George Câmara: A CONCLAT e a Unidade dos Trabalhadores

Do ponto de vista da luta social em nosso país, o dia 1º de junho de 2010 se constitui num marco histórico, num verdadeiro divisor de águas: para o movimento sindical, encerra um ciclo e dá início a outro. A era da perplexidade e da apatia, produto das confusões e limitações que predominaram em importantes setores no interior do movimento sindical brasileiro, durante o enfrentamento à ofensiva neoliberal das elites, tudo indica que vai ficando para trás.

Foto: Bruno Carvalho
“Proletários de todos os países, uni-vos!”
Karl Marx
A realização da 2ª Conferência Nacional da Classe Trabalhadora – 2ª CONCLAT – no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, reunindo cerca de 30 mil trabalhadores de todo o Brasil na última terça feira é, antes de tudo, um ato político vitorioso. Uma demonstração inequívoca de unidade, de maturidade e de força. Ao apontar para o campo da luta e aprovar uma Agenda da Classe Trabalhadora, demonstra ainda que a passividade vai cedendo lugar à retomada das mobilizações.

Tudo isso é alvissareiro e nos enche de esperança, na medida em que recoloca os trabalhadores como protagonistas nas lutas do povo, peça fundamental para o avanço das conquistas de toda a sociedade. Porém, do ponto de vista estratégico, esta Conferência tem um significado ainda maior: a retomada da unidade dos trabalhadores, elemento absolutamente indispensável para a emancipação social. Para o trabalho, a união é a arma mais poderosa na luta contra o capital.

É preciso, portanto, destacar o sentido histórico dessa construção, o reencontro do movimento sindical brasileiro com a sua unidade, marca presente desde o memorável Congresso de criação da COB, há mais de um século, em 1906.

Em agosto de 1981, há quase trinta anos, por ocasião da realização da 1ª CONCLAT, o Brasil vivia o crescimento da luta de massas contra a ditadura militar e os milhares de trabalhadores que ali compareceram lutavam por liberdade política, liberdade sindical e recomposição dos salários, corroídos desde 1964.

As três décadas que separam essas duas grandes reuniões dos trabalhadores brasileiros constituíram um período de profunda crise no Brasil e, também, de mudanças significativas tanto no campo político como no campo sindical. Depois da ditadura militar veio a “Nova República”, seguida das duas décadas de neoliberalismo, a “perdida” e a “maldita”, de tristes e nefastas conseqüências para os trabalhadores e a nação.

No campo internacional, a crise do socialismo na Europa e a derrocada da União Soviética fundamentaram a falsa alegação da vitória final do capitalismo e do “Fim da História”. Nesse período, tanto lá fora quanto aqui no Brasil houve os que fraquejaram e abandonaram a luta. Houve também os que perseveraram e resistiram.

A resistência cresceu, acumulou forças e avançou. Em 2002, mudou de qualidade quando elegemos para Presidente da República um metalúrgico egresso justamente de lutas como a 1ª CONCLAT: Luiz Inácio Lula da Silva, que despertou para a política na diretoria de um dos sindicatos que protagonizaram aquelas batalhas.

Hoje, as cinco centrais mais representativas como a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Força Sindical, a Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e a Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST) se unem numa plataforma comum e unitária, em torno de seis eixos que expressam as mais legítimas reivindicações dos trabalhadores brasileiros na atual conjuntura. Parabéns!

Quero saudar esse movimento com a alegria e o entusiasmo militante. Com um sabor especial, posso dizer para as gerações futuras que tive o privilégio e a honra de estar presente no Pacaembu, na Assembleia Nacional da 2ª CONCLAT.

 

George Câmara, petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB www.georgecamara.com.br