George Câmara: Da perda, da saudade e da vida

Domingo 16 de maio, 9 horas da manhã o telefone toca. Eu, minha Mãe, minhas três irmãs e meu irmão fomos informados pelo pessoal do Natal Hospital Center que meu Pai, Jaime Bôa da Câmara, falecera às 7 horas e 50 minutos. Apesar de seu quadro grave, na Unidade de Terapia Intensiva, não nos permitir nenhuma surpresa a respeito, foi um verdadeiro choque para nós. Como também para muitos outros familiares e para uma infinidade de amigos.

saudade

A convivência nos quase doze anos com a nova condição de revascularizado, após a cirurgia cardíaca de ponte de safena em julho de 1998, nunca trouxe qualquer incômodo. O coração pulsava saudável como o de uma criança. Tudo começou a mudar mesmo foi a partir da diabetes. Acho que os dois maiores desafios do ser humano são: ser feliz e envelhecer com qualidade de vida.

A julgar pelo seu ciclo de amizades e pelos laços familiares, meu Pai foi uma pessoa privilegiada. Quinze filhos de Sérgio Bôa da Câmara e Juvina Rodrigues da Câmara, homens e mulheres simples, cultuavam desde cedo o grande legado de seus pais: as boas amizades e a palavra como instrumento sagrado e marca do bom caráter. São eles: Aurora, Emília, Flora, Maria, Maria Emília, Ornila, Antônio, Jaime, João, Joaquim, José, Manoel, Raimundo, Sebastião e Severino.

Nasceram em sua maioria às margens do Rio Ceará Mirim na localidade de Passagem do Meio, zona rural de Taipu, hoje território pertencente ao Município de Bento Fernandes, nas proximidades da cidade de João Câmara, Região do Mato Grande. Sem dúvida, uma das mais belas paisagens do Estado do Rio Grande do Norte. Sobretudo em época de inverno, quando o leito do rio parecia com o mar.

Cresceram numa época de prosperidade daquela região, em pleno ciclo das culturas do algodão e do sisal, associadas à pecuária de gado bovino. Era o período de franca expansão da firma João Câmara e Irmãos, que se constituiu em verdadeiro império econômico em todo o estado, vindo o seu proprietário e sócio majoritário, João Severiano da Câmara, após a morte, a se tornar o nome da antiga e próspera Baixa Verde.

Jaime, nascido em 23 de junho de 1926, conheceu minha Mãe, Joana D’Arc, onze anos mais nova, uma jovem professora que aos treze anos de idade começou a lecionar na localidade do Cravo, onde nascera, zona rural de João Câmara, hoje pertencente ao vizinho Município de Poço Branco. Casaram-se em João Câmara em 1957.

Posteriormente, jovem Vereador por dois mandatos em João Câmara, de 1959 a 1962 e de 1963 a 1966. Em 1972 é eleito Prefeito da vizinha cidade de Parazinho, exercendo tal mandato de março de 1973 a março de 1977. Sua vocação pública, passadas várias décadas, é exemplo lembrado ainda nos dias atuais.

Durante anos, como Prático Farmacêutico, a qualquer hora do dia ou da noite tratou da saúde de muita gente. Não foram poucas as madrugadas em que nos deixava com nossa Mãe ainda crianças dormindo e saía em plena escuridão, de bicicleta, levando o estojo com a seringa, a medicação e demais instrumentos de trabalho. Cobria os lugares mais variados, do perímetro urbano à zona rural, salvando vidas e aliviando a dor de muitas enfermidades.

Para mim, minhas irmãs Márcia, Marineide, Mércia e meu irmão Júnior, não há palavras para descrever a perda e a saudade. Ombro a ombro com nossa Mãe experimentamos a dor silenciosa que desconhece adjetivos. De mãos dadas com seus genros e suas noras, ao lado das netas, dos demais familiares e das pessoas amigas, exaltamos aquilo que se tornou o maior exemplo de meu Pai: a sua valentia diante da vida.

Não resta a menor dúvida: vale a pena celebrar a vida!

George Câmara, petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB www.georgecamara.com.br