Ariano Suassuna lota mercado em Olinda

Por Marco Albertim

A 107ª aula espetáculo do dramaturgo Ariano Suassuna arrancou aplausos das mais de duas mil pessoas que compareceram ao Mercado Eufrásio Barbosa, em Olinda. Vestido de preto e vermelho, ele sentou-se numa cadeira, debruçando-se sobre uma pequena mesa, onde pôs o roteiro da aula.

Com as meias vermelhas, para mostrar a paixão pelo Sport Clube, pigarreou e explicou: “O governador Arraes também pigarreava muito. Quando eu estava conversando com ele, parecia que eu o estava imitando.” Disse que as aulas estão percorrendo todo o estado. “Em Belém do São Francisco, mais de cinco mil pessoas assistiram à aula”, informou.

Como mestre de cerimônias, explicou que se propõe a mostrar a arte de qualidade em contraposição ao que está sendo imposto ao povo. “Em Campo Grande, Mato Grosso, eu vi uma placa indicando um Drive-thru; Deus do céu! Em Mato Grosso!” – indignou-se. “Em São Paulo, há um grupo que pretende fortalecer a música brasileira; o nome do grupo é Street Dance!” – continuou. “Já chegaram para mim e me perguntaram se estou produzindo papers. Papers!? Eu escrevi o paper O auto da compadecida! – ironizou. “Um professor francês me disse que gostou de minha aula, mas não gostou quando eu falei mal de Michael Jackson. Da próxima vez eu vou dizer: Pois você escolha entre a minha aula e Michael Jackson!” A indignação de Suassuna chegou ao auge quando mostrou matéria de página inteira, no caderno Folha Ilustrada, da Folha de São Paulo, onde se lia: Preferência Nacional – Banda Calypso. O público, anuente, aplaudiu.

Toda a aula foi ilustrada pela apresentação de um grupo de dançarinos, coreografando músicas de compositores do início do século passado: Euclides Fonseca, Alfredo Gama, Cláudio Carneiro Leal, Sérgio Sobreira e José Lourenço Barbosa, o Capiba. Valsas, polcas, choros e maxixes. Entram em cena os bailarinos Pedro Salustiano, Gilson Santana, Jáflis Nascimento, Maria Agrelli e Maria Paula Costa Rêgo, que dança e também assina a coreografia. A direção de arte é de Dantas Suassuna e os figurinos são de Andréa Monteiro.

Ele confessou que dividiu sua infância entre a leitura e o circo. Mencionou o palhaço Gregório, a quem homenageou na aula. Disse que certa vez, seu irmão, Marcos Suassuna, dissera-lhe que ele não era “útil” Perplexo, reagiu: “O que é isso, Marcos?” O irmão disse que úteis são o lavrador, o criador e o minerador, mais ou menos. “Se não houvesse eles, não existiria nada!” Ariano Suassuna até hoje tem uma criação de cabras no sertão da Paraíba.