Parreira: brancos e negros sul-africanos unem-se no futebol

Em entrevista ao jornal paulistano Folha de S.Paulo, o técnico da seleção sul-africana, o brasileiro Carlos Alberto Parreira, afirmou que a Copa do Mundo de futebol deverá repetir um fenômeno que já aconteceu com outro esporte, o Rúgbi, na superação temporária da barreira racial existente no país.

Parreira conta que tanto negros quanto brancos se unem em torno de um esporte, algo que aconteceu na Copa do Mundo de Rúgbi, em 1995, e que se repete agora, com o futebol. No entanto, Parreira comanda uma equipe quase exclusivamente negra. "Temos um branco apenas pois é o único com condição de jogar. Futebol aqui é esporte de preto."

Leia a seguir alguns trechos da entrevista concedida ao jornal paulistano no hotel em que a seleção sul-africana está hospedada, em Johannesburgo.

Você acha que a seleção pode ter a função de unir brancos e negros do país?

Carlos Alberto Parreira – Os brancos estão animadíssimos. Fui a um restaurante italiano que tem muito branco e fui aplaudido.

O que a seleção de futebol está fazendo o Mandela fez com o rúgbi em 1995. "Um esporte, um país." O que vai acontecer na Copa, não sei.

Estamos num grupo dificílimo. A seleção estava desacreditada. Agora, estamos nos unindo. Um jogo aqui é uma festa. A torcida é talvez a mais alegre do mundo.

Existe alguma questão racial no time?

Não. Temos um branco apenas porque é o único com condição de jogar. Futebol aqui é esporte de preto.

A África do Sul mostrará alguma evolução tática na Copa?

Nós não tínhamos uma cara. Quis dar uma identidade. Fiz questão de colocar a bola no chão. Parecia coisa de criança. Não somos iguais ao Brasil ou ao Barcelona, mas já temos um modo de jogar.

Não sei se o futebol aqui vai melhorar. Eles têm que investir na base para não ficar para trás. É uma das dez ligas mais ricas do mundo.

Você acompanhou a preparação da África do Sul para sediar a Copa de 2010. O que o Brasil precisa fazer para o Mundial de 2014?

O Soccer City [estádio principal de Johannesburgo, local da abertura e da final] foi demolido e fizeram essa beleza de estádio, o mais bonito do mundo. Porque é único. Os estádios estão iguais, todos têm arcos imensos.

Perdemos uma oportunidade de construir três ou quatro estádio novos. Tomamos a decisão de renovar três estádios de 60 anos. Perdemos uma oportunidade histórica. Aqui, fizeram quatro aeroportos modernos, construíram hotéis.

O futebol virou showbizz?

A gente fala da televisão, fala da mídia, dos comerciais. As empresas estão investindo. O futebol mudou. E está sobrevivendo com isso.

Se a televisão quer o jogo num horário, não se discute, ela está pagando, tem de jogar. Sem esse dinheiro não se vive. Tem que ser pragmático. E hoje os atletas ganham mais, jogam mais, têm mais responsabilidades, os prêmios são maiores.

Fonte: Folha de S.Paulo