Sem categoria

Sorrentino: eleição, momento especial para trabalho organizativo

Na Comissão Nacional de Organização do PCdoB é um método valorizado o do planejamento estratégico. Em meio a múltiplas e complexas questões, o plano ajuda a não perder o foco e o tempo. Por isso é muito útil a todos examinarem o balanço apresentado, submetê-lo à crítica e extrair lições adequadas a cada local.

Por Walter Sorrentino*

O que se pode dizer, sintética e politicamente, desse primeiro balanço semestral do plano?

Logo de saída, que o partido cresce e eleva sua influência. O primeiríssimo ponto do plano político-organizativo do semestre era organizar a intervenção partidária para fazer frente à Conclat, à Assembleia dos Movimentos Sociais, ao Congresso da UJS e, particularmente, às convenções partidárias. Pode-se dizer que nesse ponto o partido foi nota dez. Dados gerais indicam a mobilização de 27 conferências estaduais em junho com 23 mil participantes, em atos políticos de grande monta e impacto na realidade política em cada caso. Os registros de ampliação de filiados, no TSE, tiveram um incremento de 18 mil novos filiados; na Rede Vermelha, 15 mil novos ingressos. O PCdoB lançou um candidato a governador, oito a senadores, mais de 130 candidatos a deputado federal e mais de 630 a estadual.

Depois, do ponto de vista mais organizativo propriamente dito, antes e acima de tudo podemos dizer que está bem compreendida a questão de governar o partido por meio de uma política de quadros. Os debates do 12º Congresso em torno do tema, universalizados a todo o coletivo, e a política avançada que conseguimos construir, galvanizou o partido.

Resta que é preciso diligentemente implantar os departamentos de quadros. Nacionalmente, isso caminha a contento, como se pode ver no balanço. Mas isso não se completa sem estender esse trabalho aos estados. Aqui há muita desigualdade entre eles, desde a experiência avançada da Bahia até estados que praticamente nem iniciaram esforços. Mas isso é indispensável e constitui a maior constatação e consequência do balanço: todos os estados precisam pelo menos estabelecer um(a) responsável pelo departamento de quadros e estabelecer um plano, mínimo que seja, em consonância com as diretivas nacionais. E atentar para o seguinte: na direção nacional, a responsabilidade com o DNQ recai sobre um membro do CC; por que o mesmo critério não está sendo aplicado na maioria dos estados?

Não custa lembrar: o zênite da exigência de política de quadros recai nos anos de conferências, como as de 2011; logo após a campanha precisamos já ter plantado os alicerces desse trabalho. Não se justifica dispersar esforços nem mesmo durante a campanha eleitoral. Partido maior, mais complexo, não fecha portas para tratar só de eleições. Há tarefas permanentes no partido, em sua condução e edificação; todas, sem exceção, se adaptam e visam à grande batalha eleitoral (aliás, esse é o ponto número 1 de nosso plano!), mas isso não significa dispersar ou claudicar no que é trabalho permanente. Organização e, em particular, a questão dos quadros se encaixa nessa condição.

Completo a observação com o seguinte comentário. A “metade de cima do partido”, ou seja, os quadros de maior responsabilidade, compreendem a política de quadros como exigência impostergável de real governabilidade do partido, projetando quadros de nível superior. Mas não a compreendem a contento no que respeita à “metade para baixo”, qual seja, a inadiável questão de formar em profusão quadros intermediários e de base que permitam nuclear mais e melhor a vida militante, regular desde a base e conferir com isso maior estabilidade militante ao partido.

Essa é a nossa segunda conclusão concentrada sobre o balanço: a questão da vida militante mais estruturada e estável em organizações mais bem definidas não ganhou, todavia, o coração e mente de nossas direções. Vamos encontrar essa preocupação aguda e incontornável exatamente nos quadros “da metade para baixo”, os que lidam mais diária e diretamente com a militância de base. Minha experiência não mistificada indica que o reclamo aí é geral, a aspiração profunda, e a saudação sincera às preocupações postas em pauta nos debates que estamos lançando. É neles que vamos precisar nos apoiar crescentemente.

Com uma variável para mim fundamental: não encontro da parte deles idealização ou ideologização artificial do tema. Ao contrário, eles estão mais afeitos a uma militância que se estendeu e ampliou, tem a cara do povo, faz “parte da paisagem” natural da vida dos brasileiros. Eles mesmos não pensam como nós há anos atrás: têm espírito mais prático e buscam resultados concretos em termos de organizar a militância. Esse anseio é uma alavanca importante para prosseguirmos nesse trabalho. O balanço para mim indica que ainda há muito a percorrer no caminho de militância mais estável, mas estamos no rumo certo. Não vamos perder essa batalha, desde que seja posta no foco da direção política e organizativa: pautas políticas, agendas definidas, quadros de apoio (intermediários e de base).

Extraio também um registro sobre o trabalho “regionalizado” da CNO. É a parte da experiência mais difícil de vingar. Porque exige vivência dos responsáveis e abertura dos partidos nos estados. Iniciamos a experiência, mas ainda voltada para “ambientar” os responsáveis no trabalho, o que resultou em pouco trabalho efetivo de controle de medidas pretendidas. Nem todos os integrantes agiram com suficiente convicção da importância de dar esse passo. Entretanto, os mais experientes me convenceram: vai ser necessário sim um controle especificamente organizativo, regular, sobre os 27 estados, com os projetos de organização nacionais. O trabalho da CNO regionalizada é parte disso. Numa próxima rodada de viagens podemos corrigir isso.

E por fim: tem sim que haver um Encontro Nacional de Organização pós-campanha. Com uma diferença: ele precisa alcançar os secretários de organização dos maiores municípios do país, reunir cerca de 400 a 500 quadros, para debater a vida militante do partido, a política de quadros voltada para o segmento intermediário e de base. Isso vai ser uma pequena revolução. E vai ser preparada, antecedida, estimulada, pelo portal da organização, que dá seus primeiros passos já em julho, não obstante o atraso. Aliás, ele vai ser fundamental para alcançar o público-alvo por excelência de todos nós que lidamos com a faina diária da organização: o militante, o quadro de base, o quadro intermediário. É para eles que precisamos falar, crescentemente.

Nosso roteiro é esse.

*secretário nacional de Organização do PCdoB