Farsa: A tática da direita para sobreviver

O desenvolvimento da campanha rumo à conquista de votos no dia 3 de outubro revela que o tucano Arthur Virgilio Neto, candidato à reeleição para o Senado, tem regionalizado a tática que a direita estabeleceu nacionalmente: de assumir a própria desmoralização e vender como suas as conquistas da base aliada do governo Lula, que tanto combateram nos últimos anos.

Para emplacar a eleição de José Serra à presidência da República, ou minimamente diminuir o vexame de uma derrota avassaladora, o PSDB adotou a postura de não contestar a plataforma que rende aproximadamente 90% de aprovação do governo Lula e também de evitar o comparativo entre as gestões de FHC e a do presidente operário. Do contrário, até eles mesmo votariam Dilma Roussef.

No estado, resguardada as particularidades, não tem sido diferente. Arthur evita o exagero de dizer que é amigo pessoal do presidente Lula – afinal foi até aqui a principal voz da direita para vociferar contra o ex-sindicalista e até o ameaçou de agressão física – mas busca se apropriar das conquistas emplacadas pelo campo progressista local.

Nesse roteiro, veicula peças publicitárias em outdoor, nas rádios e TV’s para legitimar sua suposta atuação em defesa do gasoduto Coari-Manaus e da Zona Franca de Manaus (ZFM). Chegou, inclusive, a visitar os servidores dos tribunais que estavam em greve recentemente. Daqui a pouco também dirá que é de esquerda.

A farsa é estratégica e tem por entendimento o azar de que na terra de ajuricaba o governo estadual e seus aliados conseguiram potencializar o programa mudancista que está em curso no Brasil inteiro. O saldo disso é a popularidade do ex-governador Eduardo Braga (PMDB), também candidato ao Senado, acima dos 80%. A de Lula nem se fala.

Nesse contexto, cavar um espaço e viabilizar-se como representante do retrocesso defendido e representado pelo PSDB é tarefa das mais complicadas.

A busca pela sobrevivência, no entanto, forçou que Arthur Virgilio Neto apresentasse a PEC, já aprovada com os votos da base de Lula, que garante a ampliação dos incentivos fiscais da ZFM. Certamente, para retirar o rótulo de que ele e Serra são o entrave da geração de empregos e do desenvolvimento do estado. E, principalmente, para reduzir a desvantagem eleitoral de 2006, que rendeu a Lula uma margem de quase 1 milhão de votos, superior a que o então candidato do tucanato Alckmin teve nas regiões sul e sudeste.

Mas será mesmo que isso é possível? Uma iniciativa isolada por si só é capaz de tirar do imaginário popular toda uma história de ataques deflagrados pelos mesmos personagens?

Objetivamente não. Afinal, periodicamente membros do PSDB põem na roda a extensão dos benefícios fiscais da ZFM para outras regiões do país. O que na prática provoca a migração das indústrias instaladas no Amazonas para os principais centros consumidores brasileiro. São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, principalmente. As últimas apunhaladas tem sido em cima do pólo de CD’s e DVD’s.

Durante seu mandato à frente do governo do estado de São Paulo, José Serra fez lobby para viabilizar projetos semelhantes.

Nos oito anos de FHC, idem. O Pólo Industrial de Manaus (PIM), à época, registrou o pico de aproximados 50 mil postos de trabalho. Na era Lula, já passou dos 100 mil. O gasoduto Coari-Manaus, que hoje Arthur se diz defensor, não recebeu um prego. Com Lula e Braga, já está concluído e em pleno funcionamento. Não sem antes o PCdoB, Eron Bezerra e Vanessa Grazziotin terem feito o esforço militante de brecar a iniciativa de entregá-lo ao capital privado internacional.

Desse jeito, está mais fácil as crianças confiarem em lobo mal do que o povo em Arthur e Serra!

De Manaus,
Anderson Bahia