Valton Miranda – Saramago

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Os deuses olimpianos eternizavam e imortalizavam transformando os entes extraordinários em estrelas. Saramago agora é uma estrela que olha o homem desde o infinito, depois de tê-lo olhado na Terra, investigando-o, descrevendo-o, amando-o, odiando-o e conhecendo a bestialidade e a grandeza de que é capaz.

A sua firme e decidida adesão ao marxismo não o tornou, como acontece frequentemente, o raivoso defensor sectário da classe humilhada, mas o literato que via a humanidade como Marx desejara, por meio da visão multicêntrica. O menino que herdou o nome de uma planta quase por acaso frutificou, dando à luz obras imortais.

No livro “O Evangelho segundo Jesus Cristo” trava polêmica com o cristianismo vulgar para mostrar a grandiosidade do verdadeiro santo, enquanto no “Ensaio sobre a Cegueira” denuncia a loucura na qual o homem mergulhou na desenfreada busca do ouro. O livro de contos “Objeto Quase” mostra a dimensão do fetichismo contemporâneo do capitalismo.

O prêmio Nobel pode ter sido concedido aos arranjos e desarranjos com que maneja habilmente a língua portuguesa, mas creio que na essência foi dado ao escritor que exprimiu, através deste extraordinário instrumento, o impasse contemporâneo em que o homem se encontra mergulhado.

PS: Veja também no blog o artigo de minha autoria (apresentado em congresso) com o título "A Cegueira Branca", sobre o livro "Ensaio sobre a Cegueira", de José Saramago.

Valton Miranda Leitão é médico psicanalista

Fonte: Blog do Valton Miranda

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