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Grécia: 6ª greve geral neste ano contra o pacote imposto pelo FMI

A Grécia está paralisada nesta terça-feira (29) em mais um enérgico protesto contra o pacote de arrocho imposto pelo governo social-democrata de George Papandreou a mando do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da cúpula da União Europeia. É a sexta greve geral realizada no país ao longo deste ano. Os serviços públicos operam precariamente e muitas atividades a cargo da iniciativa privada foram interrompidas.

Convocada pelas centrais sindicais que representam os trabalhadores do setor público (GSEE) e privado (ADEDY), a greve ocorre no momento em que o Parlamento grego debate novas e draconianas medidas contra a classe trabalhadora, apresentadas como moeda de troca ao “socorro” de 110 bilhões de euros mobilizados pelo FMI e União Europeia para evitar a moratória da dívida externa.

Interesses de quem?

Os gregos não verão a cor deste dinheiro que, conforme denunciaram os sindicalistas, vai direto para o bolso dos banqueiros na forma de pagamento dos juros. Agiotas franceses e alemães (maiores credores da Grécia) serão os principais beneficiários do pacote. A conta, salgada, foi apresentada aos trabalhadores e trabalhadoras com o discurso cínico de que não existe alternativa, os “interesses da pátria” estão em jogo e sacrifícios são inevitáveis.

A propaganda ideológica, de cunho claramente neoliberal, não convence o povo grego, que reage com redobrada indignação ao arrocho, ocupam as ruas quase que diariamente em defesa dos direitos sociais e querem que os ricos, em especial os bancos, paguem pela crise que, afinal, decorre da ganância e dos excessos da oligarquia financeira.

A Grécia vive uma típica crise da dívida externa, em muitos aspectos parecida com a que abateu o Brasil nos anos 1980 e nos cobrou pelo menos duas décadas perdidas. O papel do FMI no jogo não mudou, com receitas recessivas que visam preservar os lucros da banca internacional.

Ofensiva inédita

A pretexto de solucionar a crise da dívida, o governo desencadeou uma ofensiva inédita contra a classe trabalhadora. Primeiro, cortou salários e benefícios do funcionalismo público, aumentou impostos e ampliou a idade mínima para aposentadoria. Na sequencia, anunciou uma série de outras medidas cruéis para os assalariados.

O novo pacote trabalhista acaba com as convenções coletivas; reduz drasticamente o salário mínimo nacional, em especial para os jovens (que até os 21 anos terão direito a apenas 80% do piso); corta pela metade o valor das indenizações nas demissões; privatiza serviços públicos de saúde e educação e impõe novos retrocessos no direito previdenciário.

Guerra de classes

A secretária geral do Partido Comunista Grego (KKK), Aleka Papariga, considera que em resposta a tais medidas “o povo deve declarar guerra ao governo”. A crise, em sua opinião, é do próprio sistema capitalista. “Cortam as conquistas que restavam aos trabalhadores para dar um sopro de vida ao modo de produção capitalista que está ferido de morte”, ponderou a dirigente comunista.

“O capitalismo está obsoleto, podre e é parasitário. É incapaz de superar as suas contradições intrínsecas e por isso torna-se mais agressivo em relação à classe operária, aos auto-empregados, aos pequenos e médios empresários.”

Apelando à luta para “derrotar a política antipopular e os seus defensores”, Papariga declarou que é preciso “iniciar a luta para derrubar o poder dos monopólios. Basta de mentiras, o desenvolvimento do capitalismo só conduz a sacrifícios, sofrimentos, à exploração selvagem da juventude, a abandonar os idosos à própria sorte”.

Socialdemocracia dividida

O Partido Socialista liderado por Papandreou, identificado com a ideologia social-democrata e agora rendido ao neoliberalismo, enfrenta forte descontentamento em suas fileiras, ao lado da resistência das centrais sindicais.

"A GSEE e a ADEDY dizem não às reformas previdenciárias injustas, duras e antissociais", afirmam as duas centrais em comunicado. "Os trabalhadores e a comunidade exigem o fortalecimento, e não o enfraquecimento, de seus direitos sociais, de pensões, econômicos e trabalhistas."

Braços cruzados

Escritórios dos governos locais e central estão fechados, enquanto hospitais, serviços de ambulância e companhias estatais funcionam em esquema emergencial. O transporte na capital, Atenas, é sabotado por uma série de paralisações no transporte público, enquanto os serviços ferroviários estão suspensos pelo país.

Dezenas de voos domésticos foram cancelados, e os controladores aéreos em aeroportos menores, locais, cruzaram os braços. Os voos internacionais chegando e partindo de Atenas não foram afetados. Os jornalistas gregos também fazem parte da paralisação, com os programas de notícias da manhã tendo que reprisar programas alternativos.

Os trabalhadores dos portos, liderados pelo Partido Comunista, afirmaram que pretendem reduzir os serviços de ferry (balsa) nesta terça-feira. A decisão é tomada mesmo após uma corte local determinar que o protesto dessa categoria seria ilegal.

As duas centrais sindicais iniciaram um protesto em Atenas às 5h (de Brasília). A Frente Militante dos Trabalhadores (Pame), ligado aos comunistas, realizou uma manifestação na mesma hora. Os sindicatos esperam mobilizar mais de 2,5 milhões de trabalhadores.

Da redação, Umberto Martins, com agências