Discurso de Javier cobra justiça para Catarina e Colombiano
Se depender dos comunistas, o assassinato do diretor tesoureiro do Sindicato dos Rodoviários da Bahia, Paulo Colombiano, e da secretária do PCdoB, Catarina Galindo, não cairá no esquecimento. Em discurso na Assembléia Legislativa da Bahia na tarde desta terça-feira (7/7), o deputado estadual Javier Alfaya prestou homenagens às vítimas e cobrou celeridade da polícia na apuração do crime e punição dos culpados. Confira a seguir a íntegra do pronunciamento.
Publicado 07/07/2010 17:56 | Editado 04/03/2020 16:20
“Senhora presidente, senhores deputados, senhoras deputadas, companheiros e companheiras representantes das comunidades indígenas do nosso Estado aqui presentes, demais companheiros que acompanham a sessão na tarde de hoje, imprensa da Bahia, senhoras e senhores, o que me traz à tribuna na tarde de hoje é, principalmente, a necessidade de registrar, com pesar mais ao mesmo tempo com muita crença na Justiça a ser feita aqui em nosso Estado, o assassinato, há 7 dias, de um companheiro e de uma companheira do meu partido, o PCdoB.
Trata-se de matéria bastante conhecida, de assunto bastante conhecido, porque a imprensa, através da televisão, através de rádios e jornais do nosso Estado, já divulgou muito o acontecido. Trata-se do companheiro Paulo Colombiano, dirigente, tesoureiro do Sindicato dos Rodoviários do Estado da Bahia e da companheira Catarina Galindo, que era uma grande colaboradora da administração do nosso partido, o PCdoB.
Tudo leva a crer, pelas primeiras impressões que a Polícia registrou e investigou, de que foi um crime de mando, isto é, um assassinato encomendado para ceifar a vida de um companheiro que tem uma trajetória muito conhecida e extremamente combativa no movimento sindical baiano, especialmente aqui na cidade do Salvador.
Conheci Paulo Colombiano quando eu era ainda líder estudantil, quando eu ainda não tinha sido eleito vereador, e o conheci muito mais de perto no meu primeiro mandato de vereador aqui na capital, porque ele era o líder dos funcionários da Transur, antiga empresa pública de transportes do município de Salvador, empresa vinculada pertencente à Prefeitura Municipal da capital. Naquela época, os rodoviários da Transur não eram afiliados a sindicatos rodoviários, tinham uma associação própria, uma entidade própria com uma representação sindical especial, porque eles eram tratados como funcionários públicos, na medida em que eram empregados de uma empresa pública do município de Salvador.
Posteriormente o companheiro Paulo Colombiano se vinculou à categoria dos rodoviários com a mudança na legislação que nós tivemos no país e com as mudanças que houve no próprio sistema de transportes da cidade do Salvador, e a extinção da empresa por decisão da Prefeitura e da Câmara Municipal do Município de Salvador.
De lá para cá Paulo sempre se manteve fiel a uma postura pessoal muito própria. Quem conheceu Paulo Colombiano sabe da sua integridade como liderança, sabe que ele não era daquele líder que vendia uma posição para negociar às escondidas o contrário ou algo muito diferente do que ele defendia. Se havia algum risco, não era o de cair na incongruência, mas o de cair numa postura de muita firmeza, quiçá até de intransigência, na defesa das suas posições.
E assim foi Paulo crescendo como liderança, como referência na categoria dos rodoviários, denunciando o que ele achava que eram medidas corruptoras dentro do movimento sindical, denunciando irregularidades e problemas no Sindicato dos Rodoviários, do ponto de vista dele. São posições públicas, defendidas em documentos de denúncias, em plataformas que concorreram a diversas eleições, de manifestações coletivas do grupo dele e de outros tantos companheiros e companheiras que, por vários motivos que cabem a eles decidir e defender, entravam em divergência com a linha política e a linha de atuação desse importante sindicato dos trabalhadores que tanta força tem no Estado, mas especialmente aqui na capital baiana. É uma categoria que, efetivamente, pode parar a atividade econômica do município, pode parar praticamente boa parte da vida social na nossa capital dada a sua abrangência, a sua força, a sua capacidade de reação diante da violência que ocorre dentro dos ônibus, diante da opressão que há dentro das empresas e diante da exploração salarial que as empresas promovem contra os trabalhadores.
