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PC da Argentina: A projeção da pátria do século 21

"A Revolução é um sonho eterno", Juan José Castelli.

Bicentenário. Ocasião para projetar a pátria do século 21. No início do século 19, a América do Sul estalava decontradições. O mandato colonial travava tudo, impedia, paralisava, truncava, entorpecia, atrasava, obstruía.

Declaração do Partido Comunista da Argentina

As cadeias de dominação tornavam-se insuportáveis e não havia lugar para progresso algum. Os povos indígenas e os arrancados da África, escravizados e filhos de europeus com necessidade de Pátria Iniciaram a construção, ao sul do sul, desta mestiçagem que se tronaria a República da Argentina.

Por aqui, na periferia mais distante do império, nem os vice-reis ou as tropas continham as esperanças do que se começava a constituir como um povo. A situação refletia, por sua vez, um movimento continental. Para lá, na castelhana toca do império, a coroa outrora onipotente que havia chegado há três séculos, espada na mão, para expoliar violentamente estas terras e seu povo, caía vencida por outros exércitos e isso tornava vulneráveis os seus autoritários representantes de ultramar.

Havia povos, havia patriotas. Havia ideias e havia como construir um governo próprio. Foi uma revolução. Mariano Moreno a projetou politicamente livre e soberana, economicamente produtiva, socialmente justa e profundamente democrática em seu Plano de Operações.

Mas esse rumo foi interceptado. Alguns sustentavam o temor reverencial à monarquia e ao feudalismo e jogavam a favor de alguns interesses de casta. Outros já se associavam a potências colonizadoras mais modernas e chegariam a ser comerciantes. E assim se foi delineando a nossa história, que, desde o primeiro dia de Pátria, teve em seu ventre o conflito que sempre encontrou as forças de independência, progresso, justiça social e democracia diante da dependência, do atraso e a exclusão social e política.

De forma hegemônica, os apropriadores de terra e de bens foram se associando ao capital estrangeiro e gestaram o bloco social que ainda nos domina. Os que não suportam nem mesmo um ligeiro corte em seus lucros extraordinários pela exportação de cereais, nem admitem que outras vozes tenham o direito de informarem e serem informados, ou que seja concedido um subsídio a crianças desprotegidas, ou que se regule os tentáculos bancários, são o produto daqueles que, em função de seus interesses de classe, torceram em seu momento o rumo libertador de Maio e renderam homenagens àqueles que dominavam os mares, em seguida, as fábricas e, finalmente, as finanças planetárias.

Essa batalha continua de pé. Não terminou. Somos muitos os que estamos dispostos a lutar por todos os direitos sociais, contra as discriminações, por todas as liberdades, contra todas as formas de dominação, o que se visualiza melhor a partir de uma visão continental.

Se San Martin chegou armado até Guayaquil e ali abraçou o lutador Bolivar que vinha mais ao norte; se Martí continuou a luta até conseguir em Cuba a penúltima independência; se Sandino e Che entregaram tudo contra os novos senhores, hoje, a América Latina se nutre de Fidel, o grande mestre, Chávez, Daniel, Correa e Evo, que representam os primeiros habitantes destas terras, das quais nunca se sentiram donos, senão parte, e que hoje nos mostram que a defesa da natureza e da vida não condiz com o domínio do capital, mas com o projeto socialista que cada povo saiba cosntruir. Agora, no século 21.

A Argentina completa duzentos anos. De agora até julho de 2016, celebraremos o Bicentenário. E continuaremos fazendo marchas, greves, paralisações, atos, passeatas, palestras, escraches, folhetos, livros, leituras de poemas e manifestos, que são as maneiras de evitar que a Pátria morra. E para que a Pátria viva, para honrar a vida, olhemos para a frente, porque já começa o terceiro século de nossa existência como nação.

Esta nação argentina demanda elaborar entre todos – já com os Videla e Martinez de Hoz atrás das grades – o projeto nacional cujos contornos e perfis ainda se precisa definir.

Temos que voltar logo aos 50% da renda para os trabalhadores, como foi conseguido em um momento propício de nossa história, em certas condições mundiais. Será importante. Uma grande mudança.

Mas quando a terra for daquele que a trabalha, quando a riqueza produto do trabalho seja apropriada pelo trabalhador, quando os recursos naturais do país estiverem em nossas mãos e floresçam escolas cheias de crianças, livros e computadores, e existam hospitais e moradias digna, poderemos falar da realização de um projeto nacional que hoje temos que elaborar, sabendo que é preciso, co o pressuposto, contar com uma força popular organizada que também devemos endereçar.

Impossível? Os comunistas somos aqueles que pensam como Juan José Castelli, o grande intelectual e orador da Revolução de Maio. Aquele que, como representante da Primeira Junta, lutou no Altiplano quechua e aymara contra os exércitos maturrangos e costumava dizer que "a revolução é um sonno eterno." Não renegamos esta utopia. Estamos envolvidos nessa revolução que hoje permeia toda a América Latina e o Caribe.

Nós celebramos o bicentenário em um momento propício. Houve mudanças positivas e há um clima favorável à idéia de aprofundá-las. Há mais consciência dos nossos inimigos internos e externos: o setor concentrado da agro-exportação, os monopólios da mídia, o grande capital financeiro, as corporações transnacionais, as direitas políticas, as amarras judiciais da ditadura, o peso dos anos neoliberais, o imperialismo que agora militariza nossa região.

Os Estados Unidos assistem ao colapso de seu sistema financeiro e ao surgimento de outro ainda mais voraz e concentrado. A Europa cai afundada pelo peso da crise grega e os trabalhadores da Espanha e de outros países já sentem o horrível nó do ajuste em seus pescoços. A fome e o desemprego são a perspectiva próxima de milhões de homens e mulheres no Primeiro Mundo, que já saem à rua, como em Atenas – Atenas de hoje -, a resistir ao FMI com formas de sublevação.

Se a queda do reino de Espanha favoreceu aquele 1810 revolucionário no vice-reinado do Río da Prata, a atual crise ianque-europeia – que é a crise global do capitalismo nos seus centros principais – pode favorecer as mudanças em nossa região e nosso país?

Afirmamos que há povo e que há idéias. E que podemos dar formas avançadas ao projeto de libertação nacional e social e construir a organização necessária para torná-lo realidade, em condições de romper com os paradigmas da dependência e da ideologia da resignação. Em condições de retomar a utopia dos nossos mestres fundadores da Pátria para torná-la realidade.

Maio de 2010

"Unamo-nos, conterrâneo meu, para bater o maturrangos que nos ameaçam: divididos seremos escravos. Inidos estou seguro de que os venceremos …"
Jose de San Martin

"Se fôssemos capazes de nos unir, que lindo seria o futuro, e que próximo …"
Ernesto Che Guevara