Produção industrial fica estável em maio, abaixo das estimativas
O resultado desmente os analistas que andam fazendo terrorismo com o suposto superaquecimento da economia nacional para justificar a alta dos juros. De janeiro a maio, a atividade aumentou 17,3%, ante igual período de 2009; maior alta acumulada desde 1991
Publicado 01/07/2010 14:49
A produção industrial ficou estagnada em maio em relação abril, na série com ajuste sazonal, segundo informações divulgadas nesta quinta-feira (1) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado veio abaixo do piso das estimativas dos analistas ouvidos pelo AE Projeções (0,95% a 2,50%), com mediana de 1,50%.
O técnico da coordenação de indústria do IBGE, André Macedo, destacou que o aumento de 17,3% na produção industrial no acumulado de janeiro a maio representa o maior resultado acumulado em cinco meses apurado pelo instituto desde o início da série histórica da pesquisa, em 1991.
Na comparação com maio do ano passado, a produção da indústria aumentou 14,8%. Nesse confronto, as expectativas variavam de 16,70% a 20%, com mediana de 17,70%. No ano, a produção industrial acumula alta de 17,3% e em 12 meses, de +4,5%.
Acomodação
A estabilidade na produção industrial deve ser vista como "uma acomodação", segundo avalia o técnico da coordenação de indústria do IBGE, André Macedo. "A indústria se encontra muito próxima do seu patamar mais elevado, que foi em março de 2010, e agora atinge uma acomodação", diz. Segundo ele, algumas atividades que mostraram pressões negativas em maio, identificadas sobretudo com bens de consumo semi e não duráveis, podem justificar o resultado de maio abaixo das projeções do mercado. "É preciso esperar os resultados seguintes para ter uma visão mais exata de como está se comportando o setor industrial", acrescentou.
Macedo cita, por exemplo, a paralisação técnica e programada em maio que atingiu o setor de refino de petróleo e álcool (que tem uma parte de sua composição, a gasolina, na categoria de semi e não duráveis), levando a uma queda de 4,6% nessa atividade em maio ante abril.
Outro exemplo, segundo Macedo, é a queda, também de 4,6%, na indústria farmacêutica no mesmo período, também vista como uma acomodação depois de vários meses de crescimento; há, ainda a queda de 1,7% na indústria de alimentos, que havia registrado quatro meses consecutivos de expansão em base mensal.
O índice de média móvel trimestral, que prosseguiu em crescimento (0,8%) em maio, mostra que a indústria prossegue com tendência ascendente, apesar de alguma desaceleração no ritmo de aumento desse indicador, segundo Macedo. "Percebemos o cenário atual do setor industrial como um período de acomodação", disse. O resultado do índice de média móvel trimestral mostra, contudo, uma desaceleração em relação aos índices de abril (1,3%) e março (2,0%).
Bens de capital é destaque
A produção de bens de capital, que sinaliza o desempenho dos investimentos, registrou aumento de 1,2% em maio ante abril e alta de 38,5% na comparação com maio do ano passado. Segundo Macedo, trata-se do 14º crescimento consecutivo ante o mês anterior.
"Talvez esse seja o grande resultado positivo de maio, em função da qualidade que os bens de capital trazem para a indústria, significando aumento de capacidade, ampliação do parque industrial", disse. Segundo Macedo, os bens de capital vem mostrando, nos últimos meses, desempenhos acima da média industrial, com aceleração no crescimento.
Na comparação com maio de 2009, a alta foi puxada por bens de capital para transporte (34,2%, com destaque para caminhões) e para uso misto (46,7%, com destaque para equipamentos para telefonia e produtos de informática), além de bens de capital para construção (154,7%), para uso industrial (33,6%) e agrícola (51,2%).
Na comparação com maio do ano passado, todas as categorias, além de bens de capital, registraram alta na produção: bens intermediários (15,8%); bens de consumo (7,5%); bens de consumo duráveis (15,4%) e semi e não duráveis (5,1%). No acumulado em 12 meses (0,8%) os bens de capital mostraram, em maio, o primeiro resultado positivo desde abril de 2009
Revisão de dados
O IBGE também divulgou uma pequena revisão, motivada pela introdução de novos dados na série com ajuste sazonal, no resultado da produção industrial de abril ante março, de -0,7% divulgados anteriormente para -0,8%. O resultado de março ante fevereiro ficou inalterado, mas houve revisão também no dado de fevereiro ante janeiro, de 1,5% apresentados anteriormente para 1,4%.
O resultado de maio sugere que a indústria tende a crescer num ritmo mais moderado no segundo semestre. O alto índice de expansão verificado até maio em relação ao ano passado, mais de 17%, apresentado falsamente por alguns economistas como um “crescimento chinês” que o Brasil não suporta, na verdade se explica em função da forte queda da produção industrial no primeiro trimestre de 2009, quando o Brasil estava em recessão. Só agora é que a indústria recuperou os níveis de produção pré-crise.
Com agências