Wagner Gomes: A chance desperdiçada por Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdeu nesta semana uma oportunidade gigantesca de deixar para trás mais um resquício dos governos tucanos. Seu veto ao fim do fator previdenciário mostra, mais uma vez, que a herança das políticas neoliberais no Brasil ainda está longe de ser superada.
Por Wagner Gomes*
Publicado 17/06/2010 14:48
Lula agiu corretamente ao avalizar o reajuste de 7,7% para os aposentados que recebem acima de um salário mínimo, mas penalizou todos os trabalhadores da ativa ao manter o fator previdenciário. Infelizmente, o presidente preferiu ouvir parte de sua equipe econômica ao invés de atender ao clamor das centrais sindicais e de outras forças progressistas da sociedade.
O discurso às vezes pode soar repetitivo, mas é sempre importante lembrar que, durante o governo Fernando Henrique, quando o fator previdenciário foi implementado, todos os partidos e entidades de oposição às políticas neoliberais foram contra esse artifício que tanto prejudica a classe trabalhadora. A CTB, desde sua base até sua direção executiva, não mudará de lado.
A leitura dos jornais e dos principais noticiários da internet nesta quarta-feira (16) é um claro indício de que Lula está errado. A chamada “grande mídia” atribui o reajuste dos aposentados a um caráter eleitoreiro, ao passo em que o veto ao fim do fator previdenciário passa praticamente sem ser citado. Para não elogiar a decisão de Lula, os jornalões optaram pela descrição. No final das contas, o item mais importante nessa discussão permaneceu inalterado, para felicidade geral do empresariado.
É preciso, no entanto, destacar que a concessão do reajuste de 7,7% mostra o caminho que deve ser perseguido pela classe trabalhadora. Sem a pressão exercida sobre o governo nos últimos meses, a derrota seria completa nessa campanha ao lado dos aposentados. Agora que uma conquista foi alcançada, devemos focar nossos esforços para que o mesmo aconteça com o fim do fator previdenciário.
Se nos anos1990 já foi importante essa manifestação de contrariedade a um instrumento que obriga o trabalhador a retardar sua aposentadoria, agora, com o país em uma nova fase, com grandes perspectivas de crescimento, não podemos cair em contradição. É preciso, com urgência, que o Brasil se livre de todas as amarras que impediram seu desenvolvimento nas duas últimas décadas. A CTB sabe de sua responsabilidade e irá até o fim nessa campanha. A luta, portanto, está longe de terminar.
*Wagner Gomes é presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)