Portanto, a história de Paulo foi sempre guiada por essa postura firme em defesa dos trabalhadores e trabalhadoras da categoria dos rodoviários. E assim chegou ao último pleito quando mais uma vez encabeçou uma articulação que organizou uma das seis chapas que concorreram à eleição do Sindicato dos Rodoviários. Depois de ter ocorrido muita polêmica, muita discussão e até intervenção na Justiça, aconteceu um segundo pleito. Paulo Colombiano, numa atitude de construção da unidade, juntamente com outras lideranças, fez um movimento de juntar três das chapas que concorreram à eleição e acabou assumindo a função-chave de tesoureiro no sindicato.
Nós, do Partido Comunista do Brasil – aqui assumo a palavra em nome da Direção Estadual e da Direção Nacional do Partido – temos absoluta confiança nas duas delegadas que presidem o inquérito. Trata-se da delegada titular da Delegacia de Homicídios e da titular da 6ª Delegacia, que corresponde ao bairro de Brotas aqui na capital. Esse trabalho, feito pelas duas delegadas, coordenado pelo doutor Joselito, que é o delegado-chefe da nossa Polícia Civil, acompanhado de perto pelo secretário César Nunes, que é o secretário da Segurança Pública, dá-nos confiança – a nós todos do PCdoB, à família de Catarina, irmãos e irmãs, e à família de Paulo Colombiano, irmãos e irmã – de que o trabalho não será interrompido por motivo algum. A Polícia Civil da Bahia mostrará toda a sua eficiência, sua competência, sua dedicação às causas públicas, às suas tarefas como instituição do Estado, portanto a máquina administrativa do Estado da Bahia, para que possamos não apenas fazer justiça com Catarina e Paulo Colombiano, mas pôr fim a esse absurdo que é qualquer tipo de assassinato. Mais absurdo ainda quando o assassinato é um negócio, quando alguém é contratado para encobrir ou garantir interesses de pessoas que seguramente estão envolvidas em ilícitos, estão envolvidas em ações não recomendáveis seja do ponto de vista da ética prevalente na nossa sociedade, seja do ponto de vista da legalidade que temos.
Por isso, nós, do PCdoB, manifestamos aqui nosso agradecimento ao empenho do companheiro, governador Jaques Wagner, pelo fato de ter orientado com toda clareza e vigor um bom trabalho da Polícia Civil. Esperamos que a polícia possa o mais rápido possível nos dar resultados positivos acerca da investigação, revelando não apenas quem foram os assassinos, os dois motoqueiros responsáveis pelo crime, mas principalmente os mandantes do crime, os que contrataram os pistoleiros e as razões que levaram a esses criminosos, muitos mais perigosos que os pistoleiros, a realizarem esse tipo de crime hediondo que a sociedade baiana não pode deixar passar em brancas nuvens. É necessário uma reação coletiva.
Peço também o envolvimento desta Assembleia para que ela, enquanto representação proporcional da sociedade baiana, possa colaborar, dar apoio a Polícia Civil, no sentido de que ela possa, de fato, realizar as suas tarefas com brilhantismo, com rapidez, com eficiência e com justiça.
Quero também manifestar a minha solidariedade ao companheiro Geraldo Galindo, presidente do PCdoB de Salvador, irmão da companheira assassinada, Catarina Galindo; à família do Galindo, também ao seu cunhado Ferraro que é o superintendente do Banco do Nordeste aqui na Bahia. É uma família que é conhecida pela sua dedicação, pela sua linhagem política, progressista, deputado João Carlos Bacelar, é uma família muito bonita pela sua dedicação ao meio intelectual, ao meio político. É uma família que tem professores universitários, gente que faz poesia, que gosta da arte, que gosta das relações humanas saudáveis, avançadas, progressistas.
Eu quero assim, de todo coração, mandar um abraço ao companheiro Geraldo Galindo, a toda sua família, a sua mãe que esteve, inclusive, ontem na homenagem que foi feita pelo 7º dia do falecimento dos dois, na missa que se realizou na Igreja N. Sª da Luz, na praça principal da Pituba aqui em Salvador.
Então fica aqui o nosso repúdio para que nunca mais aconteçam episódios como esses que vitimaram Catarina e Paulo Colombiano. Que o movimento sindical, se porventura estiver envolvido em alguma coisa, não mais caia nesse tipo de postura que caracteriza, deputada presidente, o sindicalismo deformado, mafioso, que ocorre não somente aqui no Brasil, mas também em outros cantos do mundo e que tão mal faz à luta operária, à luta sindical, dos trabalhadores e trabalhadoras. Fica aqui, portanto, o meu forte abraço às duas famílias e a nossa manifestação de confiança nas investigações esperando que elas venham a trazer resultados o mais rápido possível”.
Da redação local.