membro do secretariado executivo da PAME, destacou em seu discurso:
É uma mentira alegar que estas medidas se destinem a salvar o país. Trata-se de medidas para salvar os patrões, os banqueiros, os armadores que foram os únicos privilegiados pelas medidas de apoio anteriores. Para os estrangeiros que emprestam e que, juntamente com os parasitas capitalistas locais, vão apropriar-se da riqueza produzida pelo nosso povo.
As medidas já estão planejadas e materializadas, pouco a pouco, de há alguns anos a esta parte. Estão descritas no tratado de Maastricht e no Livro Branco. Fazem parte integrante de todas as Cúpulas da UE. Figuravam no programa do PASOK e da Nova Democracia. Faziam parte dos nove pontos do acordo entre o GSEE e a União do Patronato Grego".
"Temos o direito e lutaremos pela nossa Grécia, que será mil vezes melhor que a deles. Mesmo que estas medidas sejam aprovadas, nunca serão legalizadas na nossa consciência. Nunca obedeceremos a essas lei. Dia após dia, mês após mês, voltaremos a agrupar-nos para nos opormos à aplicação dessas leis, até derrubarmos as leis e a eles mesmos", destacou Yorgos Perros.
O responsável da PAME terminou o seu discurso, assinalando que: "Nós, os operários, os trabalhadores independentes, os artesãos, os pequenos comerciantes, os pequenos e médios agricultores, os jovens, somos a maioria. Ao construirmos a nossa frente, a nossa aliança, tornamo-nos mais fortes.
E, quando construirmos a nossa frente popular, não seremos apenas fortes, mas super poderosos. Porque teremos construído o vetor do nosso poder. Teremos construído a ferramenta para planificar e produzir de acordo com as nossas próprias necessidades. Teremos criado o mecanismo principal, a fim de impedir a minoria dos usurpadores e dos parasitas de viver à custa das nossas riquezas, do nosso trabalho que é mais do que suficiente para a nossa vida, para a vida dos nossos filhos e das gerações futuras.
É este o nosso dever patriótico e a nossa grande responsabilidade. É este o nosso grande objetivo e não recuaremos apesar de todos os sacrifícios necessários".
Depois do discurso, seguiu-se uma grandiosa manifestação dos sindicatos de classe, reunidos no seio da PAME, contra a linha de compromissos liderada pelas confederações do setor privado (GSEE) e do setor público (ADEDY) que, durante este tempo todo, têm apoiado a política anti-popular. Fora da PAME, participaram na manifestação a União contra os monopólios dos operários especializados e PME’s (PASEVE) e a Frente de Luta Estudantil (MAS).
À cabeça da manifestação da PAME, encontrava-se uma delegação do Comitê Central do KKE, tendo à frente a sua secretária-geral Aleka Papariga.
A manifestação da PAME marchou pelas ruas principais de Atenas até ao parlamento, onde o governo social-democrata apresentara o projecto de lei, para ser posto à votação com o pedido de urgência. De notar que o grupo parlamentar do KKE exigiu, utilizando o regulamento do parlamento, que seja respeitada a maioria qualificada e não a maioria simples para esta votação (180 deputados em 300).
A posição do KKE quanto aos incidentes
A manifestação da PAME foi maciça e dispunha de um serviço de ordem. Respondeu com veemência à ação dos provocadores, que tinham sido preparados por grupos e mecanismos de provocação, a fim de desviar a atenção, de desvalorizar a importância da mobilização, de caluniar o KKE, de prejudicar a dinâmica das lutas e de amedrontar os trabalhadores.
Aleka Papariga, falando no parlamento, logo depois da notícia da morte de três pessoas, fez a seguinte declaração:
Afirmamos que o povo, não só não deve ter medo dessas provocações, como deve tomar todas as medidas para proteger as suas lutas, lutas que devem começar nos seus locais de trabalho. É aí onde ele mais sofre. O início da luta deve travar-se no local de trabalho a ser concluído numa luta nacional.
E, tenho que dizer o seguinte: Basta de criminalização do povo. Foi criminalizado pela crise, foi criminalizado por tudo. O movimento popular organizado não pode ser responsabilizado por acções que são planeadas não sei em que bastidores. A provocação não passará. Continuaremos a nossa luta".
A secretária-geral do KKE deu também uma resposta decisiva ao presidente do partido nacionalista LAOS, Yorgos Karatzaferis, depois de este ter se mostrado um anticomunista primário e ter atacado o KKE.
Na sua resposta, a secretária-geral sublinhou: "quando a manifestação da PAME chegou ao parlamento, já aí se encontravam membros do Chrysi Avgi (Amanhecer Dourado, grupo de extrema-direita nacionalista), 'desconhecidos' (conhecidos) que incendiaram a Escola Politécnica de Atenas em 1994 e que vociferavam “vamos queimar o parlamento”. Nós os desarmamos, nós lhes tiramos as bandeiras da PAME que eles traziam. Nós os desmascaramos e nós protegemos a nossa manifestação na praça Syntagma formando barreiras. Não houve o menor incidente. Porventura os que estavam diante do parlamento têm laços de sangue, permanentes ou transitórios, com M. Karatzaferis. Ele desempenha realmente o papel do provocador de serviço, para impor as medidas antipopulares.
O povo tem o direito, através do processo da luta política de massas, de criar as condições para uma revisão da constituição até à sua alteração radical.
Temos dificuldade em compreender: porque é que o parlamento não altera a Constituição ao fim de tantos anos? E, evidentemente, dizemos ao povo que uma Constituição que nós não aprovamos é uma má Constituição e que se deve lutar para a mudar. Mas uma coisa é dizer clara e honestamente que esta Constituição é anti-trabalhadores e antipopular e outra coisa é ser um profissional, mesmo sem ser sentimental, da provocação".
Nota do tradutor:
KKE – Partido Comunista da Grécia, o mais antigo partido político grego
PASOK – Movimento Socialista Pan-helénico, partido político grego social-democrata
GSEE – Confederação Geral dos Trabalhadores Gregos, fundado em 1918, filiado na Confederação Sindical Internacional
ADEDY – Confederação dos Funcionários Públicos, centrista, filiada ma Confederação Europeia dos Sindicatos
PASEVE – Frente Anti-monopolista das Pequenas e Médias empresas
MAS – Frente de luta dos Estudantes
LAOS – Alerta Popular Ortodoxo, partido político grego de extrema-direita fundado em 2000
Chrysi Avgi – grupo neonazi grego
O original encontra-se em: http://fr.kke.gr/news/2010news/2010-05-05-apergia
Tradução de Margarida Ferreira para ODiario.Info