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Comércio, paz e democracia marcam giro de Lula pela Europa e Ásia

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou neste sábado ao Catar, depois de ter cumprindo extensa agenda em Moscou, mas o centro das atenções é o Irã, onde desembarca amanhã, dentro do roteiro de sete dias que inclui ainda Espanha e Portugal. Além de apresentar o Brasil comercialmente, Lula volta a discutir assuntos da diplomacia internacional como a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas e o programa nuclear iraniano.

Lula no Catar

A visita que fará a Teerã, no próximo domingo, foi o assunto principal para os jornalistas que acompanham a viagem do presidente Lula a Moscou. Durante declaração de imprensa, no Kremlin, com o presidente da Rússia, Dimitri Medvedev, a jornalista Tânia Monteiro, do jornal O Estado de S. Paulo, indagou sobre qual a nota – de zero a dez – que dariam sobre as chances de Lula ser bem sucedido no encontro que terá com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. O presidente russo apostou em 30%. Lula disse que Medvedev estava muito pessimista e afirmou que as chances de sair-se bem sucedido seriam de 99,9%.

“Irei a Teerã, nos próximos dias, confiante no poder do diálogo e da persuasão. Mas a paz que desejamos só será duradoura se forjarmos uma ordem econômica internacional justa e equitativa”, disse o presidente brasileiro.

O assessor da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, afirmou que a intenção do presidente Lula com a visita deste fim de semana é tentar persuadir, e não dar um ultimato ao Irã sobre o programa nuclear."Lula vai ao Irã para discutir e não para dar um ultimato", ressaltou Garcia, em entrevista publicada hoje pelo diário francês "Le Figaro". Segundo ele, não se trata de uma iniciativa ingênua ante a posição firme de Teerã em sua estratégia nuclear.

"Os ingênuos são os que quiseram crer que havia armas de destruição em massa no Iraque com as consequências que sabemos", argumentou. "Se nossa mediação funcionar, muito bom. Se não, teremos tentado", continuou.

O assessor de Lula reforçou a posição do Brasil contra as sanções e ressaltou a capacidade do presidente, para ele "um homem de negociação".
"Não há um eixo Irã-Brasil, mas para nós as sanções são contraproducentes", afirmou.

O objetivo da viagem a Teerã é, segundo ele, "tentar obter garantias de que o Irã adotará uma postura similar à do Brasil sobre a questão nuclear".
Isso significa, como explicou, aceitar as visitas de controle da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e "renunciar à produção e à utilização de armas atômicas".

Nova aliança com a Rússia

Na sexta-feira, o encontro com Medvedev foi o terceiro compromisso de agenda do presidente Lula em Moscou. Durante o almoço oferecido pelo governo russo, Lula presenteou o ex-goleiro Lev Yashin, conhecido como “Aranha Negra”, com uma camisa da seleção brasileira. Ele explicou que, apesar de a Rússia não ter jogadores conhecidos mundialmente, Yashin é o grande nome do esporte russo. Ele se destacou pelas defesas arrojadas.

No discurso, proferido por ocasião do comunicado à imprensa, Lula destacou que nesta semana comemoram-se os 65 anos do fim da Segunda Guerra mundial e que sua visita à Russia ocorre num momento muito especial. “Soldados russos e brasileiros derrotaram as forças da barbárie e da destruição. Mas a humanidade nunca esquecerá a amplitude do sacrifício e a coragem do povo russo naquele momento decisivo da história”, destacou.

Mais adiante, o presidente brasileiro assegurou que estava em Moscou também para celebrar aquilo que classificou como “uma nova aliança entre os nossos países”. “Rússia e Brasil compartilham a aspiração de construir um mundo de paz e democracia, com oportunidade de crescimento econômico e justiça social. Sabemos que, para atingir esses objetivos, necessitamos uma governança global à altura dos desafios de um mundo multilateral e multipolar. Mas, para superar dogmas e temores que dificultam o convívio entre as nações, reduzem os espaços de cooperação e colocam riscos inaceitáveis, é preciso forjar novas realidades e novas mentalidades”, afirmou.

Lula lembrou que no cenário mundial atual as ameaças se multiplicam, como o aquecimento global, a insegurança energética e o terrorismo transnacional. Além disso, como enfocou, as velhas mazelas ainda persistem como a pobreza extrema, a violência, a intolerância. Isso leva à necessidade “de termos organizações multilaterais vigorosas. Mas o que vemos é inércia e resistência a mudança”.

O presidente brasileiro lembrou também que, em 2010, são comemorados os 182 anos do estabelecimento do marco diplomático Brasil-Rússia. “Isso explica porque a primeira Escola do Teatro Bolshoi no exterior esteja no Brasil”. Lula deu ênfase à proposta de atingir, em 2010, um fluxo comercial de US$ 10 bilhões.

Protagonismo internacional

A imprensa tenta carimbar a visita de Lula ao Irã como um "erro diplomático" ao levar o apoio do Brasil a um "país autoritário". Mas o discurso da grande mídia não convence os especialistas em política externa. Para Williams da Silva Gonçalves, professor de Relações Internacionais da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), as reuniões com líderes de "regimes autoritários" são compreensíveis porque vêm naturalmente para um país com aspirações internacionais como o Brasil.

"A política externa brasileira é universalista, enfatiza as relações sul-sul. É atenta com África, Ásia e América Latina. Essa é uma marca do governo do presidente Lula", disse ele ao UOL Notícias.

"Um país que é interlocutor obrigatório se envolve em questões polêmicas. Não podemos confundir e pensar que vamos ter um relacionamento externo pautado por princípios morais. O relacionamento do Brasil com o Irã é político. O Brasil não vai ser diferente dos demais", completou.

"Gigante político em formação, atual membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU – e candidato decidido a uma cadeira permanente – , o Brasil começou a ter um papel de primeiro plano no cenário internacional. Em nome dessa ambição, ele exibe uma diplomacia sem exclusões", reforçou o jornal francês Le Monde em artigo publicado neste sábado (15).

Da redação,
com agências