DF, expansão econômica e concentração de renda

O IPEA divulgou estudo mostrando a desigualdade social no país. Brasília é a campeã das desigualdades. Baseada nos levantamentos feitos pelo IPEA, a jornalista Conceição Freitas, do Correio Braziliense, fez o artigo abaixo reproduzido

A mais desigual

O mais recente estudo de desigualdade social divulgado pelo Ipea dá um bofete em Brasília, repetido bofetão: a capital da utopia é a unidade da federação mais desigual do país e é a única onde aumentou a distância entre ricos e pobres entre 1995 e 2008. A constatação levou Marcio Pochamann, presidente do instituto de pesquisa, a declarar no Correio de ontem: “O Distrito Federal é um caso singular. Foi um dos menores desempenhos em redução da pobreza. Aparentemente é um modelo de expansão econômica concentrador de renda”.

Irônica e tragicamente, o Distrito Federal foi a unidade da federação que apresentou maior crescimento econômico e ao mesmo tempo aquela onde houve menor distribuição de renda. Ou seja, não basta aumentar o Produto Interno Bruto, é preciso que ele cresça de modo menos perverso.

A Brasília projetada para um novo país, mais confiante em si, mais audaz, mais integrado, menos litorâneo, mais brasileiro, se perdeu nos projetos corporativos da casta do funcionalismo público, na ganância do empresariado e na falta de políticas públicas locais de proteção aos mais pobres.

A rigidez da concentração de renda se revela na ordenação espacial da cidade. É quilométrica a distância geográfica que separa os ricos dos pobres. Vivendo num arquipélago de contrastes sociais, o brasiliense é um ilhéu isolado em guetos de bonança ou de penúria. O brasiliense convive pouco ou quase nada com a diferença social — no máximo, entre a cozinha e a sala de jantar, nos semáforos ou nos estacionamentos. Brasília do Plano Piloto não conhece a Brasília das cidades-satélites, e elas, por sua vez, só vêm à área nobre para ganhar o de cada dia — ou para os shows na Esplanada, o território democrático da capital do país.
Brasília ainda espera por uma geração de brasilienses que seja capaz de pensar na cidade como um projeto coletivo. A nova capital do país caiu na própria armadilha. Juntou num mesmo território a elite política e a elite do funcionalismo público, expulsou os pobres para longe do Plano Piloto e fez (e continua a fazer, como revela o Ipea) a festa dos que correm atrás do primeiro milhão e depois dele em quantos milhões couberem no saco sem fundo da ambição.

Então, da próxima vez que nós, brasilienses, formos propagandear a alta qualidade de vida de que usufruímos, é melhor reduzir o tamanho da vantagem. A vida é boa para quem mora no Plano Piloto, Lago Sul, Lago Norte, em algumas outras áreas nobres e até mesmo em setores de classe média de algumas cidades-satélites, mas, não dá pra esquecer que existe um oceano de miséria ao nosso redor.

Brasília é uma cidade partida, entre a utopia e a realidade, entre o Plano Piloto e as cidades-satélites, entre ricos e pobres. Do ponto de vista da qualidade de vida do conjunto de seus habitantes, dos que moram nas 30 regiões administrativas, Brasília é a anti-Brasília.

Blog da Conceição, http://www.dzai.com.br/blogdaconceicao/blog/blogdaconceicao?tv_pos_id=63572